ABC | Volume 113, Nº4, Outubro 2019

Artigo Original Francisco et al. Tabagismo e alimentação não saudável Arq Bras Cardiol. 2019; 113(4):699-709 2º e 3º tercil (14 pontos ou mais), criando-se uma variável dicotômica para alimentação não saudável (sim ou não). Portanto, a coocorrência foi mensurada a partir da presença simultânea de ambas as condições referidas. As variáveis consideradas no estudo foram: a macrorregião geográfica do país (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste), sexo (masculino e feminino), faixas etárias (18 a 39 e ≥ 40 anos), cor da pele/raça (branca, preta, amarela, parda e indígena), situação conjugal (com cônjuge e sem cônjuge), escolaridade (0 a 8, 9 a 11 e 12 ou mais anos de estudo) e posse de plano de saúde (sim ou não). As variáveis relacionadas ao comportamento e condições de saúde foram: índice de massa corporal (IMC) (< 25 Kg/m 2 , ≥ 25 a < 30 Kg/m 2 e ≥ 30 Kg/m 2 ), consumo abusivo de álcool, cinco ou mais doses em homens e quatro ou mais doses emmulheres numa única ocasião, nos últimos 30 dias (não ou sim), prática de atividade física (ativo e inativo) e autoavaliação da saúde (muito boa/boa, regular, ruim/muito ruim). Tanto o peso quanto a altura foram autorreferidos pelos entrevistados. A variável IMC foi calculada para todos os registros a partir da imputação das medidas de peso e altura pelo método hot deck 7 . Também foram consideradas as seguintes doenças: hipertensão arterial, diabetes mellitus e dislipidemias, todas categorizadas em sim ou não. Análise estatística Inicialmente foram realizadas as análises descritivas para caracterizar a população estudada. Para a variável contínua idade estimou-se a média e os respectivos intervalos de confiança de 95% e, para as demais variáveis categóricas, as frequências relativas percentuais. Foramestimadas as prevalências de tabagismo e alimentação não saudável, assim como a coocorrência de ambos os fatores, segundo variáveis sociodemográficas, outros comportamentos e condições de saúde. Foram verificadas as associações entre a presença dos fatores de risco simultâneos e as variáveis selecionadas pelo teste Qui‑quadrado de Pearson com correção de segunda ordem (Rao & Scott), considerando‑se um nível de significância de 5%. Em seguida, estimaram-se as razões de prevalência ajustadas por sexo e idade, segundo características sociodemográficas, comportamentos e condições de saúde. Utilizou-se um modelo de regressão hierárquico de Poisson considerando-sedois conjuntos de variáveis: as sociodemográficas e outros comportamentos/condições de saúde. Inicialmente, as variáveis do primeiro bloco foram inseridas no modelo e, em seguida, além das variáveis pertencentes ao primeiro bloco que mantiveram significância após ajuste pelas demais variáveis do mesmo nível hierárquico, acrescentaram-se as do segundo bloco. No modelo final permaneceram todas as variáveis que apresentaramvalor de p<0,05, quando ajustadas pelas variáveis do nível superior e domesmo nível hierárquico. Na análise desses dados foi utilizado o programa Stata 12.0. Os objetivos do inquérito foram apresentados aos indivíduos na ocasião do contato telefônico e o consentimento livre e esclarecido foi substituído pelo consentimento verbal. O estudo foi aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa em Seres Humanos, do Ministério da Saúde, sob Parecer nº 355.590 de 26/06/2013. Resultados A média de idade da população adulta brasileira foi de 36,4 anos (IC95%: 36,1-36,6), a maioria eram mulheres (53,0%) e adultos jovens (59,4%). A coocorrência dos fatores de risco considerados foi de 8,6% (IC95%: 7,9-9,3). Na Tabela 2 observam-se as prevalências de tabagismo e de alimentação inadequada e sua associação com as demais variáveis. Não foi observada associação entre tabagismo e IMC, atividade física, hipertensão, diabetes e dislipidemias (p > 0,05). Quanto à alimentação não saudável, todas as variáveis estiveram associadas, exceto plano privado de saúde (p = 0,102) e IMC (p = 0,196). Na análise simples observaram-se diferenças em relação às regiões do país, sexo, cor da pele/raça, escolaridade e plano de saúde (p < 0,05). Maiores prevalências foram observadas quanto ao consumo abusivo de álcool (p < 0,001) e autoavaliação da saúde (p < 0,001). Em relação à região Centro-Oeste, os indivíduos que residiam na Sudeste e Sul do país apresentaram maiores prevalências de ambos os fatores, o que também foi averiguado para aqueles que não possuíam plano de saúde, nos que consumiam álcool abusivamente e nos que referiram seu estado de saúde como regular, ruim ou muito ruim à época da pesquisa. Já entre os que viviam nas regiões Nordeste e Norte, nas mulheres, nos de cor da pele parda, naqueles com cônjuge e excesso de peso, a prevalência foi menor, após ajuste por sexo e idade. Também se observou tendência significativa de redução da prevalência de ambos os fatores com o aumento da escolaridade (p < 0,001) (Tabela 3). Na Tabela 4 é apresentado o modelo de regressão hierárquico de Poisson dos fatores associados à coocorrência de tabagismo e alimentação não saudável. Verificou-se menor prevalência de ambos os fatores na região Nordeste (RP = 0,67; IC95%: 0,54-0,83) e maior prevalência na Sul (RP = 1,40; IC95%: 1,11-1,77), em relação ao Centro-Oeste. A prevalência foi cerca de 40%menor nas mulheres, e também menor nos pardos e nos que vivem com cônjuge. Destaca-se a redução estatisticamente significativa com o aumento da escolaridade. Entre os indivíduos que não possuíam plano de saúde, a prevalência ajustada pela região de residência e demais variáveis sociodemográficas foi cerca de 16% maior (RP = 1,16; IC95%: 1,05-1,27). No que se refere aos comportamentos e condições de saúde, o excesso de peso associou-se inversamente à presença de ambos os fatores de risco. Os que consideraram sua saúde regular ou ruim/muito ruim apresentaram maiores prevalências e, observou-se forte associação independente e estatisticamente significativa entre os que referiram uso abusivo de bebidas alcoólicas para os fatores considerados (RP = 3,22; IC95%: 2,70-3,85). Discussão A coocorrência de tabagismo e alimentação não saudável foi de 8,6%. Em estudo realizado na Inglaterra com população de 16 a 64 anos, a simultaneidade de tabagismo e dieta inadequada, mensurada pelo consumo insuficiente de feijões, hortaliças e frutas, atingiu prevalências de 25,5% nos homens e 23,6% nas mulheres. 21 Neste estudo que considerou quatro fatores de risco relacionados ao estilo de vida, a prevalência de tabagismo foi de 28,0% e, o consumo 702

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