ABC | Volume 113, Nº4, Outubro 2019

Artigo Original Santiago et al. Prevalência e fatores associados à hipertensão Arq Bras Cardiol. 2019; 113(4):687-695 causar hipertensão e outras doenças cardiovasculares. 24 Estima-se que na década de 2000, 11% das mortes por doenças cardiovasculares no mundo foram atribuídas ao tabagismo, 25 sendo esse um importante fator de risco a ser trabalhado em programas e ações de promoção da saúde e prevenção de doenças. Outro importante aspecto relacionado à HAS é a composição corporal, especialmente no que concerne à distribuição da adiposidade, estando claro que o aumento do tecido adiposo visceral está diretamente associado a uma maior incidência da doença. 26 Uma das limitações do presente estudo é a não avaliação da distribuição da gordura corporal por meio de métodos de maior acurácia, como a quantificação do tecido adiposo visceral ou subcutâneo por tomografia computadorizada, 27 por exemplo. Entretanto, pesquisas apontam que indicadores como IMC e CC são boas ferramentas a serem utilizadas em estudos populacionais e que acréscimos nessas medidas representam aumento do risco de desenvolver HAS. 28-30 Assim, a associação positiva entre excesso de peso, avaliado através do IMC, e a HAS no sertão pernambucano chama atenção para a necessidade de uma maior e mais efetiva participação da educação alimentar e nutricional nas políticas e ações de promoção da saúde, bem como ummaior estímulo à prática de atividade física. Estratégias dessa natureza teriam maior efetividade no processo de transição nutricional que afetou o país 31 e que culminou em um crescimento de 26,3% do excesso de peso entre 2006 e 2016, segundo inquérito telefônico realizado pelo Ministério da Saúde do Brasil. 32 Ademais, a concomitância entre HAS, tolerância à glicose diminuída e/ou o diabetes mellitus reforça as evidências científicas que apontam a estreita ligação entre essas condições clínicas, as quais frequentemente se desenvolvem juntas e, muitas vezes, pelas mesmas vias metabólicas. 33 Uma análise da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 1998, 2003 e 2008 verificou, nesse período no Brasil, um crescimento de 1,7 para 2,8% do coeficiente de prevalência padronizado por sexo e faixa etária para o diabetes mellitus associado à HAS, especialmente no Nordeste e Centro-Oeste do país. 34 Tais informações apontam ainda mais para o grande problema que essas condições representam, especialmente em regiões como o nordeste e mesorregiões como o sertão. A ausência de associação entre HAS e consumo de álcool, nível de atividade física sedentário ou pouco ativo e o uso de sal de adição nos alimentos se mostrou um resultado inesperado, considerando que esses são fatores de risco tradicionalmente descritos para a doença em questão. 6 Tal paradoxo poderia ser atribuído ao efeito de causalidade reversa, o qual consiste na repercussão da doença sobre algumas mudanças comportamentais positivas por parte dos indivíduos, considerando que muitos deles já estavam cientes de sua condição de hipertenso nomomento da coleta de dados. Outra possível explicação para tais ausências de associação seria o tamanho amostral, uma vez que foi calculado para estimar apenas a prevalência da variável de desfecho, podendo isso ter limitado a robustez das subanálises. Além disso, vale destacar que a predominância observada para o sexo feminino no presente estudo pode se dever ao processo de amostragem realizado. O delineamento transversal também corresponde a uma importante limitação, o que não permitiu inferir causalidade, uma vez que as informações sobre exposição e desfecho foram coletadas no mesmo momento. Contudo, vale frisar a contribuição relevante em termos de conhecimento sobre a realidade epidemiológica da doença em questão na população investigada. Segundo Vianna e Segall-Corrêa, 35 iniciativas como a do presente estudo se fazem importantes e necessárias para obtenção de informações inéditas que podem ser utilizadas para comparações regionais, nacionais e internacionais, além de que, investigações desagregadas permitem conhecer melhor aspectos, peculiaridades e fatores de risco localizados que poderiam passar despercebidos em análises em unidades territoriais mais abrangentes, contribuindo, assim, para uma complementação na distribuição cartográfica da doença. Conclusão Aprevalência deHAS semostrou elevada e associada a fatores importantes como o avançar da idade, baixa classe econômica, tabagismo ativo, excesso de peso e tolerância à glicose diminuída e/ou diabetes mellitus. O contínuo monitoramento das DCNT, especialmente HAS, diabetes mellitus e obesidade, além de seus aspectos associados, é fundamental para o planejamento e a contínua melhoria dos programas e ações de saúde pública de forma geral, bem como para o delineamento de estratégias específicas para a região estudada. Agradecimentos À Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE) pelo apoio financeiro.  Contribuição dos autores Concepção e desenho da pesquisa: Santiago ERC, Oliveira JS, Leal VS, Lira PIC; Obtenção de dados: Leal VS, Lira PIC; Análise e interpretação dos dados: Santiago ERC, Diniz AS, Oliveira JS, Leal VS; Análise estatística: Santiago ERC, Andrade MIS; Obtenção de financiamento: Diniz AS; Redação do manuscrito: Santiago ERC; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Santiago ERC, Diniz AS, Oliveira JS, Leal VS, Andrade MIS, Lira PIC. Potencial conflito de interesses Declaro não haver conflito de interesses pertinentes. Fontes de financiamento O presente estudo foi financiado pelo Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco. Vinculação acadêmica Este artigo é parte de dissertação de Mestrado de Emerson RogérioCostaSantiagopelaUniversidadeFederal dePernambuco. 693

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