ABC | Volume 113, Nº4, Outubro 2019

Artigo Original Santiago et al. Prevalência e fatores associados à hipertensão Arq Bras Cardiol. 2019; 113(4):687-695 Introdução A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é considerada um grande problema mundial de saúde pública, sendo a condição clínica mais comumente encontrada na Atenção Primária à Saúde, 1,2 sendo responsável por, aproximadamente, 9,4milhões de mortes por ano no mundo. 3 Trata-se de, não apenas um dos maiores fatores de risco para outras doenças cardiovasculares, 2 como também de uma síndrome com manifestações e características próprias e de etiologia multifatorial. 4 Considerando dados do início da década de 2000, a prevalência mundial de HAS saltou de aproximadamente 25,9 para 31,1% da população adulta em 2010, o que representou um aumento de 5,2% nesses 10 anos. 5 Nos países desenvolvidos, à medida que nesse período foi verificada redução de 2,6% na prevalência da doença, nos países em desenvolvimento houve um acréscimo de 7,7%. 5 No Brasil, estudos compilando dados de algumas cidades apontam que a HAS acomete cerca de 30% dos adultos, o que corresponde a 36 milhões de indivíduos. 4,6,7 Ao verificar a distribuição da doença entre as diferentes regiões do país, observa-se que o Norte e o Nordeste apresentam prevalências menores de HAS em comparação às demais regiões. 8 No entanto, vale ressaltar que há certa escassez desse tipo de informação para o Norte/Nordeste, já que tais localidades concentram baixo número de pesquisas abordando a epidemiologia desse agravo. 9 O sertão brasileiro, especificamente, abrange extensões territoriais, sobretudo na região nordeste, que frequentemente sofrem com crises relacionadas aos longos períodos de estiagem e seca e isso, somado ao baixo desenvolvimento social e econômico da mesorregião, pode contribuir para o crescimento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). 10,11 A despeito disso, pouco se conhece sobre a epidemiologia da HAS e sua distribuição cartográfica em populações de cidades distantes dos grandes centros urbanos brasileiros e/ou mesorregiões como o sertão. Sendo assim e considerando a necessidade de informações como subsídio para melhoria e otimização dos serviços e ações de saúde pública, este estudo teve como objetivo estimar a prevalência e verificar os fatores associados à HAS em adultos do sertão de Pernambuco, Brasil. Métodos Estudo transversal, de base populacional, com adultos (20 a 59 anos de idade) de ambos os sexos, moradores dos domicílios situados na extensão territorial que abrange o sertão de Pernambuco. O processo de amostragem se deu por conglomerados. O estado de Pernambuco é subdividido em 12 das chamadas regiões de desenvolvimento (RD), sendo que 6 delas correspondem ao sertão. Dessas, foram sorteadas três RD e, em seguida, ummunicípio para cada RD, os quais foram: Serra Talhada (RD 4), Custódia (RD 12) e Belém de São Francisco (RD 1). Na etapa subsequente, houve sorteio de 5 setores censitários por município, com distribuição urbano/rural de acordo comdados do Censo de 2010, e por fim, 350 domicílios residenciais foram selecionados aleatoriamente como intuito de formar uma amostra representativa do sertão pernambucano. Compuseram a amostra todos os indivíduos moradores dos domicílios sorteados e presentes no momento da coleta de dados. Foramexcluídos aqueles que possuíam alguma limitação física que dificultasse a avaliação antropométrica, os portadores de doenças debilitantes e os que recusaram a participação no estudo. Todos os sorteios foram efetuados por meio de listas de números randômicos obtidas com auxílio do subprograma EPITABLE do pacote estatístico Epi Info, versão 6.04 (CDC/WHO, Atlanta, GE, USA). A pesquisa de campo foi realizada no período entre julho e setembro de 2015, tendo a equipe de pesquisadores passado por prévio treinamento com os instrumentos de coleta de dados. Houve, em seguida, a realização de um estudo piloto com 30 famílias em município não sorteado para a pesquisa, a fim de colocar em prática a logística do trabalho de campo e de testar os instrumentos de coleta. Para o cálculo do tamanho amostral, executado a posteriori , foramconsiderados: prevalência de HAS de, aproximadamente, 20% estimada para a região nordeste do Brasil, 8 erro amostral de 5%, nível de confiança de 95%, sendo aplicada por último uma ponderação por deff ( design effect = efeito de desenho), considerando que não se trata de uma amostra aleatória simples, mas por conglomerado, no valor de 1,5. No sentido de corrigir eventuais perdas, a amostra final foi acrescida em 10%, totalizando um mínimo de 410 indivíduos. Em relação ao perfil demográfico e socioeconômico, foram coletadas informações relativas às seguintes variáveis e suas respectivas categorias: sexo (masculino e feminino), idade em anos (20 a 29, 30 a 39, 40 a 49, 50 a 59), cor da pele (branca, parda/preta), escolaridade (nunca frequentou escola, ensino fundamental, ensino médio/ensino superior), situação laboral (trabalha, não trabalha) e local de moradia (zona urbana, zona rural). As informações que compuseram as variáveis supracitadas foram obtidas segundo recomendações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 12 Além disso, a variável classe econômica foi coletada e categorizada conforme o Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB), da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP), 13 em alta e média (A1, A2, B1, B2, C1, C2) e baixa (D, E). No grupo dos aspectos comportamentais foram incluídos: hábito de consumo de álcool (consome, não consome) nos últimos 30 dias da data de coleta; tabagismo ativo (fumante/ ex-fumante, nunca fumou); tabagismo passivo (sim, não), ou seja, indivíduos que não fumam ativamente, mas que ficam frequentemente em contato com fumaça de cigarro de outras pessoas em casa, no trabalho ou na escola/faculdade; e sal de adição na comida após preparo (nunca, às vezes/quase sempre). Também foi incluído o nível de atividade física, avaliado mediante questionário internacional de atividade física (IPAQ), validado no Brasil. 14 O instrumento permitiu a classificação dos sujeitos em sedentário/pouco ativo e ativo/muito ativo. 14 Os dados antropométricos foram coletados em duplicata e de acordo com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). 15 A massa corporal foi aferida em balança digital marca TANITA™, modelo BF-683 W; a altura, através de estadiômetro portátil da marca Alturaexata™; e a circunferência da cintura (CC), no ponto médio entre a última 688

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