ABC | Volume 113, Nº3, Setembro 2019

Minieditorial Minieditorial: Hipertensão Arterial em Populações Especiais: Um Desafio Epidemiológico Short Editorial: Hypertension in Special Populations: An Epidemiological Challenge Rui Póvo a Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP – Brasil Minieditorial referente ao artigo: Prevalência da Hipertensão Arterial Sistêmica em Comunidades Quilombolas do Estado de Sergipe, Brasil Correspondência: Rui Póvoa • Rua Professora Carolina Ribeiro, 221 Apto 91. CEP 04116-020, São Paulo, SP – Brasil E-mail: rmspovoa@cardiol.br Palavras-chave Hipertensão/epidemiologia; Hipertensão/prevenção e controle; Grupo com Ancestrais do Continente Africano/ genética; Fatores de Risco; Tabagismo; Alcoolismo. DOI: 10.5935/abc.20190180 A hipertensão arterial (HA) é a doença crônica mais prevalente em todo o mundo e o principal fator de risco da maioria das doenças cardio cerebrovasculares. 1 A verdadeira prevalência no Brasil ainda é desconhecida, e os dados que temos advêmdo Estudo Vigitel, onde as informações são obtidas por contato telefônico. Estima-se por volta de 31% a prevalência da HA no Brasil em indivíduos adultos. 2 Em recentes dados do Estudo Vigitel, a prevalência foi de 25,7% da população brasileira adulta. 3 O conhecimento da real prevalência e a distribuição geográfica é importante não só para medidas de prevenção e tratamento, mas também contribuir para o conhecimento da gênese da doença. Algumas populações, e em especial os indivíduos afrodescendentes, a HA apresenta características próprias desde prevalência, resposta terapêutica e gravidade. 4,5 O aspecto multifatorial da HA só é compreendido quando se avalia populações especiais em habitats e hábitos próprios, como no caso dos quilombolas, onde os indivíduos com ancestralidade negra ainda mantém algumas características genéticas e culturais da origem africana. 6 A análise neste contexto tem importância visto que podemos detectar aspectos próprios dos fatores relacionados com o desenvolvimento da HA. Neste estudo 6 a prevalência da HA nas comunidades quilombolas de Sergipe foi de 26%, relatando os autores que a média no estado é bem inferior (20,4%). 7 Entretanto os valores se assemelham em muito aos encontrados no Estudo Vigitel que tenta refletir a população brasileira. Em relação aos fatores de risco para a HA, nesta população com certo grau de vulnerabilidade, o estudo evidenciou hábitos de vida inadequados principalmente a inatividade física, o tabagismo e consumo de álcool. A quantificação do sal na dieta não foi precisa, pois são necessários exames mais complexos para se determinar os valores, e os autores justificam o fato pela própria limitação do estudo. 8 O conhecimento destes fatores de risco, tanto para a HA quanto para eventos cardiovasculares é importante para o planejamento de ações de saúde nestas populações de risco. Este trabalho 6 apresenta um valor epidemiológico bastante significativo, pois permite considerações sociais e extrapolação a outras comunidades quilombolas para uma intervenção de equipes de saúde para uma melhor prevenção cardiovascular. 1. Picon RV, Fuchs FD, Moreira LB, Riegel G, Fuchs SC. Trends in prevalence of hypertension in Brazil: a systematic review with meta-analysis. PLOS One. 2012;7(10):e48255. 2. Chor D, Ribeiro AL, Carvalho MS, Duncan BB, Lotufo PA, Nobre AA, et al. Prevalence, awareness, treatment and influence of socioeconomic variables oncontrolofhighblo odpressure:resultsoftheELSA-BrasilStudy.PLOSOne . 2015;10(6):e0127382. 3. Brasil.Ministério da Saúde.Vigitel Brasil 2016. Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico. [Internet]. [Acesso em 2019 abr 23]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/ publicacoes/vigitel_brasil_2016_fatores_risco.pdf 4. Kimura L, Angeli CB, Auricchio MT, Fernandes GR, Pereira AC, Vicente JP, et al. Multilocus family-based association analysis of seven candidate polymorphisms with essential hypertension in an African-derived semi- isolated Brazilian population. Int J Hypertens. 2012;2012:859219. 5. Musemwa N, Gadegbeku CA. Hypertension in African Americans. Curr Cardiol Rep. 2017; 19(12):129. 6. Santos DMS, Prado BS, Oliveira CCC, Almeida-Santos MA. Prevalência da Hipertensão Arterial Sistêmica em Comunidades Quilombolas do Estado de Sergipe, Brasil. Arq Bras Cardiol. 2019; 113(3):383-390. 7. InstitutoBrasileirodeGeografiaEstatística(IBGE).[Internet].Censodemográfico: características da população e dos domicílios. 2010. [Citado em 2013 jan 12]. Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/censo-demografico/ demografico-2010/universo-caracteristicas-da-populacao-e-dos-domicilios 8. Jacobson MF , Campbell NRC. Shaking out the truth about salt. J Clin Hypertens (Greenwich). 2019;21(7):1018-9. Referências Este é um artigo de acesso aberto distribuído sob os termos da licença de atribuição pelo Creative Commons 391

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