ABC | Volume 113, Nº3, Setembro 2019

Artigo Original Santos et al. Hipertensão arterial em comunidades quilombolas Arq Bras Cardiol. 2019; 113(3):383-390 Tabela 1 – Distribuição de variáveis demográficas e socioeconômicas em comunidades quilombolas do estado de Sergipe, Brasil, 2016-2017 Variáveis N % Idade 18 a 49 245 63 50 a 79 133 34 > 80 12 3 Sexo Feminino 282 72,31 Masculino 108 27,69 Cor/Raça Preta 150 38,46 Parda 209 53,59 Branca 31 7,95 Nível de escolaridade Analfabeto/Fundamental I incompleto 226 58 Fundamental I completo/Fundamental II incompleto 64 16,43 Fundamental II completo/Médio incompleto 50 12,83 Médio completo/Superior incompleto 45 11,54 Superior completo 5 1,20 Classificação econômica B2 5 1,28 C1 18 4,62 C2 69 17,69 D-E 289 76,41 idade e IMC. Para hipertensão arterial sistólica isoladamente, o único preditor estatisticamente significante foi a idade; já para hipertensão arterial diastólica, os preditores foram idade, IMC e, principalmente, classe econômica (Tabela 3). Por meio do modelo de regressão logística foi possível identificar a probabilidade de desenvolver hipertensão arterial mediante a elevação do IMC. Dentre os sexos, o feminino demonstrou maior representatividade. De acordo com a idade e o sexo, foi perceptível que, à medida que a população quilombola for envelhecendo, o número de hipertensos tende a aumentar, principalmente em relação ao sexo feminino (Figura 1). O teste deHosmer-Lemeshow indicou umbomajustamento/ calibração domodelo final (p=0,14). Para avaliar a capacidade de discriminação do modelo, a estatística C foi realizada por meio do cálculo da área sob a curva ROC, apresentando valor igual a 0,77, o qual foi considerado um valor satisfatório. Discussão A prevalência de HAS nas comunidades quilombolas de Sergipe (26%) foi elevada, quando comparada às estimativas da população geral (20,4%) do mesmo estado, 20 com faixas etárias semelhantes. Em concordância com estudos em população geral desenvolvidos no Brasil 21 e em outros países multirraciais, 22,23 a prevalência de HAS apresentou associação com o aumento da idade. A etnia negra demonstrou maior predisposição a rigidez arterial do que as demais etnias. 24,25 Embora a prevalência de hipertensão arterial tenha sido superior à da população geral, os presentes achados encontraram prevalência inferior à de outros estudos. 6,7 Essa diferença pode dever-se a questões metodológicas (tais como o número de medições e as condições em que se realizaram), variações regionais (por exemplo, no consumo de álcool e na ingesta de sódio) ou mesmo questões étnicas ainda não esclarecidas, fora do escopo deste estudo. No presente estudo, não foi observada diferença significativa na ocorrência de HAS ou em subclassificações (sistólica e diastólica) em relação ao sexo dos quilombolas. Este dado contrapõe-se ao encontrado na literatura no âmbito das populações geral 26 e quilombola. 27 Em relação às variáveis modificáveis, o IMC elevado foi um dos principais preditores associados à hipertensão arterial. Estudos transversais apresentaram esse mesmo tipo de associação e os malefícios à saúde da população quilombola, 3 cujos hábitos de vida inadequados podem ser reflexo dos baixos poder aquisitivo e escolaridade. 28 386

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