ABC | Volume 113, Nº3, Setembro 2019

Artigo Original Santos et al. Hipertensão arterial em comunidades quilombolas Arq Bras Cardiol. 2019; 113(3):383-390 Em seguida, foram realizadas três medições da pressão arterial (com intervalo de um minuto entre cada aferição). Utilizou-se um esfigmomanômetro aneroide com braçadeira de náilon com fecho metálico, da marca Welch Allyn, modelo DuraShock™ DS44 (Welch Allyn, Curitiba, Brasil), validado internacionalmente. As aferições foram realizadas ao final da entrevista. Noposicionamentopara aferição, os indivíduos permaneciam sentados, com as pernas descruzadas, os pés apoiados no chão, com o dorso recostado na cadeira e relaxados. O braço esquerdo dos indivíduos era posicionado para aferição, seguido do membro superior direito. A terceira aferição ocorria no membro que apresentasse valor mais elevado, apoiando sempre o braço sobre a mesa, à altura do coração. Para análise, foi realizada a média das três aferições, que corresponderam aos critérios da pesquisa, sendo considerados hipertensos os indivíduos que apresentaram pressão arterial sistólica ≥ 140 mmHg e/ou pressão arterial diastólica ≥ 90 mmHg. 9 Foram adotadas essas medidas mais conservadoras devido à realização das três aferições da pressão arterial em um único dia. Desta forma, não foi adotada a classificação da American Heart Association. 18 Para avaliar as medidas antropométricas (peso e altura), foi realizado o cálculo do índice de massa corporal (IMC [kg/m 2 ]). O valor do IMC encontrado foi categorizado de acordo com as seguintes medidas: baixo peso, < 18,5 kg/m 2 ; peso normal, 18,5 a 24,5 kg/m 2 ; sobrepeso, 25 a 29,9 kg/m 2 ; obesidade grau I, 30 a 34,9 kg/m 2 ; obesidade grau II, 35 a 39,9 kg/m 2 ; e obesidade grau III, > 40 kg/m 2 . 19 Análise estatística Variáveis categóricas foram apresentadas em número absoluto e porcentagem. Variáveis contínuas foramapresentadas em média e desvio padrão. A fim de produzir estimativas robustas independentes do padrão de distribuição das variáveis, alguns testes foram especificamente adotados. As comparações entre variáveis contínuas e dois grupos foram realizadas mediante o teste t de Student não pareado, com ajuste para heterogeneidade de variância e graus de liberdade pelo método de Satterthwaite. Comparações entre variáveis contínuas e mais de três grupos foram estimadas pelo teste de Kruskal-Wallis. Diversos modelos de regressão logística para HA foram aplicados, partindo da escolha de preditores com valores de p < 0,20 na análise não ajustada. Avaliou-se o potencial incremento do modelo após inserção de termos quadráticos e interação de preditores. Nas comparações entre os valores de prevalência elevados nas comunidades quilombolas e na população geral, utilizou-se o teste de adequação de ajuste para qui quadrado. Com o intuito de ajustar a análise para diferenças entre grupos e potencial de heterocedasticidade das comunidades quilombolas, utilizou-se o método de Huber-White para estimativas robustas de erro padrão para aglomerados ( clusters ), de acordo com as 15 comunidades. A estimativa do “tamanho do efeito” foi apresentada em odds ratio com IC 95%. O teste de Hosmer-Lemeshow e a estatística C (área sob a curva característica de operação do receptor, ou curva ROC) foram utilizados para avaliar a calibração e o potencial de discriminação do modelo, respectivamente. Considerou-se critério de significância estatística um valor de p bicaudal < 0,05 e empregou-se o programa Stata ® , versão 15.1 (Stata Corp, College Station, TX, EUA), para a análise de dados. Resultados Participaram da pesquisa 408 voluntários; destes foram excluídos 18, entre eles quatro por relatarem estar gestantes e 14 por terem ingerido bebidas alcoólicas. Foram considerados elegíveis 390 indivíduos, sendo 72,3% mulheres e 27,7% homens. Não ocorreram dados faltantes. A idade variou entre 18 e 101 anos, com média igual a 44,7 ± 19 anos. A cor da pele foi relatada seguindo o padrão autorreferido do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o qual indicou que 50% dos indivíduos eram da cor parda. O nível de escolaridade que mais prevaleceu foi analfabeto/fundamental I incompleto (58%). No âmbito econômico, as classes D e E obtiveram maior representatividade (76,41%). A Tabela 1 apresenta as frequências das principais características sociodemográficas das comunidades quilombolas estudadas. A HAS apresentou prevalência de 26% (IC 95%: 22 a 30), a hipertensão arterial sistólica de 22% (IC 95%: 18 a 26), e a hipertensão arterial diastólica de 16% (IC 95%: 12 a 20) dos casos. Foi realizado um teste de qui quadrado para comparação entre a prevalência da HAS nas comunidades quilombolas e na população geral sergipana (20,4%), 8 tendo as comunidades quilombolas apresentado prevalência significativamente superior (p = 0,0071). A média de convivência com a HAS nos indivíduos com o diagnóstico prévio foi de 9,59 anos (desvio padrão = 8,66). O diagnóstico da doença foi realizado com idade mínima de 18 anos e máxima de 55 anos. Não houve diferença significativa entre as subclassificações da pressão arterial de acordo com os sexos. A pressão arterial sistólica apresentou, no sexo feminino, média igual a 125,35 mmHg (IC 95%: 122,7 a 127,9), enquanto no sexo a média foi igual a 129,53 mmHg (IC 95%: 125,3 a 133,7); p = 0,09. A pressão arterial diastólica estimada para o sexo feminino obteve média igual a 78,88 mmHg (IC 95%: 77,1 a 80,6); já para o sexo masculino apresentou média de 78,57 mmHg (IC 95%: 76,3 a 80,7); p = 0,83. Entre as variáveis comportamentais que foram relatadas pelos participantes, destacaram-se os seguintes percentuais: ser tabagista, 37,18%; ter hábitos de ingerir bebidas alcoólicas, 60,77%; e ser fisicamente inativo, 44,10%. Os participantes responderam que consumiam alto teor de cloreto de sódio (sal) diário nas refeições (17,69%). Em relação à medida antropométrica, cerca de 60,01% da população apresentou-se com sobrepeso ou obesidade graus I, II e III, havendo menor número de indivíduos com peso normal (37,17%) (Tabela 2). Na análise de regressão logística univariada, os fatores de risco que apresentaram associação com a hipertensão arterial foram o tabagismo (p = 0,02) e o IMC (p = 0,04). Na análise multivariada, as razões de chances com significância estatística para hipertensão arterial foram encontradas para os preditores 385

RkJQdWJsaXNoZXIy MjM4Mjg=