ABC | Volume 113, Nº3, Setembro 2019

Artigo Original Dalmazo et al. Estresse na hipertensão Arq Bras Cardiol. 2019; 113(3):374-380 Introdução Estresse é qualquer força ou experiência que rompe o equilíbrio psicológico, portanto homeostático de um organismo, pois ativa uma cascata de reações em cadeia que aumentam o fluxo sanguíneo, através da liberação de adrenalina pelas glândulas suprarrenais e estimulam a taquicardia, dilatação dos vasos sanguíneos dos músculos e do cérebro e contraem os vasos sanguíneos que irrigam os órgãos da digestão. 1 De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o estresse afeta mais de 90% da população mundial e cerca de 70% dos brasileiros. Oestresse é uma situação especial onde pode ocorrer o desenvolvimento de alterações pressóricas consideráveis. 2,3 A exposição ao estresse pode provocar alterações qualitativas e quantitativas no padrão alimentar. 4 Atualmente há uma maior disponibilidade e facilidade para o consumo de alimentos hiperpalatáveis. São os quais possuem uma densidade calórica elevada e ricos em gorduras e açúcares, propiciando não só o ganho de peso, mas também contribuindo para o aumento das doenças crônicas não transmissíveis. Na maioria das vezes o estresse promove um aumento do consumo deste tipo de alimento, consequentemente diminuindo a ingestão de frutas e vegetais. 5 A alimentação emocional poderá estar relacionada com alterações comportamentais e metabólicas da resposta ao estresse. 4,6 O efeito do estresse na alimentação parece modificar o metabolismo de vários nutrientes, tais como vitaminas do complexo B, vitamina C, cálcio, magnésio, ferro e zinco. 7,8 Além disso, quando o estresse acomete o indivíduo, há uma tendência de negligenciar a dieta, agravando condições patológicas pela ingestão inadequada de nutrientes. Dentre as deficiências nutricionais, destaca-se a deficiência de minerais, que está ligada a uma grande variedade de disfunções metabólicas. 8 Se o estresse é contínuo e intenso, além de gerar prejuízo para o sistema endócrino e imunológico, 9 poderá levar a alterações no metabolismo de lipídeos, da pressão arterial, dos batimentos cardíacos, ao maior consumo de oxigênio pelo miocárdio e como consequência, redução do ritmo cardíaco diminuindo a resistência vascular periférica. 6 Progressivamente esses problemas levam ao aumento de doenças cardiovasculares. 10,11 Há evidências de que o grande fator desencadeante da hipertensão arterial é exatamente a tensão exercida em momentos de estresse e ansiedade que alteram toda a configuração hormonal e sistemática do organismo. 7 Desta forma o objetivo do presente estudo foi avaliar a relação entre estresse, escolhas alimentares e consumo alimentar em pacientes hipertensos. Métodos Trata-se de um estudo transversal, desenvolvido no Ambulatório de Hipertensão Arterial do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul, com coleta de dados realizada entre 2013 e 2015. Foram incluídos no estudo pacientes hipertensos, de ambos os gêneros, com idade superior a 18 anos, oriundos de Unidades Básicas de Saúde, com hipertensão não controlada, em uso de drogas anti‑hipertensivas e com diagnóstico médio de hipertensão de cinco anos. Os critérios de exclusão foram pacientes com hipertensão arterial secundária, cardiopatia congênita, cirúrgicos e infarto agudo do miocárdio comprovado pelo prontuário clínico. O fluxograma dos pacientes convidados a participar do estudo encontra-se descrito na Figura 1. Para a obtenção do número amostral para realização do estudo, realizou-se o cálculo com o poder de 80%, nível de confiança de 95% e uma correlação esperada de r = 0,25 entre as fases do estresse e o consumo alimentar, totalizando uma amostra composta por 97 pacientes. 12 Os pacientes foram convidados a participar do estudo após a explanação dos objetivos, justificativa e métodos que seriam empregados na coleta de dados. Após o aceite, os pacientes assinaram duas vias do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do IC/FUC, sob o nº 4843/13. Cabe salientar que o protocolo do estudo cumpriu com todas as diretrizes éticas preconizadas pela Conselho Nacional de Saúde. A coleta de dados ocorreu nas dependências do Instituto de Cardiologia durante as consultas agendadas no ambulatório multidisciplinar da Hipertensão Arterial Sistêmica, durante uma única consulta. A coleta de dados foi realizada por profissionais capacitados. Foram coletadas variáveis de idade, gênero, níveis pressóricos, antropometria, consumo alimentar e sintomas de estresse. A aferição dos níveis pressóricos foi realizada pelo enfermeiro da equipe, conforme o método descrito na VII Diretriz Brasileira de Hipertensão. 2 As medidas antropométricas foram aferidas pelo nutricionista, onde foram coletadas as variáveis de peso e estatura, com auxílio de uma balança antropométrica, da marca Welmy®, com capacidade de 200 kg e com régua antropométrica acoplada de até 2 metros. Para a pesagem, todos os pacientes foram orientados a ficarem descalços a retirar objetos dos bolsos, relógio e roupas em excesso. O paciente foi colocado em pé, no centro da plataforma da balança, com os braços estendidos ao longo do corpo. Na verificação da estatura, ao subir na balança, o paciente manteve-se descalço e em posição ereta, com a cabeça erguida, braços pendentes ao lado do corpo, calcanhares e dorso encostados no plano vertical da haste. Em sequência, orientou-se para que o paciente não se encolhesse, quando a haste encostasse na cabeça, cujo apoio desta se mantivesse sobre o couro cabeludo evitando apenas o contato sobre o cabelo. Com os dados de peso e altura foi calculado o índice de massa corporal (IMC) e foi adotado os seguintes pontos de cortepara adultos: Baixopeso<18,5kg/m 2 ; Eutrofia 18,5 - 24,9 kg/m 2 ; Sobrepeso 25 - 29,9 kg/m 2 e Obesidade ≥ 30 kg/m 2 . 3 Para idoso foi utilizado, Baixo peso: < 22 kg/m 2 ; Eutrofia: 22 – 27 kg/m 2 e Excesso de peso: > 27 kg/m² conforme Lipschitz (1994). 13 Para avaliação qualitativa do consumo alimentar foi aplicado o questionário de frequência alimentar adaptado de Ribeiro et al., 14 a fim de analisar a frequência de consumo dos alimentos. A interpretação do referido questionário foi conduzida através da estratificação dos grupos alimentares consumidos, sendo avaliados os seguintes grupos: alimentos ultraprocessados, alimentos in natura, ricos em carboidratos, proteínas e lipídeos. 375

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