ABC | Volume 113, Nº3, Setembro 2019

Artigo Especial Oliveira Filho et al. Paralímpicos – adendo à atualização da diretriz em cardiologia do esporte e do exercício da SBC e da SBMEE Arq Bras Cardiol. 2019; 113(3):339-344 Tabela 2 – Protocolos para testes cardiopulmonares em atletas paralímpicos (Centro de Estudos em Fisiologia do Exercício – Unifesp/Escola Paulista de Medicina) 8 TE para cadeirantes (em cadeira de rodas) em esteira rolante Velocidade inicial de 3 a 13 km/h, inclinação inicial de 0 a 2%, com incrementos de 0,5 a 1,0 km/h e de 0,5 a 1,0%, a cada 3 minutos TE em esteira Velocidade inicial de 3 a 8 km/h, inclinação inicial de 0%, com incrementos de 0,5 a 1,0 km/h e de 0,5 a 5,0%, a cada 3 minutos TE em bicicleta ergométrica Carga inicial de 25 a 50 watts e incrementos de 25 watts a cada 3 minutos TE em bicicleta-rolo Velocidade inicial de 30 a 33 km/h e incrementos de 3 km/h, a cada 3 minutos TE em ergômetro de braços: Carga inicial de 25 a 37,5 watts e incrementos de 5 a 25 watts a cada 3 minutos TE: teste de exercício Cuidados especiais devem ser tomados em relação ao tipo e grau de deficiência, à postura do atleta, à temperatura ambiente, ao esvaziamento vesical prévio, à prevenção de hipotensão, ao risco de crises convulsivas e acidentes, às aferições da pressão arterial e ao velamento adequado das máscaras. Inúmeros fatores podem limitar o desempenho nas avaliações: 1) clínicos: deficiências intelectual e sensorial (visual, táctil, auditiva), epilepsia, disreflexia autonômica, bexiga neurogênica, deprivação simpática, síndrome pós-pólio, taquipneia de esforço, desnutrição; 2) locomotores: redução da massa, força e flexibilidade musculares, aumento do tônus muscular, redução da mobilidade articular, incoordenação motora, lesões osteoarticulares secundárias às práticas desportivas, lesões de cotos de amputação; 3) cardiovasculares: eventuais afecções associadas; 4) fisiológicos: redução do VO 2 pico, limiar anaeróbio, ponto de compensação respiratório, fadiga precoce, inatividade física; 4) socioeconômicos e culturais: exclusão social, falta de patrocínio. 8 Segundo o princípio da especificidade, tem-se utilizado ergômetros de braços para tenistas, arremessadores, halterofilistas, esgrimistas e nadadores, bicicleta para ciclistas e esteira para as demais modalidades; 8 ciclistas podem utilizar o equipamento próprio acoplado ao sistema Mag 850 Minoura 180 (grau de recomendação: I, nível de evidência: C). Os atletas devem ser motivados para que se possa atingir o “real” esforço máximo. Portadores de paralisia cerebral e de deficiência mental necessitam de explicações prévias detalhadas sobre os testes, pela inerente dificuldade de entendimento. Pode-se realizar os primeiros exames do dia com atletas já avaliados em outras oportunidades permitindo-se aos iniciantes assistir e entender a execução e os objetivos do teste. 17 Algumas precauções devem ser observadas. Em portadores de paralisia cerebral há predisposição para a ocorrência de acidentes (quedas), nos testes em esteira rolante, devido a incoordenação neuromuscular, especialmente em velocidades mais altas. Em alguns casos, deve-se fazer os incrementos de carga às custas de inclinação e não de velocidade. Devido à movimentação involuntária facial ou angulação mandibular muito aguda, pode não ocorrer um adequado velamento nas máscaras ou bocais e “escape” na captação dos gases. Deficientes visuais necessitam manter, na maioria dos casos, algum contato das mãos com o corrimão da esteira (sem se apoiarem), e receber orientação verbal sobre sua biomecânica e situação espacial. Em alguns casos utilizam-se “cintos” de segurança, presos à sua cintura e ao corrimão frontal da esteira. 17 Os testes cardiopulmonares podem ser executados por inúmeros protocolos específicos, citando-se como exemplo o resumido na Tabela 2. O protocolo de Knechtle e Köpfli 18,19 (Institute of Sports Medicine, Swiss Paraplegic Centre) para teste em esteira em cadeirantes inicia com velocidade de 8 km/h e inclinação de 1%, com incrementos de 0,5%, a cada 2 minutos e velocidade constante até exaustão. 18,19 Testes de campo também podem ser realizados com vantagens. 20 Variações entre 48% e 80% foram descritas nas equações de regressãopara determinaçãoda capacidade física em paraplégicos e tetraplégicos. Essas variações podemser explicadas pelo nível e grau de lesão medular, idade, gênero, atividade física e peso corporal. Em nosso meio, os valores referentes à potência aeróbia de atletas paralímpicos têm sido semelhantes (Tabela 3). 21 A avaliação pré-participação para atividades de lazer é semelhante, em função do estresse físico e mental. Emmuitas ocasiões, dada a carga emocional envolvida e o menor nível de treinamento, o estresse físico e psicológico pode ser de grande intensidade, de grau semelhante ao relativo às competições. Prevenção de eventos/morte súbita em esportes A prevenção de eventos deve incluir a prevenção de acidentes, de agravamento das lesões e comorbidades preexistentes e da morte súbita. Os objetivos de um protocolo de prevenção de eventos em esportes baseiam-se no rastreamento pré-participação: 1. Identificar condições predisponentes, ou seja, doenças cardiovasculares que potencialmente podem causar morte súbita; 2. Definir se há medidas que podem ser tomadas para reduzir o risco de morte súbita: Quais são? Como devem ser desenvolvidas? 3. Padronizar a conduta a ser adotada em cada cardiopatia e discutir a eventual desqualificação do atleta do exercício de sua profissão. A prevenção de eventos e morte súbita em esportes e lazer é realizada levando-se em conta o diagnóstico precoce e tratamento das afecções cardiovasculares, bem como a aplicação dos critérios de ineligibilidade vigentes devidamente, aplicados aos atletas paralímpicos. 23 Torna‑se imperioso que nos locais de competição existam recursos médicos e paramédicos, devidamente equipados, para atendimento de emergências. 341

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