ABC | Volume 113, Nº3, Setembro 2019

Artigo Especial Oliveira Filho et al. Paralímpicos – adendo à atualização da diretriz em cardiologia do esporte e do exercício da SBC e da SBMEE Arq Bras Cardiol. 2019; 113(3):339-344 paratletas em técnicas mentais para manuseio do estresse e consequente melhora do desempenho esportivo. 7 Avaliação cardiológica: pré-participação e reavaliações Todos os atletas paralímpicos devem ser submetidos a avaliação independente de idade, sexo e deficiência associada; a avaliação pré-participação deve incluir crianças, adolescentes, adultos, master /idosos; homens e mulheres, sob responsabilidade exclusiva do médico assistente (grau de recomendação: I, nível de evidência: C). A avaliação deve ser global, levando em consideração o organismo como um todo, salientando-se os aspectos físicos e somáticos; deve-se ter em mente as interações entre deficiências físicas, comorbidades, e respectivas sequelas no treinamento físico e desempenho esportivo (grau de recomendação: I, nível de evidência: C). A periodicidade das reavaliações deve ficar a critério do médico assistente, segundo as características de cada caso, com a finalidade precípua da prática do esporte seguro (grau de recomendação: I, nível de evidência: C). A avaliação dos atletas paralímpicos obedece a protocolo definido, resumido na Tabela 1. Após a avaliação inicial, segundo os achados, devem ser indicados exames especializados, a critério do médico assistente, tais como teste cardiopulmonar (TCP), ecocardiograma (ECO), vetorcardiograma (VCG), tomografia computadorizada, ressonância magnética, ultrassom, eletroforese de hemoglobina (pesquisa de anemia falciforme) e avaliações cardiológica, oftálmica (pesquisa de Marfan, glaucoma, descolamento de retina) e ortopédica 8,9 (grau de recomendação: I, nível de evidência: C). Em atletas com paralisia cerebral pode-se utilizar o escore de avaliação de espasticidade (QSFC quantitative sports and functional classification ), baseado nas condições musculares de membros superiores, inferiores e tronco, para uso em investigações clínicas, tratamento clínico e treinamento físico. 10 Atletas cadeirantes e portadores de próteses devem ser seguidamente e minuciosamente examinados para detecção de escaras de decúbito ou escaras no coto de implantação da prótese. A presença de ulcerações nesses locais torna o atleta temporariamente inelegível, até que sejam restauradas as condições locais do tegumento (grau de Recomendação: I, nível de evidência: C). A prática de retenção urinária em cadeirantes deve ser proscrita, dado o risco de grandes elevações de pressão arterial e acidente vascular cerebral. Nos casos de bexiga neurogênica deve-se atentar à presença de infecções urinárias subclínicas. A ocorrência de coração de atleta em paralímpicos, considerando-se a presença de dois ou mais sinais, atingiu 46% dos casos. Sinais de coração de atleta ocorreram em 33% dos exames clínicos (sopros e estalidos), em 55% dos eletrocardiogramas (bradicardia, bloqueio incompleto de ramo direito, sobrecargas, alterações de onda T), em 15% dos vetorcardiogramas (sobrecargas), em 5% dos ecocardiogramas (dimensões cavitárias acima do habitual). Os sinais ocorreram em 51% dos atletas, sendo que em 46% dos casos havia 2 ou mais sinais e, em 12%, 4 ou mais sinais. O TE foi normal em 77% dos atletas; não houve ST isquêmico. Em 23% dos casos houve bloqueio divisional direito. 11 Descreveram-se as seguintes alterações de ECG, classificadas como ECG de atleta em paralímpicos: alteração primária da repolarização ventricular, 6%; bloqueio atrioventricular de primeiro grau, 2%; bradicardia sinusal, 6%; bloqueio da divisão ântero-superior do ramo esquerdo do feixe de His, 2%; perturbação da condução do ramo direito do feixe de His, 14%; repolarização ventricular precoce, 29%; sobrecarga atrial esquerda, 2%; sobrecarga ventricular esquerda, 39%. 12 Descreveram-se oito casos de potenciais tardios no eletrocardiograma de alta resolução em 11% dos atletas sem evidências de cardiopatia pertencentes à série consecutiva de 79 atletas deficientes de elite. 13 Em subgrupos de paralímpicos, descreveram-se correlações significativas envolvendo variáveis relativas à potência aeróbia e ao limiar anaeróbio e as variáveis morfológicas avaliadas pelo ecocardiograma, comprovando-se a possibilidade de ocorrer o coração de atleta em paralímpicos. 14 Em judocas paralímpicos verificamos a presença de coração de atleta em 64% dos casos avaliados. 15 Nas avaliações subjetivas dos paralímpicos jovens, pode ocorrer uma subestimação da avaliação da qualidade de vida em relação ao julgamento dos pais. 16 Teste cardiopulmonar Os fundamentos dos protocolos do teste cardiopulmonar incluem: 1) reprodutibilidade do ato esportivo, segundo o princípio da especificidade; 2) adequação à modalidade desportiva e aos meios de locomoção do atleta; 3) realização dos testes com estabilidade e segurança, assegurando a precisão e a reprodutibilidade das aferições 11 (grau de recomendação: I, nível de evidência: B). Tabela 1 – Protocolo de avaliação dos atletas paralímpicos segundo o Departamento Médico do Comitê Paralímpico Brasileiro (http://www. cpb.org.br) . 1. Aplicação de questionário médico padronizado, envolvendo identificação, antecedentes pessoais e familiares, antecedentes esportivos, hábitos alimentares e de vida; 2. Exame físico, com ficha médica padronizada; 3. Exames de laboratório: hemograma, ferro sérico, ferritina, ácido fólico, vitamina B12, tipagem sanguínea, lípides totais, colesterol e frações, triglicérides, ácido úrico, glicemia, protoparasitológico, urina tipo I, creatinina, ureia, sódio, potássio, testosterona, testosterona livre, insulina, cortisol, T4 livre, T3 livre, T3, T4, TSH, sorologia para Chagas, herpes, HIV e HCV, proteínas totais, TGO, TGP, GGT, fosfatase alcalina, cálcio e homocisteína; 4. Radiografia de tórax; 5. ECG de repouso e teste ergométrico. 340

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