ABC | Volume 113, Nº3, Setembro 2019

Editorial Mesquita e Souza A cardiologia e o cardiologista – ontem, hoje e amanhã Arq Bras Cardiol. 2019; 113(3):335-338 Nas décadas de 80 e 90, vai sendo incorporada a imagem cardiovascular não invasiva: o ecocardiografia, a cintilografia miocárdica, a tomografia computadorizada e a ressonância cardíacas, que se tornam cada vez mais imprescindíveis na avaliação diagnóstica, prognóstica e terapêutica. Ao lado disso, passamos a incorporar, no processo de decisão clínica na área terapêutica, os princípios da medicina embasada em evidências. A SBC estabelece diretrizes clínicas para guiar a prática cardiovascular incorporando e hierarquizando as recomendações frente às diferentes doenças cardiovasculares. Desde a prática hospitalista dos nossos cardiologistas, a cirurgia cardíaca se fez presente e tem sido de vital importância para o desenvolvimento da especialidade, assim como a hemodinâmica. Ambas se destacaram como principais departamentos nos primeiros anos da constituição da SBC. Setores e equipamentos especializados para hemodinâmica e cirurgia cardíaca, criação de centros e unidades de atendimentos especializados, como as unidades coronarianas e de pós-operatório cardíaco, favorecerem o cuidado específico, agregando conhecimento e valor à especialidade. Com a chegada dos anos 80, houve a disseminação do uso da angioplastia coronariana no tratamento do comprometimento múltiplos dos vasos e na fase aguda do infarto do miocárdio, com as técnicas de reperfusão e uso de trombolíticos. Os avanços na hemodinâmica intervencionista através do uso dos “stents” farmacológicos, valvuloplastias e implantes de próteses valvares despontaram no mundo, chegando rapidamente ao Brasil, propiciando um enorme salto de evolução na formação do especialista em Cardiologia, além da necessidade de constituição de equipes dedicadas a cada área. 6-8 Todo este movimento proporcionou o crescimento e desenvolvimento da SBC, levando à criação dos primeiros cinco Departamentos especializados: Departamento de Cirurgia Cardiovascular (1969), Departamento de Cardiologia Pediátrica (1973), Departamento de Fisiologia Cardiovascular e Respiratória (1974), Departamento de Hemodinâmica e Angiocardiografia (1976) e Departamento de Hipertensão (1981). 4 Atualmente, a SBC é composta por 13 departamentos atuantes, onde se distribui um total de 14.000 associados, distribuídos em 26 regionais de todo o Brasil, sendo a maior sociedade latino-americana. A Cardiologia, além de ter sido a primeira especialidade a constituir cátedra nas universidades e hospitais de ensino, também foi responsável pelo despontar dos processos de credenciamento por títulos de especialistas, contando hoje com 8.429 médicos com título em cardiologia. São oferecidos cursos de especialização pós-graduação lato sensu em diversas instituições. Alinhada a esta necessidade de capacitação, a SCB, além de suas publicações regulares Arquivos Brasileiros de Cardiologia, International Journal of Cardiovascular Science, Jornal da SBC e das suas diretrizes, disponibiliza cursos de EAD (educação à distância), extenso calendário de eventos e congressos com acesso online . Fundamentados na necessidade de expansão da pesquisa translacional, a especialidade conta com a possibilidade de pesquisa em rede, a exemplo da terapia de células tronco que envolveu diversos centros, o apoio aos ensaios clínicos e registros e estudos epidemiológicos das condições cardiovasculares predominantes em nosso meio. No contexto da padronização de condutas e criação de protocolos, a SBC dedica extremo empenho ao desenvolvimento, divulgação de diretrizes de abordagem e tratamento das principais doenças de elevada morbimortalidade em nossos dias. No final do século XX a cardiologia brasileira construía um sólido legado e relevância internacional. No ano de 2002 os associados da SBC elegeram renomados colegas representantes desse primeiro século da nossa especialidade (Figura 2). No que tange à nova década, surge com novo design para a cardiologia no ambiente digital, conectada, centrada no paciente com grandes pilares – inteligência artificial, big-data, robótica, bio-sensores, telemedicina, dispositivos móveis, sensores e genômica. Juntos irão embasar o paradigma da Cardiologia de Precisão. A visão de aproximar o cardiologista com o mundo da inovação e empreendedorismo, devendo ser incorporada no nosso mindset, é um novo desafio para formação dos novos cardiologistas com ênfase no desenvolvimento de lideranças femininas na cardiologia. Do ponto de vista assistencial, crescerá nossa interface com a saúde populacional e com os médicos de família e a atuação em termos multi‑disciplinares, implementando linhas de cuidado monitorando desfechos clínicos e focada na segurança do paciente. Isto significa conhecer e dominar a tríade formada pelo conhecimento biomédico cardiovascular, a tecnologia (Medicina digital) e a humanização. O conhecimento avança veloz e irrefreável, globalizado, apoiado e favorecido pelas inúmeras oportunidades de troca de conhecimentos entre os pares e instituições no mundo inteiro. A tecnologia fomenta a evolução da medicina digital e de precisão, favorecendo o acesso ao conhecimento, potencializando e aprimorando o diagnóstico, promovendo uma interação homem-máquina capaz de gerar a personalização terapêutica ao seu nível molecular. E por fim, o resgate da essência: a humanização desta cardiologia avançada e futurista. Será necessária uma nova viagem à prática diária da interação médico-paciente que seja capaz de promover empatia, empoderamento ao paciente e sensibilidade ao médico inserido neste novo contexto e nesta nova década. 9-13 337

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