ABC | Volume 113, Nº2, Agosto 2019

Artigo de Revisão Palavras-chave Cardiomiopatia Dilatada/genética, Disfunção Ventricular Esquerda, Insuficiência Cardíaca, Testes Genéticos/métodos, Transplante de Coração Correspondência: Ricardo Stein • Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Rua João Caetano, 20 Apt 402. CEP 90040-060, Porto Alegre, RS – Brasil E-mail: rstein@cardiol.br Artigo recebido em 13/01/2019, revisado em 13/03/2019, aceito em 10/04/2019 DOI: 10.5935/abc.20190144 Importância do Teste Genético na Miocardiopatia Dilatada: Aplicações e Desafios na Prática Clínica Importance of Genetic Testing in Dilated Cardiomyopathy: Applications and Challenges in Clinical Practice Arsonval Lamounier Júnior, 1,2 Filipe Ferrari, 3, 4 R enato Max, 5 Luiz Eduardo Fonteles Ritt, 6, 7 Ricardo Stein 3, 4 Health in Code S.L., Scientific Department, 1 A Coruña – Espanha Universidade da Coruña, GRINCAR (Cardiovascular Research Group), 2 A Coruña – Espanha Programa de Pós-Graduação em Cardiologia e Ciências Cardiovasculares, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Hospital de Clínicas de Porto Alegre, 3 Porto Alegre, RS – Brasil Grupo de Pesquisa em Cardiologia do Exercício (CardioEx) - Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), 4 Porto Alegre, RS – Brasil Hospital Universitário Onofre Lopes, 5 Natal, RN – Brasil Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, 6 Salvador, BA – Brasil Hospital Cárdio Pulmonar, 7 Salvador, BA – Brasil Resumo A miocardiopatia dilatada (MCD) é uma síndrome caracterizada por dilatação ventricular esquerda e disfunção contrátil, sendo considerada a causamais comumde insuficiência cardíaca em adultos jovens. O uso do sequenciamento de nova geração tem contribuído com a descoberta de uma grande quantidade de dados genômicos relacionados à MCD, identificando mutações que envolvem genes que codificam proteínas do citoesqueleto, sarcômero e canais iônicos, os quais são responsáveis por aproximadamente 40% dos casos classificados como MCD idiopática. Nesse cenário, geneticistas e especialistas em genética cardiovascular passaram a atuar em conjunto, agregando conhecimento e estabelecendo diagnósticos mais precisos. No entanto, é fundamental interpretar corretamente os resultados genéticos, sendo necessário criar e fomentar equipes multidisciplinares dedicadas à gestão e análise das informações coletadas. Nesta revisão, abordamos os fatores genéticos associados à MCD, aspectos prognósticos, além de discutirmos como o emprego dos testes genéticos, quando bem indicados, pode ser útil na tomada de decisão na prática clínica dos cardiologistas. Introdução As miocardiopatias primárias (MCP) são um grupo heterogêneo de doenças predominantemente genéticas que podem apresentar alterações estruturais e funcionais patológicas do miocárdico. 1-3 Estas doenças evoluem para insuficiência cardíaca (IC) com frequência, sendo a miocardiopatia dilatada (MCD) a principal indicação de transplante cardíaco (TxC). 3 Atualmente, estima-se que a prevalência da MCD idiopática seja em torno de 1 caso para cada 2.500 indivíduos, mas autores como Hershberger et al., 4 descrevem uma frequência dez vezes maior. 4 Particularmente nas últimas duas décadas obteve-se maior compreensão sobre a etiologia e o curso clínico de muitas destas doenças. 5,6 Este cenário foi proporcionado por avanços substanciais no emprego do diagnóstico genético em serviços de miocardiopatia e centros de pesquisa por todo o mundo. Tradicionalmente, a MCD é definida como dilatação do ventrículo esquerdo (VE) ou de ambos, com consequente prejuízo no desempenho contrátil do músculo cardíaco, na ausência de condições anormais de sobrecarga e/ou doença isquêmica do coração. 4-6 Entretanto, essa síndrome pode englobar uma diversidade de distúrbios genéticos e adquiridos que podem se expressar mais ou menos com o passar dos anos. Nesse particular, alguns indivíduos portadores de mutações e também diagnosticados em estágios iniciais de MCD podem apresentar fenótipos intermediários que não atendem às clássicas definições da doença, criando, assim, limitações que dificultam o diagnóstico. 2,4 Por esta razão, a reformulação de alguns conceitos que definem subgrupos de pacientes com esta síndrome torna-se importante, como é o caso da MCP hipocinética não dilatada, 2 onde a disfunção sistólica pode não estar associada à dilatação do VE. De fato, a heterogeneidade clínica observada é em parte reflexo dos diversos genes relacionados às proteínas do sarcômero, citoesqueleto, uniões intercelulares, membrana celular e canais iônicos (Tabela 1), 2,4,7,8 que têm sido associados às MCD. Muitos destes genes também estão associados a outras formas de MCP (não compactada, arritmogênica, hipertrófica e restritiva), sendo distinta a prevalência de variantes patogênicas em cada um destes genes. 4,7 Mutações com potencial patogênico são identificadas em até 40% dos casos descritos comoMCD idiopática, dependendo da coorte. 9,10 Inclusive, tem sido sugerido que a rentabilidade do estudo genético seriamaior em coortes de pacientes com MCD dita idiopática já em lista de TxC, podendo alcançar os 70%. 11,12 Há cerca de 10 anos, diretrizes estabeleceram critérios para a utilização dos testes genéticos na MCD. 9 Estes, por 274

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