ABC | Volume 113, Nº2, Agosto 2019

Artigo Original Lima et al Orientação intra-hospitalar – Registro VICTIM Arq Bras Cardiol. 2019; 113(2):260-269 Tabela 3 – Presença da orientação nutricional registrada pelos profissionais e autorreferida pelos pacientes com IAMcSST atendidos nos hospitais de Sergipe de acordo com o tipo de serviço (público x privado) Orientação nutricional Total (188) Público (151) Privado (37) Valor de p Orientação nutricional autorreferida pelo paciente, n(%)* 113 (60,1) 87 (57,6) 26 (70,3) 0,191 ** Forma de repasse da orientação, n(%)* Somente verbal 63 (55,8) 50 (57,5) 13 (50,0) 0,288 ** Somente escrita 38 (44,2) 33 (37,9) 5 (19,2) 0,064 *** Verbal + escrita 12 (10,6) 4 (4,6) 8 (30,8) < 0,001 *** Profissional que orientou, n(%)* Médico 97 (85,8) 77 (88,5) 20 (76,9) 0,196 ** Nutricionista 23 (20,4) 10 (11,5) 13 (50,0) < 0,001 ** Outros 3 (2,7) 3 (3,4) 0 (0,0) 1,000 *** Orientação registrada em prontuário, n(%) 18 (9,6) 4 (2,6) 14 (37,8) < 0,001 *** Profissional que registrou a orientação em prontuário, n(%) Nutricionista 9 (50,0) 0 (0) 9 (64,3) 0,082 *** Médico 9 (50,0) 4 (100) 5 (35,7) Orientação prévia à internação, n(%) 75 (39,9) 51 (33,8) 24 (64,9) 0,001 ** *Informações declaradas pelo próprio paciente após a alta hospitalar, via ligação telefônica; **Teste qui-quadrado; ***Teste exato de Fisher. realizado em18 países, que o consumo diário de frutas, vegetais e leguminosas foi inversamente associado ao aparecimento de DCV, sobretudo IAM, e mortalidade cardiovascular. A baixa prevalência da orientação nutricional na rede pública pode ter sido afetada pela menor concentração de profissionais da saúde nesse tipo de serviço. Isso porque, apesar de o SUS atender a maior parte da população brasileira, atualmente, a rede privada de saúde apresenta três vezes mais médicos à sua disposição. 33 Em relação às outras profissões, em Sergipe, esse cenário não é diferente. Apesar de o hospital que presta serviço público apresentar maior quantitativo de leitos em comparação aos da rede privada de saúde, observou‑se menor número de nutricionistas na assistência hospitalar desse serviço, fato que vai de encontro ao estabelecido na resolução do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) n. 600/2018. 34 Esse menor quantitativo de profissionais para uma alta demanda pode afetar o cuidado integral do paciente e, consequentemente, a qualidade da orientação nutricional. A maneira como a orientação foi repassada pode ter sido outro ponto que influenciou na baixa prevalência da orientação nutricional no serviço público, uma vez que a maioria dos entrevistados desse serviço relataram que ela foi feita verbalmente. Por outro lado, muitos daqueles que receberam as recomendações de modo escrito informaram que elas eram sucintas, precárias e desprovidas de linguagem verbal, dificultando a compreensão. Diante disso, não se deve deixar de especular que tais acontecimentos tenham dificultado a lembrança dos pacientes nas entrevistas da presente investigação. De modo geral, verificou-se o predomínio, em ambos os serviços, de orientações proibitivas (restrição de sal e/ou alimentos salgados e restrição de gorduras e frituras). Essa constatação se deve, provavelmente, à maior praticidade de tal conduta e ao fato de ela ter sido realizada, na maioria das vezes, pelo médico. Sabe-se que a promoção da inserção e/ou substituição de alimentos na dieta requer um conhecimento mais aprofundado sobre as características dos nutrientes, cuja capacitação fica ao encargo do nutricionista. 35,36 Essa atitude, advinda de uma orientação nutricional incompleta ou até mesmo da ausência dela, acaba não educando o paciente para realizar trocas alimentares saudáveis, o que pode comprometer o estado nutricional pela restrição de suas opções alimentares. Além disso, durante a coleta, percebeu-se que a maioria dos entrevistados não sabia o que, de fato, as orientações significavam, mas apenas conheciam, de maneira geral, o que deveriam restringir, sem uma lista específica com os alimentos. Resultados semelhantes foram encontrados por Gomes et al., 36 os quais constataram que as orientações repassadas na consulta pelos profissionais de saúde da família aos usuários com hipertensão e/ou diabetes melito foram simplistas ou insuficientes. Não havia o detalhamento das explicações, com maior prevalência de recomendações proibitivas, sem levar em conta hábitos cotidianos dos sujeitos e sem estabelecer um diálogo participativo com os mesmos. Em relação ao conhecimento nutricional, observa-se que, entre os pacientes orientados, ele foi maior no serviço privado de saúde. Esse resultado leva à reflexão sobre a possível influência positiva do nível de escolaridade na assimilação das informações repassadas, sem, entretanto, deixar de lembrar que o conhecimento nutricional também é construído por informações ao longo de toda a vida. A maioria dos pacientes do serviço privado já tinha recebido algum tipo de orientação nutricional prévia à internação, fator que também pode ter influenciado nesse resultado. 37,38 265

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