ABC | Volume 113, Nº2, Agosto 2019

Artigo Original Lima et al Orientação intra-hospitalar – Registro VICTIM Arq Bras Cardiol. 2019; 113(2):260-269 Tabela 1 – Características sociodemográficas dos pacientes com IAMcSST atendidos nos hospitais de Sergipe de acordo com o tipo de serviço (público x privado) Variáveis Total (188) Público (151) Privado (37) Valor de p Idade, anos (média ± DP) 61,5 ± 11,7 61,3 ± 11,7 62,5 ± 11,7 0,798 T Sexo masculino, n(%) 126 (67,0) 98 (64,9) 28 (75,7) 0,246 Q Etnia, n(%) Branco 70 (37,2) 48 (31,8) 22 (59,5) 0,002 Q Não branco 118 (62,8) 103 (68,2) 15 (40,5) Classe social, n(%)* A/B 11 (6,0) 2 (1,4) 9 (25,7) < 0,001 Q C 30 (16,5) 15 (10,2) 15 (42,9) D/E 141 (77,5) 130 (88,4) 11 (31,4) Escolaridade, n(%) Ensino Fundamental ou inferior 130 (69,1) 122 (80,8) 8 (21,6) < 0,001 Q Ensino Médio 38 (20,2) 20 (13,2) 18 (48,6) Ensino Superior ou pós-graduação 20 (10,6) 9 (6,0) 11 (29,7) Estado civil, n(%) Solteiro 12 (6,4) 10 (6,6) 2 (5,4) 1,000 Q Casado/mora com companheiro 129 (68,6) 103 (68,2) 26 (70,3) Divorciado/viúvo 47 (25,0) 38 (25,2) 9 (24,3) DP: desvio padrão; T: test T para amostras independentes; Q: teste qui-quadrado. *Classificação social (IBGE, 2010) conforme renda familiar dos pacientes: A, acima de 20 salários mínimos; B, 10 a 20 salários mínimos; C, 4 a 10 salários mínimos; D, 2 a 4 salários mínimos; E, até 2 salários mínimos. Tipos de orientação nutricional intra-hospitalar autorreferida Quando comparados ao serviço público de saúde, maior número de pacientes do serviço privado mencionou receber orientações sobre restrição de embutidos (p < 0,001), carboidratos refinados (p = 0,008) e bebidas alcoólicas (p = 0,002), além de inserção de leites e derivados desnatados (p = 0,01), preparações grelhadas, cozidas e no vapor (p < 0,001), peixes (p < 0,001), azeite de oliva extravirgem (p = 0,035), frutas, legumes e verduras (p < 0,001), e grãos integrais e fibras (p = 0,001) (Figura 1). Quanto às orientações gerais, os pacientes do serviço privado de saúde também declararam receber maior incentivo a práticar atividade física (p = 0,02), ingerir água (p < 0,001) e evitar jejum prolongado (p < 0,001) (Figura 1). Em ambos os serviços de saúde, verificou-se o predomínio das orientações restritivas, sobretudo de sal e alimentos salgados, e de gorduras e frituras com prevalência de 52,3% e 70,3% no público e no privado, respectivamente (p = 0,064) (Figura 1). Relação entre a orientação nutricional intra-hospitalar autorreferida e o conhecimento nutricional Entre os pacientes que foram orientados, observou-se que o conhecimento nutricional foi maior no serviço privado, quando comparado ao público. Contudo, entre os pacientes não orientados, não foram verificadas diferenças no nível de conhecimento nutricional entre os serviços público e privado de saúde (Tabela 4). Discussão O principal achado da investigação foi a subutilização da orientação nutricional intra-hospitalar para portadores de IAMcSST, tanto no serviço privado como, sobretudo, no público. Neste último, constatou-se, ainda, que o registro em prontuário da referida orientação é praticamente inexistente. Essa constatação é preocupante, uma vez que a mudança do hábito alimentar faz parte do conjunto de recomendações classe 1 para o paciente pós-IAM e, se incentivada ainda no ambiente intra-hospitalar, aumenta significativamente a chance de adesão a essa terapia, devido ao alerta coronariano recente. 9,16,17,19,20,26 No cenário ideal, a orientação nutricional deveria continuar a ser oferecida mesmo após a alta hospitalar, porque reforçaria o trabalhodesenvolvido nesse ambiente. Todavia, coma fragilização atual na estrutura da contrarreferência no país, é patente que os indivíduos que dependem exclusivamente do SUS carecem de facilidade logística para a execução dessa prática. Nesse contexto, a existência de orientação nutricional intra-hospitalar adequada poderia, em tese, suprir parcialmente tal deficiência. 30-32 Além dessas constatações, verificou-se que o médico foi o profissional que mais atuou, concedendo as ditas orientações. Esse fato pode ser interpretado, pelo menos, de duas maneiras: inexistência ou falta de comunicação entre a equipe multiprofissional na instituição onde se encontrava o paciente e conduta de repassar as importantes orientações quanto à mudança do estilo de vida apenas no momento da alta hospitalar, rotineiramente realizada pelo médico. 263

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