ABC | Volume 113, Nº2, Agosto 2019

Artigo Original Lima et al Orientação intra-hospitalar – Registro VICTIM Arq Bras Cardiol. 2019; 113(2):260-269 Introdução As doenças cardiovasculares (DCV) são as principais causas de morte no mundo, com maior prevalência em países de média e baixa renda. No Brasil, elas são responsáveis por aproximadamente 30% dos óbitos anuais, e as doenças isquêmicas do coração são as principais causas dessa elevada mortalidade, merecendo destaque o infarto agudo do miocárdio (IAM) devido à sua magnitude e à severidade no prognóstico clínico. 1-5 Após o evento coronariano agudo, ações são necessárias para a prevenção secundária da doença, que devem consistir na adesão à terapia medicamentosa prescrita e emmudanças no estilo de vida, com ênfase na prática de atividade física programada, na adoção de hábitos alimentares saudáveis e na cessação do tabagismo. 6-10 No decurso dos anos, mudanças no padrão alimentar foram destaque na prevenção e no tratamento das DCV em estudos epidemiológicos. Essas pesquisas reforçaramque uma dieta com isenção de ácidos graxos trans, restrição de gordura saturada, sal e bebidas alcoólicas, e aumento da fibra alimentar com predomínio de cereias integrais, frutas, vegetais e hortaliças propiciou benefícios cardioprotetores associados à diminuição de desfechos cardiovasculares importantes. 11-15 Diretrizes e indicadores de qualidade relacionados ao IAM recomendam que essas mudanças alimentares sejam orientadas pelos profissionais da saúde ainda no período intra-hospitalar. Essa conduta contribui para o fortalecimento da autonomia do indivíduo e promove maior consciência sobre o seu papel em relação à própria saúde, além de direcionar o paciente nas escolhas alimentares e aumentar o seu conhecimento nutricional. 7,9,16-20 Estudos prévios abordam a existência de disparidades na qualidade assistencial entre o serviço público e o privado de saúde, relacionadas ao tempo para a realização de Abstract Background: Having appropriate dietary habits is part of the recommendations after ST-Elevation Myocardial Infarction (STEMI), however, the quality of intra-hospital nutritional counseling in the different health services has been minimally explored. Objective: To evaluate the quality of intra-hospital nutritional counseling among patients with STEMI in the public and private health systems in Sergipe. Methods: A cross-sectional, with data from the Via Crucis for the Treatment of Myocardial Infarction (VICTIM) Register, conducted from April to November of 2017, with individuals aged ≥ 18 years diagnosed with STEMI, in one public health service hospital and three private hospitals. The occurrence and quality of nutritional counseling were analyzed based on current guidelines and the administration of questionnaires. A significance level of 0.05 was adopted. Results: A total of 188 patients were analyzed; 80.3% were from the public health service facility. Among the interviewees, 57.6% of the public health service, and 70.3% of the private hospital patients received intra-hospital nutritional counseling (p = 0.191). The documentation of this practice, in medical records, was lower in the public service (2.6% vs. 37.8%, p < 0.001). A predominance of restrictive orientations was found in the public and private sectors, mainly regarding salt and fat, 52.3% and 70.3% respectively (p = 0.064). Patients from the private service were more counseling to introduce of cardioprotective foods, mainly fruit, vegetable/legume consumption (48.6% vs. 13.2%, p < 0.001). Among those who received counselling, nutritional knowledge was higher in the private sector (68.2% vs. 26.3%, p < 0.001). Conclusion: The intra-hospital nutritional counseling provided to patients with STEMI, in Sergipe, still presents poor quality in both services, especially in the public health system. (Arq Bras Cardiol. 2019; 113(2):260-269) Keywords: ST Elevation Myocardial Infarction; Health Education/methods; Healthy Diet; Risk Reduction Behavior; Healthcare Disparities; Nutritional Support; Hospitals,Public; Hospitals, Private. Full texts in English - http://www.arquivosonline.com.br exames e à utilização de medicamentos cardiovasculares. 21,22 Essa constatação é preocupante, uma vez que aproximadamente 72% da população brasileira depende exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS). 23 Entretanto, o tipo de assistência prestada pelos profissionais da saúde referente à orientação nutricional é pouco explorado, e ainda não se sabe sobre as eventuais diferenças na qualidade dessa orientação no ambiente intra‑hospitalar entre os dois serviços de saúde. Desse modo, este estudo objetiva avaliar a qualidade da orientação nutricional recebida no ambiente intra-hospitalar entre os pacientes com IAMcSST assistidos pelos serviços público e privado de saúde em Sergipe. Métodos Trata-se de um estudo transversal com abordagem quantitativa, que utilizou dados do Registro VICTIM, pesquisa que visa avaliar a qualidade assistencial prestada aos pacientes com IAMcSST das redes pública e privada de saúde em Sergipe. A coleta de dados ocorreu de abril a novembro de 2017, nos quatro únicos hospitais do estado com capacidade para realizar angioplastia primária, todos situados na capital Aracaju, sendo um com cobertura do SUS e três com cobertura privada. Foram incluídos pacientes de ambos os sexos, maiores de 18 anos, com diagnóstico de IAMcSST confirmado pelo eletrocardiograma, de acordo com os critérios definidores propostos pela Sociedade Brasileira de Cardiologia. 24 Foram excluídos: os indivíduos que evoluíram para óbito antes de realizarem todas as etapas do estudo; os que não caracterizaram a Via Crucis, ou seja, não percorreram o trajeto desde o início dos sintomas até a chegada ao hospital com capacidade de realizar angioplastia, por terem apresentado o IAMcSST já dentro do hospital; os que não aceitaram participar de alguma etapa da pesquisa; aqueles 261

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