ABC | Volume 113, Nº2, Agosto 2019

Artigo Original Coll et al Medição não-invasiva de débito cardíaco Arq Bras Cardiol. 2019; 113(2):231-239 Introdução O débito cardíaco (DC) é um importante parâmetro fisiológico alternativo, refletindo as demandas hemodinâmicas do organismo. A medida do DC apresenta amplo espectro de aplicação, 1 podendo fornecer informações sobre o estado hemodinâmico em pacientes 2 e atletas. 3 Na insuficiência cardíaca crônica, o DC diminui e os pacientes sofrem de intolerância ao exercício. 4,5 Em contrapartida, o coração do atleta apresenta adaptações estruturais e funcionais devido ao treinamento, 6 resultando em maior DC. 7 É interessante notar que a estrutura e a função cardíaca não predizem intolerância ao exercício 8,9 ou resposta de DC 3 em nenhum dos casos. Assim, faz-se necessário o teste de esforço cardiopulmonar e o consumo máximo de oxigênio (VO 2máx ) é medido para determinar a capacidade de esforço. 10,11 No entanto, a estimativa de VO 2 é influenciada por diversos fatores não cardíacos, 4,12 podendo, portanto, ser enganosa. 9,13,14 Alémdisso, o DC não pode ser predito com precisão a partir de testes de esforço cardiopulmonar. 4,15 No entanto, para avaliar o estado hemodinâmico, medições feitas por cateter (e.g.: o método de Fick, método de termodiluição) são consideradas como o padrão clínico. 16,17 Como esses métodos invasivos estão associados a alto risco, sua aplicabilidade é restrita. 18,19 Portanto, foram desenvolvidos métodos de medição não invasivos (e.g.: ecocardiografia transesofágica, DC com diluição de lítio, DC com contorno de pulso, reinalação parcial de CO 2 , bioimpedância elétrica torácica). 17 Dos métodos de mensuração não invasivos, a bioimpedância elétrica torácica tem sido frequentemente utilizada em estudos clínicos e avaliada quanto à sua confiabilidade. 20 Entretanto, a biorreatância torácica (BT) é uma tecnologia ainda mais promissora para o monitoramento não invasivo do DC. 21 A BT se baseia na medição de mudanças de fase relacionadas ao fluxo sanguíneo de sinais elétricos transtorácicos para monitorar o DC de forma não invasiva e contínua. Portanto, teoricamente, a BT é superior a outros métodos 22,23 e tem sido utilizada em diversos contextos clínicos. 21,23-25 Porém, antes que a BT possa ser adotada na tomada de decisão clínica, deve-se atender alguns critérios relacionados à qualidade do teste, como a confiabilidade teste-reteste. Jones et al., 26 testaram a confiabilidade teste-reteste em uma população saudável. Vinte e dois adultos saudáveis realizaram teste de esforço sintoma-limitante por duas vezes. Dados cardiorrespiratórios padrão forammedidos por meio de espirometria e a resposta hemodinâmica foi monitorada via BT pelo sistema NICOM ® . Os autores afirmam que a BT permite boa confiabilidade teste-reteste para medidas hemodinâmicas em repouso e sob esforço submáximo e máximo. O presente estudo, em particular, foi o primeiro a confirmar que a BT pode ser ummétodo de teste viável. É importante frisar que o estudo foi realizado sob condições de pesquisa rigorosamente controladas. No geral, três visitas foram necessárias para determinar a capacidade cardiorrespiratória individual e realizar os dois testes de esforço. Além disso, para excluir confundidores, certos critérios de inclusão tinham que ser cumpridos (e.g., não fumantes, estômago vazio por > 2 h, nenhum exercício vigoroso 24 h antes do teste, ausência de consumo de álcool ou cafeína). Geralmente, essas condições para testes científicos são difíceis de se garantir na rotina clínica diária. Assim, ainda não está claro se a BT é um procedimento apropriado, não apenas em um ambiente de pesquisa, mas também na rotina clínica diária. Ao contrário do DC baseado na frequência cardíaca (FC) e no volume sistólico (VS), o trabalho cardíaco (TC) indica a função geral do coração. 27 O TC é o produto do DC e da pressão arterial média (PAM) e, portanto, a medida do bombeamento cardíaco. 28 O trabalho cardíaco máximo (TC máx ), ou seja, o TC alcançado durante esforço máximo, é um dos principais determinantes da intolerância ao exercício e do desempenho em pacientes cardíacos e pessoas saudáveis, respectivamente. 29,30 É importante mencionar que a medição do TC pode melhorar o tratamento clínico 31,32 e a estratificação de risco 33-35 em pacientes cardíacos. Na insuficiência cardíaca crônica, o TC é um preditor poderoso e independente do desfecho de sobrevida. 35 O TC também reflete adaptações cardiovasculares e o estado de treinamento em atletas. 6 De fato, em comparação com não atletas, 36 o TC é maior em atletas. 3,37 Assim, o TC pode ser um parâmetro diagnóstico adicional de desempenho, o que poderia auxiliar nas modalidades de treinamento. 37,38 Assim como outras medidas estabelecidas de capacidade de exercício, o TC não pode ser predito a partir de parâmetros cardíacos em repouso. 3 Nesse contexto, os objetivos do presente estudo foram: 1) avaliar a confiabilidade teste-reteste da BT em adultos saudáveis durante a rotina clínica diária e 2) avaliar as relações entre TC e medidas de repouso da estrutura e função cardíacas, bem como parâmetros tradicionais de esforço cardiopulmonar. Aqui, aplicamos uma abordagem estatística progressiva para fornecer limiares acima dos quais os efeitos podem ser significativos e apresentar valores de DC e TC que podem ser usados como valores de referência em estudos futuros. Métodos Participantes Neste estudo, 25 indivíduos foram incluídos. Nenhum dos participantes possuía histórico de doenças cardiovasculares ou pulmonares, nenhuma medicação cardioativa, pressão arterial <140/90 mmHg, índice de massa corporal <25, eletrocardiograma normal e ecocardiograma normal no momento da inclusão. Desenho do estudo Este é um estudo prospectivo unicêntrico diagnóstico não intervencional. Os participantes foram recrutados em um centro cardiológico e de clínica médica. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da University Witten/ Herdecke, com obtenção do consentimento livre e esclarecido. Realizou-se ecocardiograma padrão para excluir cardiopatias estruturais e investigar as relações entre os parâmetros ecocardiográficos estabelecidos e os valores cardiopulmonar e hemodinâmico. As dimensões cardíacas, espessura parietal, função sistólica e diastólica estavam todos 232

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