ABC | Volume 113, Nº2, Agosto 2019

Artigo Original Casonatto et al. Citrulina e hipotensão pós-exercício Arq Bras Cardiol. 2019; 113(2):218-228 Introdução A hipotensão pós-exercício (HPE) é definida como uma redução sustentada da pressão arterial (PA) após uma única sessão de exercícios. 1 Essa redução transitória pode durar até 22h após a conclusão de uma sessão de exercícios. 2 Por esse motivo, a HPE é considerada atualmente um importante fenômeno fisiológico, 1 o qual pode desempenhar um papel crucial no controle da PA. É importante enfatizar que a HPE é um fenômeno fisiológico caracterizado por uma redução na PA após o exercício em comparação com os valores pré‑exercício ou da sessão de controle, sendo possível manter essa redução por algumas horas. 3 Portanto, para que a HPE seja clinicamente significativa, é necessário que uma magnitude expressiva seja mantida durante algumas horas. Além disso, estudos anteriores relataram que a magnitude da HPE após uma única sessão de exercícios estava correlacionada com alterações crônicas na PA em repouso após um período de treinamento físico. 4-8 No entanto, apesar dessa possível relação, alguns indivíduos apresentam HPE (ou seja, “respondedores”) enquanto outros não (isto é, “não respondedores”). Estudos anteriores identificaram “respondedores” e “não respondedores” em populações não hipertensas 4,8-10 e hipertensas. 5,6,11 Isso significa que, no mesmo grupo de intervenção, alguns indivíduos podem demonstrar HPE, enquanto outros não apresentam alterações ou apresentam até mesmo aumento da resposta da PA ao treinamento físico. De fato, os resultados dos estudos de HPE geralmente estão limitados a apresentar as respostas médias da redução da PA no grupo de treinamento, ignorando variações interindividuais que podem levar a erros de interpretação, pois os efeitos positivos de um determinado protocolo de treinamento podem não ser totalmente aplicáveis individualmente para cada pessoa. 12 Por outro lado, estudos demonstraram de forma persuasiva que a citrulina (um aminoácido não essencial) tem um papel fundamental no sistema arginina-óxido nítrico, aumentando a biodisponibilidade do óxido nítrico (NO), 13 um importante mediador da vasodilatação periférica. Assim, é possível que a HPE seja mais pronunciada após a suplementação com citrulina, especialmente em hipertensos, uma vez que as respostas da PA seriam diferentes, pois a HPE pode ser causada por diferentes mecanismos em indivíduos normotensos e hipertensos. Estudos anteriores mostraram que indivíduos hipertensos têm redução do débito cardíaco, 2,14 enquanto indivíduos normotensos apresentam redução na resistência periférica total. 14-16 Por esse motivo, uma estratégia de vasodilatação não-farmacológica pode ajudar pacientes hipertensos a ativar outro mecanismo de HPE, juntamente com diminuição do débito cardíaco, resultando em efeitos adicionais de HPE. Outros experimentos observaram que o plasma e o NO salivar estavam associados à HPE após exercícios aeróbicos 17-20 e resistidos 17 em indivíduos com doenças crônicas. Além disso, a suplementação de citrulina mostrou-se promissora apresentando evidências pré-clínicas (animais) de proteção aterogênica-endotelial, e também estão disponíveis evidências preliminares de benefícios induzidos pela citrulina para a saúde muscular e metabólica (por vias vasculares e não vasculares) em populações suscetíveis/mais velhas. 21 Por essas razões, este estudo teve como objetivo analisar a responsividade interindividual da HPE após uma suplementação aguda com citrulina em hipertensos. Nossas hipóteses foram: i) haveria uma variabilidade interindividual na responsividade da PA após uma única sessão de exercícios aeróbicos e ii) a suplementação oral com citrulina poderia contribuir para reduzir a taxa de “não-respondedores”. Métodos Participantes Após o cálculo do tamanho amostral (ver sessão de análise estatística), 40 indivíduos hipertensos e sedentários participaram do estudo. Todos os voluntários (ambos os sexos) eram adultos sem deficiência osteoarticular e tinham autorização médica para praticar exercício físico. Os participantes foram recrutados de um projeto de programa de exercícios ligado à universidade que oferecia sessões de alongamento e exercícios funcionais para a comunidade externa. O estudo atendeu a Declaração de Helsinque e o Comitê de Ética Institucional aprovou todos os procedimentos e protocolos experimentais (78697617.4.0000.0108). Cada participante foi informado de todos os riscos potenciais e procedimentos experimentais, após o que o consentimento informado foi obtido. A Tabela 1 mostra as características básicas dos participantes. Desenho do estudo Foi realizado um ensaio clínico duplo-cego, controlado por placebo, de grupos paralelos (Figura 1). Os participantes foram alocados aleatoriamente (utilizando uma tabela de números aleatórios - https://www.random.org/ ) em quatro grupos experimentais diferentes (exercício/citrulina [EC]; exercício/ placebo [EP]; controle/citrulina [CC]; controle/placebo [CP]). Os participantes ingeriram um sachê contendo citrulina malato (6 gramas) ou placebo (6 gramas de amido de milho) dissolvido em água. As substâncias foram ingeridas 120 minutos antes da sessão experimental ou de controle. Medidas antropométricas foram realizadas antes do período de descanso. A sessão de exercícios consistiu em um aquecimento de 5 min (50% de 65% da FC [frequência cardíaca] de reserva) e 40 minutos de corrida/caminhada a 60-70% da FC de reserva em uma esteira. Isto foi seguido por umperíodo de desaquecimento progressivo (5 minutos). A intensidade do exercício também foi avaliada combase na Escala de Percepção Subjetiva do Esforço de Borg 22 (escore da PSE 6-20). O escore da PSE foi coletado a cada 5minutos ao longo de 40minutos durante o período de exercício de corrida/caminhada. A intensidade do exercício era reduzida caso o participante relatasse PSE ≥ 15, independentemente da FC. Na sessão de controle, os participantes permaneceram sentados em uma sala silenciosa por 40 min. Após as sessões de exercício/controle, a PA foi medida a cada 10 minutos ao longo de 60 minutos (fase laboratorial). Em seguida, os participantes tiveram permissão de 15 minutos para tomar banho e trocar de roupa antes que o aparelho de PA ambulatorial fosse anexado ao seu braço. A PA ambulatorial foi registrada por 24 horas. Os participantes foram convidados a retornar ao laboratório no dia seguinte para remover o dispositivo. 219

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