ABC | Volume 113, Nº2, Agosto 2019

Artigo Original Kul et al OPS e diabetes tipo 2 Arq Bras Cardiol. 2019; 113(2):207-215 Introdução A cardiomiopatia diabética é uma entidade clínica comum, embora frequentemente não detectada, que acomete pacientes assintomáticos com diabetes mellitus tipo 2 (DM2). 1 Esses pacientes têm um aumento excessivo do ventrículo esquerdo (VE), que começa como uma consequência funcional normal, mas progride para uma disfunção ventricular esquerda subclínica (DVE). 2,3 A taxa de pacientes com DM2 que sofrem de DVE subclínica na verdade variam entre 25% e 60%. 4-6 Os estágios iniciais da cardiomiopatia diabética são caracterizados pela disfunção sistólica ventricular esquerda subclínica (DSVE) e pela disfunção diastólica ventricular esquerda subclínica (DDVE). 7-9 É importante ressaltar que os estudos mais recentes têm indicado uma tendência de progresso da DVE subclínica, apesar de umcontrole glicêmico preciso, dentro de cinco anos. 10 Esse fenômeno pode indicar um risco elevado de insuficiência cardíaca mesmo quando o DM2 está bem controlado. 11 Definido por Tei et al., 12 o índice de performance miocárdica (IPM) é um marcador substituto das funções sistólica e diastólica ventricular. Seu uso tem sido investigado em uma variedade de condições cardíacas, incluindo infarto do miocárdio, hipertensão, diabetes e insuficiência cardíaca, sendo que IPM aumentando é um sinal prognóstico de risco e preditor independente de morbidade e mortalidade. 13,14 É comum detectar ondas pressistólicas (OPS) quando a via de saída de VE é examinada por Doppler. 15 As OPS podem, teoricamente, estar associadas com baixa complacência e aumento da rigidez do VE. 16,17 Dada a ligação hipotética entre OPS e DVE subclínica em casos de DM2, nossa teoria é que as OPS podem estar associadas com DVE subclínica em pacientes com DM2. Métodos População do estudo Foram incluídos no estudo pacientes com DM2 encaminhados para o ambulatório de cardiologia e endocrinologia do Hospital de Educação e Pesquisa Trabzon Kanuni. Ao todo, 129 sujeitos foram incluídos consecutivamente na amostra. de OPS no exame ecocardiográfico comDoppler. Foram incluídos 90 pacientes (38 homens, idade média 57,77 ± 10,91 anos) no grupo OPS-positiva e 39 pacientes (13 homens; idade média 55,31 ± 11,29 anos) no grupo OPS‑negativa. Informações demográficas, parâmetros bioquímicos e características ecocardiográficas dos pacientes foram as variáveis de comparação entre grupos. Foram excluídos os pacientes com histórico de cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva, angina pectoris , infarto do miocárdio recente, cirurgia de revascularização miocárdica, doença arterial periférica, insuficiência cardíaca, valvopatia moderada a grave, operação valvar, histórico de acidente vascular cerebral e isquemia transitória, fibrilação atrial de ataque, insuficiência renal crônica, doenças crônicas do fígado, distúrbios hematológicos, malignidade, distúrbios tromboembólicos, cardiopatias congênitas, insuficiência cardíaca congestiva e endocardite bacteriana aguda. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética local e todos os pacientes assinaram o termo de consentimento informado. Avaliação de fatores de risco cardiovascular Histórico de hipertensão arterial, DM, hiperlipidemia (HL) e tabagismo, bem como histórico familiar de doença arterial coronariana (DAC), foi registrado para todos os pacientes. O DM2 foi diagnosticado com base na história de DM tratada e/ou após medição de glicose no sangue em jejum igual ou superior a 126 mg/dl. Considerou-se HL o nível de colesterol total em jejum ≥ 200 mg/dl, nível de lipoproteína de baixa densidade em jejum ≥ 160 mg/dl, nível de triglicerídeos em jejum (TG) ≥ 200 mg/dl ou uso de medicação para HL. Hipertensão foi considerada presente no caso de histórico da doença tratada ou não tratada, ou quando a pressão arterial sistólica média de ≥ 140 mmHg e/ou a pressão arterial diastólica média de ≥ 90 mmHg foram obtidas pela média de duas medições em cada braço. História familiar de DAC incluiu relato de DAC ou morte súbita cardíaca de um parente masculino de primeiro grau com menos de 55 anos, ou parente de primeiro grau com menos de 65 anos. Ecocardiografia Todos os indivíduos foram submetidos a um exame ecocardiográfico transtorácico usando a unidade Philips Epic 7 (Philips Epic 7 Ultrasound AS) com uma sonda FPA de 2,5 MHz. Os parâmetros convencionais do modo M, modo B e Doppler foram realizados em conformidade com as diretrizes da Sociedade Americana de Ecocardiografia. 18 Os exames foram realizados por ecocardiografistas experientes que não tinham conhecimento dos dados clínicos e demográficos dos pacientes. Foi feita a quantificação dos diâmetros diastólico final e sistólico final do VE e da espessura das paredes posterior e septal. A equação de Devereux foi utilizada para derivar massa do VE (MVE): MVE = 0,8 × [1,04 (DDVE + EIPS + EPP) 3 – (DDVE 3 )] + 0,6, onde DDVE é o diâmetro diastólico final do VE, EIPS é a espessura intraventricular da parede septal e EPP a espessura da parede posterior. O índice MVE foi calculado pela fórmula: MVE/área de superfície corporal. A área de superfície corporal (ASC) foi calculada pela fórmula ASC (m 2 ) = 0,007184 x Altura (cm) 0,725 x Peso (kg) 0,425 . Hipertrofia do VE foi considerada positiva se o índice de MVE fosse superior a 115 g/m 2 para homens e a 95 g/m 2 para mulheres. 19 A porção da via de saída do ventrículo esquerdo (VSVE) imediatamente proximal à valva aórtica foi investigada com Doppler de onda pulsátil em janela apical de cinco câmaras para varificar a presença de OPS antes do fluxo da VSVE. O pico de velocidade da OPS era quantificado sempre que um sinal de OPS quantificável estava presente (Figura 1). A avaliação tecidual do ventrículo esquerdo por Doppler foi realizada a partir da visualização apical de quatro câmaras com taxa de quadros superior a 80/s. Todas as quantificações foram realizadas em imagens congeladas obtidas em três a cinco ciclos cardíacos. As velocidades anulares mitrais foram quantificadas com o volume da amostra adicionado à junção do anel valvar mitral e à parede miocárdica septal. O tempo decorrido entre o final da onda A and e o início da onda E, e entre o início e o final da onda S foi definido como (a) e tempo de ejeção (TE), respectivamente, nas gravações de Doppler tecidual em corte apical de quatro câmaras. O IPM foi calculado pela fórmula IPM = (TCIV + TRIV)/TE = [(a) - (TE)]/(TE) 20,21 208

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