ABC | Volume 113, Nº2, Agosto 2019

Carta ao Editor Equidade de Gênero na Saúde: Justiça ou Necessidade? Gender Equity in Healthcare: An Issue of Justice or Need? Viviana Guzzo Lemke 1, 2 Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista – SBHCI, 1 São Paulo, SP – Brasil Grupo MINT – Mulheres Intervencionistas, 2 Curitiba, PR – Brasil Correspondência: Viviana Guzzo Lemke • Rua dos Curiangos, 1036. CEP 83327-158, Residencial Andorinhas, Alphaville, Pinhais, PR – Brasil E-mail: vivana@terra.com.br Palavras-chave Cardiologistas; Mulheres; Medicina/tendências; Participação nas Decisões; Educação Médica; Liderança; Identidade de Gênero; Intervencionistas. 1. Faganello LS, Pimentel M, Polanczyk CA,Zimerman T, Malachias MB, Dutra OP, et al. O Perfil do Cardiologista Brasileiro – Uma Amostra de Sócios da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol. 2019;113(1):62-8. DOI: http://dx.doi.org/10.5935/abc.20190089 2. MesquitaET,CorreiaETO,BarbettaLMS.PerfildosCardiologistasBrasileiros: Um Olhar sobre Liderança Feminina na Cardiologia e sobre o Estresse – Desafios para a Próxima Década. Arq Bras Cardiol. 2019;113(1):69-70. DOI: http://www.dx.doi.org/10.5935/abc.20190132 3. OliveiraGMM,NegriFEFO,ClausellNO,MoreiraMC,SouzaOF,MacedoAV,et al. Sociedade Brasileira deCardiologia – Carta dasMulheres. Arq Bras Cardiol. 2019;112(6):713-4. DOI: http://www.dx.doi.org/10.5935/abc.20190111 4. Scheffer M, Cassenote A, Guilloux AG, CREMESP. Demografia médica no Brasil 2018. São Paulo, SP: FMUSP, CFM, Cremesp; 2018. 286 p. ISBN: 978-85-87077-55-4 5. TheLancet.Feminism is foreverybody.Lancet.2019;393(10171):493.DOI: https://doi.org/10.1016/S0140-6736 (19)30239-9 Referências DOI: 10.5935/abc.20190168 Com grande interesse no assunto lemos o artigo “O Perfil do Cardiologista Brasileiro – Uma Amostra de Sócios da Sociedade Brasileira de Cardiologia”, de Faganello et al., 1 em que são apresentadas as características profissionais e pessoais dos cardiologistas brasileiros. As diferenças significativas entre os gêneros foram ressaltadas no minieditorial “Perfil dos Cardiologistas Brasileiros: UmOlhar sobre Liderança Feminina na Cardiologia e sobre o Estresse – Desafios para a Próxima Década”, de Mesquita et al., 2 em que peculiaridades como a remuneração e o pequeno número de mulheres na Cardiologia são analisadas sob um ponto de vista inquietante. Essas matérias fazem coro com a “Carta das Mulheres”, de Oliveira et al., 3 documento alicerçado em objetivos atuais, mas que necessitam de trabalho incansável a longo prazo, com mudanças estruturais na cultura médica, especialmente no que se refere à participação da mulher em cargos executivos dentro das sociedades de especialidades médicas e entidades governamentais relacionadas à saúde da população. O importante estudo “Demografia médica no Brasil 2018”, de Scheffer et al., 4 apresentou a todos uma realidade já conhecida pelos médicos cardiologistas: apesar de as mulheres, atualmente, serem a maioria dos estudantes nas escolas de Medicina, o que já se reflete nos médicos até 34 anos, faixa em que as médicas estão em maior número, na Cardiologia, 70% dos médicos são do sexo masculino. Essa realidade contribui ainda mais para o pequeno número de mulheres que escolhem a Cardiologia Intervencionista como área de atuação. Reconhecendo a necessidade de uma maior e mais efetiva participação das mulheres na Medicina e na Ciência como um todo, a Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista criou o grupo Mulheres INTervencionistas (MINT), cujo objetivo é buscar a igualdade de gênero tanto no âmbito profissional como do paciente, incentivando as médicas a escolher a Cardiologia Intervencionista, ajudando a alcançar chances de carreira iguais às dos homens, mas também aumentando a conscientização da comunidade intervencionista e de pesquisa sobre as disparidades relacionadas ao gênero no diagnóstico e tratamento de pacientes com doenças cardiovasculares, apoiando a inscrição rotineira de mulheres em ensaios clínicos e assegurando a deferência das mulheres em todos os aspectos da literatura científica, sejam ensaios clínicos, diretrizes ou processos regulatórios. Por fim, voltando à observação feita no minieditorial, o sexismo não pode deixar de ser analisado como um dos fatores de desincentivo às mulheres nas carreiras médicas. Trabalhar por igualdade de condições e de remuneração deve ser mais que um objetivo, pois, como relatado no importante editorial do Lancet , de fevereiro de 2019, “Feminism is for everybody” (“O feminismo é para todos”) 5 , a equidade de gênero não é apenas uma questão de justiça e direitos, mas crucial para produzir a melhor pesquisa e oferecer o melhor atendimento aos pacientes. Cabe às sociedades médicas encabeçarem essa mudança de paradigma para que as oportunidades sejam semelhantes para todos, agregando forças para que a conhecida capacidade de cuidar do outro, característica feminina, possa beneficiar nossos pacientes. Este é um artigo de acesso aberto distribuído sob os termos da licença de atribuição pelo Creative Commons 299

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