ABC | Volume 113, Nº2, Agosto 2019

Editorial Jardim Excesso de peso, o risco cardiovascular do século Arq Bras Cardiol. 2019; 113(2):185-187 Figura 1 – Estado nutricional baseado no índice de massa corpórea (n = 685). Firminópolis, Brasil (2002–2015). *Significante p = 0,05. Homens (%) Mulheres (%) 80 70 60 50 40 30 20 10 0 80 70 60 50 40 30 20 10 0 * * * * * 45,8 30,3 44,2 44,2 10,0 25,5 53,6 30,2 29,7 35,4 16,7 34,3 Peso Peso normal sobrepeso obesidade normal sobrepeso obesidade Quando foi feita estratificação por sexo, observou-se diminuição do número de indivíduos com peso normal e aumento da obesidade no intervalo de tempo. 7 (Figura 1) Merece tambématenção que no Brasil, mesmo em crianças, desde muito jovens, até adolescentes, há impressionantes percentuais de sobrepeso e obesidade. Estudo com crianças de 2 a 5 anos na região centro-oeste mostrou 11,2% de sobrepeso. 8 Em outra amostra de 3169 crianças escolares um pouco maiores (7 a 14 anos), também na região centro-oeste, encontrou-se índice de 16% de crianças com sobrepeso e 4,9% crianças obesas, indicando a mesma tendência desde a infância. 9 Finalmente, fechando o ciclo, na avaliação de adolescentes escolares (12 a 17 anos), dois estudos de base populacional, um representativo de uma cidade e outro de todo o país, os estudos CORADO e ERICA, mostraram percentual de sobrepeso de 23,3% e 17,1%, respectivamente. 10,11 Não há como encarar de outra forma: é uma epidemia, assola todo o mundo, cresce a olhos vistos e não encontra uma resistência efetiva. A comunidade científica não se deu conta da gravidade do fato, ainda trabalha numa perspectiva de “tratamento” e é muito tímida quando toca no tema prevenção primária, como claramente ficou delineado nos recentes documentos da Sociedade Europeia de Hipertensão e Associação Europeia para o Estudo da Obesidade. 12,13 Já temos no momento atual fortes indicativos de que medidas de incentivos ou até restritivas, com taxação de determinados produtos que possam ser considerados nocivos são custo-efetivas e tem potencial para nos conduzir a um porto mais seguro. 14,15 É realmente momento de ação, de deixarmos de ser médicos de doença e passarmos a atuar na perspectiva de reais profissionais de saúde. O esforço precisa ser geral. De cada indivíduo, da sociedade civil organizada e, principalmente, da esfera governamental. O enfrentamento do excesso de peso deve ser uma política de governo, em busca de uma providência efetiva para toda a nação, sob pena de caminharmos para um futuro ainda mais obscuro em termos de doenças cardiovasculares. 1. Simão AF, Precoma DB, Andrade JP, Correa Filho H, Saraiva JFK, Oliveira GMM,Sociedade Brasileira de Cardiologia., et al. I Diretriz Brasileira de Prevenção Cardiovascular. Arq Bras Cardiol. 2013;101(6 Supl 2):1-63. 2. Ng M, Fleming T, Robinson M, Thomson B, Graetz N, Margono C, et al. Global, regional, and national prevalence of overweight and obesity in children and adults during 1980-2013: a systematic analysis for the global burden of disease study 2013. Lancet 2014;384(9945):766–81. 3. NCD Risk Factor Collaboration (NCD-RisC). Trends in adult body-mass index in 200 countries from 1975 to 2014: a pooled analysis of 1698 population-based measurement studies with 19.2 million participants. Lancet. 2016;387(10026):1377-96. 4. The GBD 2015 Obesity Collaborators. Health effects of overweight and obesity in 195 countries over 25 years. N Engl J Med. 2017; 377(1):13-27. 5. Flores-Ortiz R, MaltaDC, Velasquez-Melendez G (2019) Adult body weight trends in 27 urban populations of Brazil from 2006 to 2016: A population- based study. PLoS One.2019;14(3):e0213254. 6. Schmidt, MI, Duncan BB, Mill JG, Lotufo PA, Chor D, Barreto SM, et. al. Cohort Profile: Longitudinal Study of Adult Health (ELSA-Brasil). Int J Epidemiol., 2015,44(1):68-75. 7. Souza LG, Jardim TV, Rezende AC, Sousa ALL, Moreira HG, Perillo NB, et. al. Predictors of overweight/obesity in a Brazilian cohort after 13 years of follow-up. Nutr J.2018;17(1):10. Referências 186

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