ABC | Volume 113, Nº2, Agosto 2019

Editorial Excesso de Peso, o Risco Cardiovascular do Século Overweight, the Cardiovascular Risk of the Century Paulo César B. Veiga Jardim 1,2, 3 Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO – Brasil Liga de Hipertensão Arterial da Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO – Brasil Hospital do Coração de Goiás, Goiânia, GO – Brasil Correspondência: Paulo César B. Veiga Jardim • Rua 115-F, 135. CEP 74085-300, Setor Sul, Goiânia, GO – Brasil E-mail: fvjardim.ufg@gmail.com Palavras-chave Doenças Cardiovasculares; Fatores de Risco; Prevenção & Controle; Sobrepeso; Indicadores de Morbimortalidade; Comportamento Alimentar/tendências; Obesidade. DOI: 10.5935/abc.20190171 Ao longo do tempo, a comunidade científica identificou com precisão os principais fatores de risco cardiovascular. Não restamdúvidas de sua importância, do peso de cada um na determinação do aumento damorbimortalidade por essa causa. 1 De outro lado, o crescimento temporal das patologias do aparelho circulatório como principal causa de morte e de afastamento das atividades produtivas foi gigantesco. Grande prejuízo social, econômico e afetivo. O desenvolvimento científico possibilitou o surgimento de instrumentos e fármacos para atuar nos grandes fatores de risco modificáveis. A ironia é que, no geral, do ponto de vista do combate às doenças, avançamos mais na prevenção secundária do que na primária. 1 Na prevenção secundária, o combate a alguns dos principais fatores de risco temmaior apelo. O tratamento da hipertensão arterial, da dislipidemia e mesmo do diabetes muito evoluíram. A antiagregação plaquetária e a anticoagulação como formas de evitar novos eventos também caminharam a passos enormes. Nesse caso, mesmo com os problemas relacionados à falta de acesso ou de adesão ao tratamento, temos o caminho desbravado e continuamos a avançar. 1 Com relação aos hábitos de vida, as respostas são variáveis, mesmo nessa situação. O abandono ao tabagismo tem boa aceitação e, pelo conjunto de medidas tomadas em todas as esferas em nosso país, os resultados são bastante animadores. Contudo, na busca pela mudança do comportamento sedentário já há maior resistência, apesar da difusão do conhecimento sobre sua importância. O estresse psicossocial é outro fator que carece de melhor conhecimento e ações mais efetivas. 1 Há, entretanto, um grande desafio à saúde pública, contra o qual estamos sofrendo reveses ano após ano. O desafio do século: excesso de peso Estudos publicados mostraram que, em todo o mundo, nos últimos 50 anos, a população aumentou de peso. Em publicação de 2014, destacou-se que entre 1980 e 2013 os indivíduos tiveram aumento do índice de massa corpórea para acima de 25 kg/m 2 , o que os classifica como sobrepeso, passando de 28,8% para 36,9% entre os homens e de 29,8% para 38,0% entre as mulheres. E, pior que isso, o aumento do peso ocorreu também em crianças e adolescentes, tanto em países desenvolvidos onde, em 2013, 23,8% dos meninos e 22,6% das meninas estavam com sobrepeso ou obesas, quanto nos países em desenvolvimento, onde 12,9% dos meninos e 13,4% das meninas estavam também com excesso de peso. 2 Em 2016, outra publicação que avaliou o período entre 1975 e 2014 mostrou também que a obesidade aumentou de 3,2% para 10,8% entre os homens e de 6,4% para 14,9% entre as mulheres nesse período. Esses estudos estimamque se a tendência se mantiver, em 2025, a prevalência de obesidade mundial será maior que 18% entre os homens e 21% entre as mulheres. 3 Assim, temos claramente uma pandemia mundial de excesso de peso, agravada pelo fato de que não há, até o momento, a descrição de qualquer programa desenvolvido que tenha obtido sucesso na reversão dessa dura realidade. Trata-se de um importante risco cardiovascular, que inicialmente passou despercebido, que toma proporções alarmantes e ganha espaço a cada momento. Deve-se destacar que, em 2015, o excesso de peso levou mais de 100 milhões de pessoas ao afastamento das atividades produtivas e foi responsável por cerca de 4 milhões de mortes em todo o mundo. 4 No Brasil não é diferente: a epidemia é grave e progride a olhos vistos. De 2006 a 2016, em pesquisa utilizando dados do VIGITEL que, de uma certa forma, subestima as informações, a prevalência de sobrepeso aumentou de 48,1% para 57,5% entre os homens e de 37,8% para 48,2% entre as mulheres e, além disso, a obesidade cresceu de 11,7% para 18,1% entre os homens e de 12,1% para 18,8% entre as mulheres. 5 Outro importante estudo longitudinal, o ELSA-Brasil, mostrou empublicação de 2015, empopulação entre 35 e 74 anos, uma prevalência de 40,2%de indivíduos comsobrepeso e 22,9%com obesidade. 6 É assustador, mas não para por aí. Esses levantamentos mostram dados de capitais e/ou grandes núcleos urbanos e, quando buscamos informações relativas a pequenas cidades, encontramos amesma realidade. Por exemplo, em estudo longitudinal de 13 anos, em cidade de pequeno porte na região centro-oeste, observou-se, em população acima de 18 anos, um crescimento de sobrepeso/obesidade, que já era elevado em 2002, de 49,1% para 69,8% em 2015. De maneira atípica e ainda mais desafiante, o sobrepeso exclusivo no período aumentou de 34,6% para 38,4%, enquanto a obesidade cresceu de 14,5% para assustadores 31,4%. Vale destacar que são os mesmos indivíduos investigados nos dois momentos distintos. 185

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