ABC | Volume 113, Nº1, Julho 2019

Artigo Original Rocha et al Padrões alimentares e adiposidade em crianças Arq Bras Cardiol. 2019; 113(1):52-59 As crianças com excesso de gordura corporal apresentaram menor adesão ao PA tradicional. O padrão tradicional identificado neste estudo é marcado pelo consumo de arroz e feijão, além de outros carboidratos. O feijão é uma leguminosa fonte de proteínas, minerais, vitaminas e fibras solúveis e insolúveis que, quando consumida habitualmente, pode estar associada a redução do risco de doenças cardiovasculares. 36 Kupek et al., (2016), 37 ao avaliarem padrões alimentares em escolares de 7 a 10 anos de idade, concluíram que as crianças que possuíam o hábito de consumir arroz e feijão apresentavam menor risco de obesidade. Alguns estudos avaliando a associação entre padrões alimentares e composição corporal em crianças encontraram resultados similares aos nossos. Durão et al. (2017) 30 observaram que as meninas que apresentavam maior adesão ao PA com elevada densidade energética, composto principalmente por doces, refrigerantes, pastelaria e carnes processadas, apresentaram maiores valores de IMC, RCE e gordura corporal. Zhang et al., (2015), 38 avaliando crianças e adolescentes chineses, verificaram que o padrão dietético moderno do norte da China esteve associado a maior risco de obesidade. Shang et al. (2012) 7 observaram que a obesidade foi mais prevalente nas crianças que adotaram o padrão alimentar ocidental, quando comparadas àquelas que consumiam o padrão saudável tradicional. Os nossos achados ressaltam a importância de avaliar os padrões alimentares na população, principalmente em crianças, que podem desde cedo apresentar hábitos alimentares inadequados que favorecem o excesso de peso. 11,23 A presença da obesidade em crianças pode aumentar o risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e predizer riscos à saúde tardiamente. 7 Como limitações do nosso estudo, podemos destacar a avaliação dos padrões alimentares por meio do recordatório 24 horas, que pode subestimar o real consumo das crianças em função de viés de memória e/ou falta de cooperação do entrevistado. No entanto, destacamos que todos os R24h foram aplicados por nutricionistas devidamente treinados. Além disso, a criança esteve presente juntamente ao seu responsável, para responder ao inquérito alimentar, visto que crianças menores de 12 anos podem não responder com precisão as informações sobre alimentação. Alguns pontos positivos deste trabalho devem ser ressaltados. Este é um dos poucos estudos realizados em países emdesenvolvimento que investigou a associação entre padrões alimentares e adiposidade na infância. Como o consumo de alimentos industrializados contribui para o excesso de peso e de adiposidade corporal, esta é uma fase importante para avaliar os padrões alimentares, uma vez que a dieta é um fator de risco modificável para as doenças cardiovasculares. Esses achados são consistentes com outros estudos, sugerindo que é crescente o consumo de alimentos industrializados, e estes já estão associados às alterações cardiometabólicas em fases precoces da vida, como na infância. Conclusão Conclui-se que as prevalências de excesso de peso e de adiposidade corporal foram maiores em crianças com maior adesão ao PA industrializado. O menor consumo do PA tradicional esteve associado à adiposidade corporal excessiva. Nosso estudo sugere que avaliações precoces dos hábitos alimentares devem ser realizadas, para monitoramento e modificação destes, quando necessário. Os pais e os profissionais de saúde precisam estar atentos quanto ao elevado consumo de produtos processados e ultraprocessados pelas crianças. Trabalhos de educação alimentar e nutricional tornam-se de extrema importância nas escolas, como forma de reforçar a alimentação saudável das crianças e de seus pais. Contribuição dos autores Concepção e desenho da pesquisa e Obtenção de financiamento: Novaes JF; Obtenção de dados: Rocha N, Milagres LC, Filgueiras MS, Silva MA, Albuquerque FM; Análise e interpretação dos dados: Rocha N, Ribeiro AQ, Albuquerque FM, Novaes JF; Análise estatística: Rocha N, Filgueiras MS; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Milagres LC, Filgueiras MS, Suhett LG, Silva MA, Ribeiro AQ, Vieira SA, Novaes JF. Potencial conflito de interesses Declaro não haver conflito de interesses pertinentes. Fontes de financiamento O presente estudo foi financiado pelo CNPq. Vinculação acadêmica Este artigo é parte de tese de Doutorado de Naruna Pereira Rocha pela Universidade Federal de Viçosa. Aprovação ética e consentimento informado Este estudo foi aprovado pelo em Comitê de ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Viçosa sob o número de protocolo 663.171/2014. Todos os procedimentos envolvidos nesse estudo estão de acordo com a Declaração de Helsinki de 1975, atualizada em 2013. O consentimento informado foi obtido de todos os participantes incluídos no estudo. 58

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