ABC | Volume 113, Nº1, Julho 2019

Artigo Original Rocha et al Padrões alimentares e adiposidade em crianças Arq Bras Cardiol. 2019; 113(1):52-59 Introdução A obesidade infantil é considerada um grave problema de saúde pública.¹ De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2016),² aproximadamente 41 milhões de crianças menores de cinco anos são afetadas pelo excesso de peso ou obesidade no mundo. No Brasil, a prevalência de obesidade é crescente e os dados relativos ao excesso de peso infantil mostram que este vem aumentando em crianças de cinco a nove anos de idade de forma mais acelerada que nas demais faixas etárias. 3 A obesidade pode ser considerada uma doença multifatorial devido a predisposição genética, sedentarismo, disponibilidade de alimentos dentro e fora do domicílio, padrões alimentares inadequados e estruturais, como sistemas de produção e distribuição dos alimentos, todos desempenhando papéis importantes na etiologia dessa alteração. 4,5 Dentre os vários fatores de risco para a obesidade, a dieta consiste em um fator modificável e tem sido relacionada ao aparecimento de doenças crônicas e alterações cardiometabólicas. 6,7 Vários estudos evidenciam que dietas densas energeticamente, pobres em fibras e ricas em carboidratos refinados estão associadas à obesidade em adultos. 8,9 Em crianças, a maior parte dos resultados é baseada na análise de alimentos isolados ou nutrientes, e estudos sobre padrões alimentares são escassos. 10,11 As análises de padrões alimentares permitem a avaliação da dieta por uma perspectiva global, favorecendo o estabelecimento de estratégias de promoção da alimentação saudável e a prevenção de doenças e agravos nutricionais. 12 Por ser a infância um período de formação de hábitos alimentares, 13 iniciativas que permitam identificar práticas alimentares inadequadas e associá-las ao excesso de peso e de adiposidade corporal podem auxiliar na prevenção de doenças crônicas, assim como na redução de danos à saúde em curto e longo prazos, por meio de incentivo e adoção de hábitos saudáveis. 14 Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi avaliar a associação dos padrões alimentares de escolares com obesidade e adiposidade corporal. Nossa hipótese é que padrões alimentares não saudáveis estão associados ao excesso de peso e à adiposidade corporal em crianças brasileiras. Métodos População e desenho do estudo Trata-se de umestudo transversal comamostra representativa de 378 crianças de escolas públicas e privadas da área urbana de Viçosa, MG, Brasil. Os participantes deste estudo foram provenientes da Pesquisa de Avaliação da Saúde do Escolar (PASE). A PASE teve como objetivo investigar a saúde cardiovascular do público infantil no município de Viçosa, MG. O município de Viçosa está localizado na Zona da Mata Mineira, a 227 km da capital Belo Horizonte. Viçosa possui uma extensão territorial de 299 km 2 e 72.244 habitantes, sendo que 67,3% residem em zona urbana. 15 Em 2015, o município contava com 17 escolas públicas e 7 particulares que atendiam crianças de 8 e 9 anos na área urbana, totalizando uma população de 1.464 crianças matriculadas nessas escolas. A amostra foi calculada no programa estatístico OpenEpi (Versão 3.01), levando-se em consideração a prevalência de 11,8% para obesidade na faixa etária, 16 erro tolerável de 5%, acrescidos de 10% de perdas e 10% de fatores de confusão, totalizando um tamanho amostral de 392 crianças. A amostra final contou com a participação de 378 crianças e com uma perda de 3,6% da amostra. As perdas deveram-se ao não cumprimento de todas as etapas do estudo. O processo de amostragem dos escolares foi realizado em duas etapas. Primeiro foi realizada a amostragem casual estratificada, em que o número de crianças a ser amostrado em cada escola foi proporcional ao total de alunos existentes em cada uma. Posteriormente, foi realizado o sorteio utilizando‑se tabela de números aleatórios, até completar o número de alunos necessários das 24 escolas públicas e particulares da zona urbana que atendiam a faixa etária avaliada. Os critérios de não inclusão para este estudo foram a não realização de contato com os pais ou responsáveis após três tentativas, crianças que apresentassem alguma alteração clínica ou nutricional que pudesse interferir no consumo alimentar, no estado nutricional e na composição corporal, bem como crianças com deficiência física, cognitiva ou múltipla. Este estudo foi realizado de acordo com as diretrizes estabelecidas na Declaração de Helsinki e iniciado apenas após a aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Viçosa (UFV) (parecer n o 663.171/2014). O estudo também foi aprovado pela Secretaria Municipal de Educação, Superintendência Regional de Ensino e direção das escolas. Todos os pais e as crianças foram informados sobre o objetivo do estudo, assim como todos os responsáveis das crianças assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Consumo alimentar A avaliação do consumo alimentar foi realizada pela aplicação de três recordatórios 24 horas (R24h) em dias não consecutivos, incluindo um dia de fim de semana e intervalo médio de 15 dias entre eles, a partir de informações declaradas pela mãe/responsável e pela criança. Para as crianças que consumiam parte da alimentação no ambiente escolar, os pesquisadores questionaram as informações nas escolas, como receitas e porcionamento dos alimentos ofertados, além de confirmarem com as crianças o que era consumido. Para aquelas crianças que costumavam levar lanche de casa, os pais foram questionados quanto aos alimentos e bebidas ofertados e as quantidades. Os três recordatórios foram aplicados por nutricionistas treinados. Os dados do consumo alimentar obtidos pelos três R24h foram tabulados e processados no software Dietpro ® 5i, versão 5.8. 17 Dados antropométricos Todas as medidas antropométricas foram realizadas por um nutricionista treinado, selecionado após calibração dos membros da equipe. O peso foi mensurado utilizando balança digital eletrônica, com capacidade de 150 kg e sensibilidade 53

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