ABC | Volume 113, Nº1, Julho 2019

Artigo Original Oliveira et al Reinternação de pacientes com síndrome coronariana Arq Bras Cardiol. 2019; 113(1):42-49 que indica que pessoas com maior escolaridade podem ter maior renda e, consequentemente, mais condições de adquirir serviços privados de saúde, os quais apresentam maior facilidade de acesso. Portanto, pessoas com planos de saúde contam com mais acesso à saúde e aos distintos recursos oferecidos, 2,28 e o aumento de renda da população está ligeiramente associado à crescente aquisição de planos e acesso à saúde. Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008‑2009, 29 os domicílios brasileiros gastaram, em média, 5,9% da renda familiar com assistência à saúde, incluindo custos com medicamentos e planos. 27,29 Estudo nacional realizado por Malta et al. 27 constatou que os serviços privados são mais adquiridos pelas mulheres e pessoas de raça branca, contexto que reforça desigualdades no acesso aos serviços pela população. Observa-se, também, que o uso de planos de saúde está relacionado ao padrão socioeconômico da população, refletido em fatores como raça, escolaridade, renda e faixas etárias mais velhas. Em contrapartida, o sistema público é caracterizado pela dificuldade de acesso ao tratamento, incluindo terapias invasivas, como reperfusão do miocárdio, e utilização de medidas clínicas no tratamento da doença. Além disso, devido à melhora nas notificações e na classificação dos eventos nesse sistema, a internação é priorizada para casos mais complexos. 30,31 Esses fatos corroboram com os resultados de maiores taxas de reinternação no serviço privado observados no presente estudo. As maiores causas de readmissão as cardíacas (53%), em especial a SCA, que apresentou 42,6% do total. A elevada prevalência por causas cardíacas também foi encontrada no estudo de Khawaja et al. (69%), 9 quando avaliadas as readmissões em 30 dias após intervenção coronariana percutânea. Belitardo e Ayoub 1 também encontraram maior frequência de SCA (41,6%) entre as readmissões. A repetição do diagnóstico da internação no segundo evento pode estar relacionada com a não resolutividade das causas, caracterizando uma readmissão evitável. 1 As readmissões evitáveis são entendidas como o resultado de uma situação que, se fosse gerida de outra maneira, não apresentaria o desfecho de nova admissão. 32 Esses resultados também foram semelhantes ao observado por Ricci et al., 8 que encontraram maior prevalência de causas cardíacas entre as reinternações. Além disso, existe uma elevação do risco de morte quando as readmissões hospitalares acontecem por causas cardíacas após o primeiro evento por SCA. 7 Embora um resultado diferente tenha sido encontrado no estudo realizado por Kwok et al, 33 as causas não cardíacas estiveram presentes em metade das reinternações, e as cardíacas representaram 46% dos casos, sendo a dor torácica por causa não cardíaca e a SCA os diagnósticos mais prevalentes, respectivamente. A existência de diferentes preditores de risco de readmissão na literatura ocorre devido às distintas características dos participantes avaliados, incluindo presença de comorbidades e peculiaridades dos serviços de saúde. As readmissões podem ser reflexo de vários fatores, como a situação clínica do paciente, o suporte familiar e social, e a qualidade assistencial recebida durante e após o internamento. Essas taxas atuam como alerta, a fim de incentivar o desenvolvimento de ações durante a internação e na alta hospitalar, como também os cuidados no período pós‑alta e com as condições individuais do paciente, reduzindo o número de reinternações. 20,34 Cabe mencionar como limitações do estudo a ausência de detalhamento sobre os medicamentos investigados e a possibilidade de perda no seguimento, já que as reinternações foram identificadas nos quatro principais hospitais de cardiologia do município, onde realmente já se esperava maior identificação de reinternação, por serem os hospitais de referência da coorte, não sendo investigada a ocorrência de reinternação em outros hospitais do município ou fora dele. Além disso, foi avaliado apenas um hospital da rede pública de saúde, que necessita de referenciamento para a admissão. Esses fatores podem levar a uma subestimação nas taxas de ocorrência de reinternação do estudo. Por outro lado, destaca-se a importância desse tipo de delineamento para a mensuração das variáveis preditoras antes da reinternação. Conclusão A SCA foi a principal causa de reinternação em até um ano após o primeiro evento, sendo mais prevalente entre os usuários da rede suplementar de saúde. Os principais determinantes da reiternação durante o período avaliado foram o tipo de assistência à saúde e o diagnóstico prévio de ICC. Diante disso, o presente trabalho contribui para o conhecimento dos determinantes da reinternação e possibilita a implementação de estratégias assistenciais que, emmédio e longo prazos, possam atuar na redução de novas admissões, com vistas ao melhor prognóstico e à redução de custos para os sistemas de saúde. Contribuição dos autores Concepção e desenho da pesquisa: Oliveira LMSM, Costa IMNBC, Silva DG, Silva JRS, Buarque MDBM, Sousa ACS; Obtenção de dados: Oliveira LMSM, Costa IMNBC, Buarque MDBM, Sousa ACS; Análise e interpretação dos dados: Oliveira LMSM, Costa IMNBC, Silva DG, Silva JRS, Barreto Filho JAS, Almeida-Santos MA, Oliveira JLM, Vieira DAS, Sousa ACS; Análise estatística: Silva DG, Silva JRS, Vieira DAS; Redação do manuscrito: Oliveira LMSM, Costa IMNBC, Silva DG, Barreto Filho JAS, Almeida-Santos MA, Oliveira JLM, Vieira DAS, Sousa ACS; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Oliveira LMSM, Silva DG, Barreto Filho JAS, Almeida-Santos MA, Oliveira JLM, Vieira DAS, Sousa ACS. Potencial conflito de interesses Declaro não haver conflito de interesses pertinentes. Fontes de financiamento Opresente estudo não teve fontes de financiamento externas. Vinculação acadêmica Este artigo é parte de dissertação de Mestrado de Larissa Marina Santana pela Universidade Federal de Sergipe. 48

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