ABC | Volume 113, Nº1, Julho 2019

Artigo Original Oliveira et al Reinternação de pacientes com síndrome coronariana Arq Bras Cardiol. 2019; 113(1):42-49 Tabela 2 – Condições clínicas associadas às reinternações de pacientes com SCA em Aracaju, Sergipe, Brasil, 2017 Variável Reinternação Valor de p* Sim Não Tipo de SCA Angina instável 20 (20,83%) 76 (79,17%) 0,0205 IAMsSST 56 (27,45%) 148 (72,55%) IAMcSST 39 (16,53%) 197 (83,47%) Hipertensão arterial 97 (22,99%) 325 (77,01%) 0,1255 Dislipidemias 81 (27,93%) 209 (72,07%) 0,0001 Diabetes melito 48 (25,81%) 138 (74,19%) 0,0933 DAC prévia 59 (30,73%) 133 (69,27%) 0,0001 ICC 39 (31,45%) 85 (68,55%) 0,0030 Angina 66 (25,38%) 194 (74,62%) 0,0408 IAM prévio 58 (30,53%) 132 (69,47%) 0,0002 Angioplastia prévia 31 (32,29%) 65 (67,71%) 0,0066 Resvascularização prévia do miocárdio 12 (31,58%) 26 (68,42%) 0,1700 Doença renal crônica prévia 18 (51,43%) 17 (48,57%) < 0,0001 *Teste qui-quadrado. SCA: síndrome coronariana aguda; IAM: infarto agudo do miocárdio; IAMsSST: infarto agudo do miocárdio sem supradesnivelamento do segmento ST; IAMcSST: infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST; DAC: doença aguda coronariana; ICC: insuficiência cardíaca congestiva. Quanto às condições clínicas associadas à reinternação (Tabela 2), constatou-se que houve mais reinternações entre os pacientes com IAMsSST, dislipidemias, doença renal crônica, ICC, angina, DAC , IAM e angioplastia prévias. Em relação ao uso da terapia medicamentosa após a primeira alta hospitalar (Tabela 3), apenas a ausência da estatina nos 180 dias após a SCA esteve associada à reinternação hospitalar. Os fatores associados à reinternação foram submetidos à regressão logística múltipla, e as variáveis estão apresentadas na Tabela 4. As variáveis tipo de assistência e ICC apresentaram significância estatística, de modo que pessoas assistidas pelo sistema privado de saúde apresentaram maior chance de reinternação quando comparadas àquelas atendidas pelo sistema público. Porém, foi observado que pessoas que apresentaram ICC anterior à reinternação tinham 1,81 mais chance de readmissão hospitalar. Discussão A taxa de readmissão de 21,46% encontrada no presente estudo foi semelhante à prevalência de 24,5% de readmissão encontrada no estudo de Dreyer et al., 15 que avaliaram readmissões em 1 ano em 3.536 pacientes após IAM nos EUA. Entretanto, maior taxa foi encontrada em estudo realizado no Canadá, com 3.411 pacientes de ambos os sexos, que observou taxa de readmissão hospitalar de 61,7% após 1 ano da primeira hospitalização por SCA. 7 As taxas de reinternação atuais apresentaram-se inferiores também aos valores encontrados por Ricci et al. (47,9%), 8 quando avaliaram readmissão em até 30 dias em um hospital de alta complexidade. Outro estudo apresentou taxas menores para ocorrência de outros eventos em até 30 dias. Sangu et al. 16 acreditam que o tempo considerado na avaliação entre as admissões hospitalares influencia na taxa de reinternação. As taxas de readmissão também podem ser influenciadas por questões geográficas da população. 17 As taxas de readmissão funcionam como preditor para avaliação do desempenho das atividades hospitalares, como também na avaliação do surgimento de complicações pós-alta, 18 podendo refletir o funcionamento do acesso aos serviços básicos de saúde. A procura pelo serviço hospitalar pode acontecer devido à dificuldade no acesso a consultas em nível primário, como também em função da ideia do tratamento voltado para a agudização da doença, e não para a cronicidade, o que aumenta a procura por serviços de alta complexidade. 19,20 Por outro lado, nem sempre as taxas de reinternação estão associadas à qualidade e ao acesso dos serviços de saúde. Elas podem estar ligadas à complexidade médica e a fatores individuais do paciente, como condições socioeconômicas e gravidade da doença. Entretanto, quando as readmissões hospitalares ocorrem de forma planejada, estão relacionadas com a qualidade do serviço hospitalar prestado. 21,22 A existência de outros fatores de risco, especialmente quando eles acontecem simultaneamente, aumenta as chances de reinternação. 23 A ocorrência de comorbidades clínicas associadas à SCA interfere na gravidade da doença e, consequentemente, na necessidade de maiores intervenções invasivas. Estudo realizado por Belitardo e Ayoub, 1 avaliando a readmissão hospitalar em idosos, observou que HAS, sedentarismo, dislipidemias, DM, estresse, tabagismo e obesidade aumentaram a chance de realização de procedimentos invasivos e a necessidade de readmissão. 46

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