ABC | Volume 113, Nº1, Julho 2019

Artigo Original Oliveira et al Reinternação de pacientes com síndrome coronariana Arq Bras Cardiol. 2019; 113(1):42-49 Introdução Nos últimos anos, as doenças isquêmicas do coração, dentre elas a SCA, apresentaram taxas crescentes de admissões e readmissões hospitalares. 1 As readmissões são responsáveis pelo aumento significativo nos custos para o paciente e para os sistemas de saúde público e privado, além de maiores taxas de mortalidade hospitalar. O risco de morte nas readmissões é maior quando esse evento acontece por causas cardíacas. 2-4 As readmissões após o evento de SCA podem estar associadas a diferentes fatores, dentre eles, condições cardíacas como isquemia miocárdica, fribrilação arterial e hipertensão não controlada. Podem também estar ligadas a fatores não cardíacos, como adesão a terapia medicamentosa e etilismo, bem como a fatores psicológicos, fatores socioeconômicos e questões relacionadas ao sistema de saúde. 5-7 Além disso, elas se relacionam à qualidade assistencial ofertada e ao gerenciamento inadequado das comorbidades na internação e, por isso, funcionam como indicadores para avaliação de cuidados prestados pelas instituições de saúde. 8,9 O tipo de assistência à saúde em que o paciente está inserido também influencia as taxas de readmissões, pois reflete diferentes acessos aos serviços de saúde e traduz desigualdades entre os indivíduos. 8 Desse modo, este estudo objetiva avaliar as reinternações de pacientes após a SCA na rede de saúde pública e suplementar do estado de Sergipe e verificar a associação da reinternação com determinantes socieconômicos, de estilo de vida e clínicos. Métodos Delineamento do estudo Trata-se de uma coorte retrospectiva de pacientes com SCA, realizada entre agosto de 2017 e abril de 2018. Foram selecionados 581 pacientes com SCA no momento da primeira internação, no período de outubro de 2013 a setembro de 2015, em quatro unidades hospitalares de referência em cardiologia na cidade de Aracaju, Sergipe. Destas, três apresentavam serviços privados de saúde, e uma unidade, serviço público. Durante o estudo, os pacientes foram avaliados em três momentos: na admissão hospitalar e decorridos 30 e 180 dias da SCA. 4 O diagnóstico clínico de SCA na internação, assim como do tipo (isquemia aguda [AI], infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST [IAMsSST] e infarto agudo do miocárdio sem supradesnivelamento do segmento ST [IAMcSST]), foi coletado dos prontuários hospitalares, representando a interpretação médica de todos os dados clínicos (com início de sintomas consistentes de isquemia aguda durante as 24 horas anteriores), e/ou da elevação nos biomarcadores de isquemia cardíaca, confirmada por eletrocardiograma, ecodopplercardiograma ou cinecoronarioangiografia. De posse das informações pessoais (nome, data de nascimento, data de internação) dos pacientes participantes, foi realizada a busca ativa em prontuários de todas as unidades hospitalares integrantes, a fim de identificar possíveis reinternações em até 1 ano após o primeiro evento de internação por SCA. Amostra estudada Foi avaliada a ocorrência de reinternação no período de até 1 ano após a primeira internação na coorte de 581 pacientes com diagnóstico de SCA participantes do estudo anterior. O fluxograma da amostra estudada está representado na Figura 1. Critérios de inclusão Foram selecionados todos os pacientes identificados no momento basal do estudo, devido à internação por SCA nas unidades hospitalares de referência em cardiologia na cidade de Aracaju, Sergipe. Critérios de exclusão Foram excluídos do estudo aqueles participantes que apresentaram óbito intra-hospitalar durante a primeira internação, os que foram a óbito após a alta hospitalar e não tiveram reinternação subsequente, e aqueles que apresentaram readmissão com menos de 24 horas de permanência hospitalar. Variáveis analisadas Condições socioeconômicas dos participantes Os dados de identificação dos pacientes foram obtidos do banco de dados do estudo realizado na primeira internação, no período de outubro de 2013 a setembro de 2015, 4 sendo utilizado um questionário semiestruturado no momento do internamento por SCA. Foram coletadas informações referentes a grupo etário (adulto e idoso), sexo (feminino e masculino), raça autorreferida (branco, pardo e negro), nível de escolaridade (mais ou menos de 9 anos de estudo), renda familiar per capita (menor que 1 salário/pessoa, entre 1 e 3 salários/pessoa, 3 a 5 salários/pessoa e maior que 5 salários/pessoa), tipo de assitência à saúde (público e privado), hábitos de vida (etilismo e tabagismo autorreferidos pelo paciente ou acompanhante e prática de atividade física classificada pelo questionário internacional de atividade física [IPAQ, international physical activity questionnaire ]), estado nutricional avaliado pelo índice de massa corporal (IMC) (baixo peso, eutrofia e excesso de peso) e circunferência da cintura (CC). Para a classificação do IMC, foram considerados os pontos de corte propostos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) 10 para adultos e pela Organização Pan‑Americana de Saúde (OPAS) 11 para idosos. A circunferência da cintura foi classificada como adequada quando < 80 cm para mulheres e < 94 cm para homens. 10 Reinternação hospitalar As reinternações foram avaliadas por meio da busca ativa em prontuários de atendimento nas quatro unidades hospitalares de referência em cardiologia. Foram consideradas as readmissões que aconteceram em até 1 ano após a alta hospitalar da 43

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