ABC | Volume 113, Nº1, Julho 2019

Minieditorial Biomarcadores no Diagnóstico e Prognóstico do Infarto Agudo do Miocárdio Biomarkers in Acute Myocardial Infarction Diagnosis and Prognosis Paula F. Martinez, 1 S ilvio A. Oliveira-Junior, 1 Bertha F. Polegato, 2 Katashi Okoshi, 2 Marina P. Okoshi 2 Instituto Integrado de Saúde, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, 1 Campo Grande, MS – Brasil Faculdade de Medicina de Botucatu - Departamento de Medicina Interna - Universidade Estadual Paulista (UNESP), 2 Botucatu, SP – Brasil Minieditorial referente ao artigo: Níveis de Sirtuína 1, 3 e 6 em Pacientes com Infarto Agudo do Miocárdio Correspondência: Marina P. Okoshi • Departamento de Clinica Medica, Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP. Rubião Junior, S/N. CEP 18618-687 Botucatu, SP – Brasil E-mail: marina.okoshi@unesp.br Palavras-chave Doenças Cardiovasculares; Diagnóstico; Prognóstico; Mortalidade; Biomarcadores; Sirtuínas; Infarto do Miocárdio; Biologia Molecular. DOI: 10.5935/abc.20190131 Os biomarcadores se tornaram uma ferramenta útil para os médicos estabelecerem o diagnóstico e o prognóstico das doenças agudas e crônicas com maior precisão. A rápida expansão das pesquisas nesse campo tem sido estimulada pelo desenvolvimento de técnicas de biologia molecular e ômicas. 1 Na doença cardiovascular, a liberação de componentes intracelulares na corrente sanguínea em concentrações mais elevadas que as usuais está relacionada a condições patológicas, como necrose, inflamação, estresse hemodinâmico e trombose, que são considerados potenciais biomarcadores. 2 Embora um grande número de biomarcadores cardíacos tenha sido descrito, apenas alguns deles foram incorporados na prática clínica. Sua utilidade depende de sua especificidade e sensibilidade para detectar lesões miocárdicas, reprodutibilidade, precisão e limites discriminatórios para distinguir entre níveis patológicos e fisiológicos. 2 A troponina cardíaca (cTn) é um biomarcador que foi estabelecido para o diagnóstico e que também fornece informações prognósticas robustas no infarto agudo do miocárdio (IAM). 1 Ela ainda é o biomarcador mais recomendado para detectar lesões miocárdicas, especialmente devido à sua sensibilidade e especificidade, ainda que não indique a etiologia subjacente e o mecanismo fisiopatológico. 3 Na Quarta Definição Universal de Infarto do Miocárdio, este é definido quando uma lesão aguda com biomarcadores cardíacos anormais é detectada (um padrão crescente e/ou decrescente de valores de cTn com pelo menos um valor acima do limite de referência superior do percentil 99) associado com evidência de isquemia miocárdica aguda. 3 Vários outros biomarcadores representando diferentes eixos fisiopatológicos têm sido considerados uma ferramenta potencial para o diagnóstico e estratificação de risco em pacientes com IAM. Esses biomarcadores emergentes, incluindo a supressão de tumorigenicidade 2 (ST2), galectina-3, copeptina, mieloperoxidase (MPO), proteína C-reativa de alta sensibilidade (PCR-hs), proteína A plasmática associada à gestação (PAPP-A), fator de diferenciação de crescimento -15 (GDF-15), e outros, foram estudados individualmente ou usando uma estratégia multimarcador. 4,5 No entanto, mais estudos ainda são necessários para determinar sua utilidade para o diagnóstico e prognóstico do IAM. Mais recentemente, as sirtuínas têm atraído grande interesse por seus papéis protetores contra a inflamação, câncer, doenças cardiovasculares, envelhecimento vascular e alterações da homeostase da glicose. As sirtuínas foram descobertas pela primeira vez na década de 70; sua principal ação é a remoção de grupos acetilados das proteínas histonas e não histonas na presença de Dinucleótido de Nicotinamida e Adenina (NAD+). 6 Os membros da família das sirtuínas estão amplamente distribuídos pela natureza; essa família possui sete isoformas no corpo humano (Sirtuin1-7). 7 Entre as sirtuínas, as isoformas 1, 3 e 6 são as mais bem caracterizadas; eles exercem efeitos importantes no sistema cardiovascular contra a aterosclerose, hipertrofia de miócitos, lesão de isquemia-reperfusão, estresse oxidativo, inflamação e estresse do retículo endoplasmático. 8-10 Portanto, vários estudos têm se concentrado na modulação de sirtuínas com compostos dietéticos naturais e farmacológicos. 9 Nessa edição dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Kızıltunç et al., 11 publicaram um estudo interessante no qual hipotetizaram o uso do nível sérico das sirtuínas 1, 3 e 6 como possíveis biomarcadores do tamanho do infarto do miocárdio e prognóstico em pacientes com IAM. Os níveis temporais das sirtuínas séricas 1, 3 e 6 e sua associação com os marcadores prognósticos do IAM foram examinados. Pacientes com IAM (n = 40) e pacientes com coronárias normais (n = 40) foram incluídos e avaliados quanto à fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE), e níveis séricos de pro-BNP, PCR e sirtuínas 1, 3 e 6. O pico de troponina T, o escore GRACE e os níveis de sirtuína no primeiro/segundo dia foram registrados para pacientes com IAM. Os autores verificaram que os níveis das sirtuínas 1, 3 e 6 no IAM eram semelhantes aos dos pacientes com coronárias normais e que não houve alteração temporal nos níveis de sirtuínas durante o curso do infarto. Além disso, não houve correlação significativa entre os níveis de sirtuínas e os marcadores tradicionais de tamanho do infarto, como pro‑BNP, pico de troponina T ou FEVE. Entretanto, os níveis basais das sirtuínas 1 e 6 foram positivamente correlacionados com a duração da reperfusão, e a sirtuína 3 basal foi negativamente correlacionada com o escore GRACE. Como salientado pelos autores, a correlação negativa entre a sirtuína 3 e o escore GRACE sugere um possível papel da sirtuína 3 na avaliação de risco em pacientes com IAM. 40

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