ABC | Volume 113, Nº1, Julho 2019

Artigo Original Kızıltunç et al. Sirtuínas em pacientes com infarto agudo do miocárdio Arq Bras Cardiol. 2019; 113(1):33-39 Resultados Quarenta pacientes consecutivos com STEMI e 40 pacientes consecutivos controles com artérias coronárias normais foram incluídos no estudo. As características clínicas e laboratoriais basais dos participantes são apresentadas na Tabela 1. A contagem de leucócitos e de neutrófilos, níveis séricos de creatinina, proteína C-reativa, valores de pró-BNP e índice de massa do ventrículo esquerdo foram significativamente maiores no grupo com IAM que no grupo controle. O grupo controle foi composto por um maior número pacientes do sexo feminino e um menor número de fumantes. A média de contagem de plaquetas e a média da FEVE foram significativamente menores no grupo IAM que nos controles. Não foi observada mudança temporal significativa nos níveis séricos de sirtuína nos pacientes com IAM (Figura 1). As características clínicas e laboratoriais do IAM são apresentados na Tabela 2. Quinze pacientes apresentaram angina pectoris pré-infarto antes do insulto isquêmico. A média de pico de troponina foi de 41,6 ng/L em pacientes sem angina pré-infarto e de 28,2 ng/L em pacientes com angina pré-infarto (p = 0,202). Os níveis basais de sirtuína 1, 3 e 6 foram similares nos pacientes com e sem angina pré-infarto. Nenhuma correlação foi evidente entre os níveis séricos basais de sirtuína e os seguintes parâmetros: níveis de proteína C-reativa, pico de troponina T, níveis de pró‑BNP, e FEVE. Os níveis basais de sirtuína 1 e 6 apresentaram correlação positiva com a duração da reperfusão. Por outro lado, os níveis basais de sirtuína 3 apresentaram correlação negativa com o escore GRACE (Tabela 3). Discussão Neste estudo piloto, nós avaliados os níveis séricos de sirtuína 1, 3 e 6 nos pacientes com IAM e pacientes com artérias coronárias normais. Observamos que as medianas das concentrações de sirtuína não apresentou mudança temporal significativa no curso do IAM. Não houve correlação entre os níveis de sirtuína e os marcadores prognósticos de IAM, como pico de troponina, pró-BNP, proteína C-reativa e FEVE. Além disso, observamos uma correlação negativa significativa entre os níveis de sirtuína 3 e o escore GRACE. A doença cardiovascular aterosclerótica é a principal causa de morte em todo o mundo. 18 Avanços na prevenção primária e secundária têm ocorrido na tentativa de diminuir a carga dessa doença devastadora. 19 A patogênese da aterosclerose é complexa, e pesquisas sobre a base molecular da aterosclerose vem sendo realizadas em todo o mundo. Neste contexto, este estudo avaliou os níveis séricos da sirtuína 1, 3 e 6 em pacientes com IAM. Dados preliminares sobre as sirtuínas nas doenças cardiovasculares foram obtidas de estudos experimentais. Foi demonstrado que a sirtuína 1 exibe propriedades antiaterogênicas pela ativação da enzima óxido nítrico sintase endotelial e pela redução da formação de células espumosas pelos macrófagos inibindo-se o fator nuclear kB. 20,21 Outro estudo mostrou que a sirtuína 1 reduz os níveis de LDL colesterol. 22 Além disso, a sirtuína tem efeitos antitrombóticos além dos outros efeitos ateroprotetores mencionados acima. 23 Oestresse oxidativo exerce um importante papel na patogênese da aterosclerose, e o papel antioxidante da sirtuína 3 foi relatado em estudos prévios. 24,25 A sirtuína 6 apresenta propriedades anti-inflamatórias e reduz os níveis de LDL. 26,27 Dados sobre sirtuínas e doenças cardiovasculares em humanos são ainda limitados. Gorenne et al., 28 relataram que a expressão de sirtuína 1 está reduzida na placa aterosclerótica da carotídea humana. 28 Breitenstein et al., 29 observaram que a expressão da sirtuína 1 em monócitos periféricos foi menor em pacientes com doença arterial coronariana em comparação a indivíduos sadios. Com base em nossos resultados, este estudo pode levantar um debate sobre as funções protetoras das sirtuínas 1, 3 e 6 nas doenças cardiovasculares. A primeira questão refere-se à associação entre aterosclerose e sirtuínas. Em nosso estudo, não foi observada diferença nas medianas das concentrações de sirtuína 1, 3 e 6 entre os grupos. Em nosso conhecimento, este é o primeiro estudo a comparar os níveis séricos de sirtuína entre pacientes com IAM e pacientes com artéria coronária normal. Existem vários estudos avaliando os níveis de sirtuína 1 na aterosclerose, utilizando diferentes métodos. Breitenstein et al., 29 mediram os níveis de mRNA de sirtuína 1 nos monócitos periféricos, e Gorenne et al., 28 mediram os níveis de mRNA da sirtuína 1 e a quantificaram a expressão proteica em materiais da endarterectomia carótida em humanos. 28 Enquanto esses estudos mostraramuma associação negativa entre aterosclerose e expressão de sirtuína, Kilic et al., 30 relataram que os níveis de sirtuína 1 foram maiores nos pacientes com doença arterial coronariana estável que em pacientes controles. 30 Considerando todos esses dados, a causalidade entre as sirtuínas e a aterosclerose em humanos requer mais estudos. Ainda, nós primeiramente investigamos amudança temporal dos níveis de sirtuína 1, 3 e 6 no curso do IAM, e não encontramos nenhuma alteração significativa entre a admissão e o primeiro e segundo dias do IAM. Outra questão que necessita ser investigada é a associação entre inflamação e níveis de sirtuína. Em nosso estudo, os níveis de proteína C-reativa, um marcador inflamatório amplamente aceito, não se correlacionaram com sirtuína 1 e 3, e se correlacionaram com os níveis de sirtuína 6. Conforme mencionamos acima, estudos experimentais sugeriram que as sirtuínas possuem efeitos anti-inflamatórios, e há a hipótese de que esse seja um de seus mecanismos para ateroproteção. 31 Nós esperávamos encontrar uma associação negativa entre sirtuínas e proteína C-reativa, mas nossos resultados não confirmaram essa hipótese. Apesar de a sirtuína 6 possuir características anti‑inflamatórias, é possível que a SIRT6 haja na regulação positiva da indução da expressão de citocinas pró‑inflamatórias tanto emcélulas imunes inatas como emcélulas imunes adaptativas. Assim, a correlação positiva entre sirtuína 6 e proteína C-reativa encontrada em nosso estudo possa ser interpretada nesse contexto. 32 Ainda, merecem destaque nossos resultados sobre a associação entre sirtuínas e os parâmetros refletindo o tamanho do infarto, tal como pico de troponina T, FEVE e níveis de pró‑BNP. A abertura da artéria obstruída e o reestabelecimento do fluxo sanguíneo são o principal foco do tratamento do IAM. No entanto, autores sugeriram que a restauração do fluxo sanguíneo possa ocasionar maior dano miocárdio, o que foi denominado lesão da reperfusão. 33 Obstrução microvascular, contração aumentada dos miócitos, necrose das bandas de contração, geração de radicais livres e acúmulo de células inflamatórias são os mecanismos propostos nesse processo. 34 35

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