ABC | Volume 113, Nº1, Julho 2019

Artigo Original Kızıltunç et al. Sirtuínas em pacientes com infarto agudo do miocárdio Arq Bras Cardiol. 2019; 113(1):33-39 Introdução As sirtuínas são uma classe de enzimas dependentes de Nicotinamida-Adenina Dinucleotídeo (NAD), composta de sete proteínas, as Sirt 1-7. 1 A função mais conhecida das sirtuínas é a de deacetilação, mas essas enzimas também podem atuar como mono-ADP ribosiltransferase, lipoamidase, demalonilase e desucinilase. 2,3 As sirtuínas estão envolvidas em vários processos biológicos como apoptose, sobrevida celular, reparo de DNA/envelhecimento celular e metabolismo de lipídio/glucose. 4 Informações acerca do papel das sirtuínas na carcinogênese, envelhecimento e inflamação também são crescentes. 4,5 Além disso, existem evidências de que níveis circulantes de sirtuínas estejam associados com fragilidade, redução de massa de gordura e diabetes mellitus. 6-8 Avanços também tem ocorrido no conhecimento atual sobre as funções das sirtuínas no sistema cardiovascular na saúde e na doença. Estudos experimentais recentes mostraram o possível papel das sirtuínas em várias doenças cardiovasculares como hipertrofia cardíaca, insuficiência cardíaca, disfunção endotelial e aterosclerose. 9,10 A sobrevida de pacientes com infarto agudo do miocárdio (IAM) melhorou significativamente com o avanço de terapias a base de cateter e o aumento do número de unidades coronarianas disponíveis; porém, causou aumento na população de pacientes com insuficiência cardíaca. 11 A redução do tamanho do infarto é crucial para diminuir a probabilidade de ocorrência de insuficiência cardíaca clínica e melhorar o prognóstico de pacientes com IAM. A reperfusão precoce e a redução do dano decorrente da reperfusão são abordagens básicas para diminuir o tamanho do infarto. No entanto, existemmuitas variáveis determinantes do tamanho do infarto, e pouco se sabe sobre os mecanismos moleculares subjacentes. Inflamação, trombogenicidade, e estresse oxidativo podem afetar não só o tamanho e o prognóstico do infarto. 12-14 Estudos experimentais revelaram que a sirtuína 1, 3 e 6 têm efeitos benéficos no combate à aterosclerose, à dislipidemia, ao estresse oxidativo, à disfunção endotelial e à inflamação. Ainda, é possível que a sirtuína 1 e a sirtuína 3 ativem vias cardioprotetoras no IAM. 9 Assim, os níveis séricos de sirtuína podem estar associados com menor tamanho do infarto do miocárdio e marcadores de um bom prognóstico em pacientes com IAM. Em nosso conhecimento, não existem dados publicados na língua inglesa sobre a associação dos níveis de sirtuína 1, 3 e 6 commarcadores prognósticos de pacientes com IAM. O objetivo deste estudo piloto foi investigar mudanças temporais nos níveis de sirtuína 1, 3 e 6 em pacientes com IAM, avaliar se os níveis de sirtuína 1, 3 e 6 empacientes com IAM são diferentes de indivíduos controles e avaliar a associação entre os níveis séricos de sirtuína 1, 3 e 6 e marcadores prognósticos de pacientes com IAM, tais como valor de pico de troponina sérica, níveis séricos de pró-BNP, escore GRACE e fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) pós-IAM. Métodos O protocolo do estudo foi aprovado pelo comitê de ética local e todos os participantes assinaram o termo de consentimento. Foram incluídos neste estudo transversal pacientes com IAM com elevação do segmento ST (STEMI) e pacientes com artérias coronárias normais entre junho de 2017 e novembro de 2017. Os pacientes com STEMI foram diagnosticados segundo a terceira definição de IAM. 15 Foi realizada uma primeira intervenção coronária percutânea, na qual todos os pacientes com STEMI receberam terapia mediada por fio guia. Foram calculados escore de risco GRACE 16 e escore de risco TIMI 17 dos pacientes com IAM. O tempo entre o início dos sintomas e a reperfusão, local do infarto no eletrocardiograma e presença de angina pectoris pré-infarto foram registrados. Os níveis séricos de lipídios, resultados de testes de função renal e hepática, resultados de hemograma, glicose de jejum e pico de troponina sérica também foram registrados. Os níveis de proteína C-reativa e de pró-BNP foram medidos no primeiro dia de ataque isquêmico nos pacientes com IAM. As amostras venosas foram obtidas na admissão, 24h e 48h do infarto para dosagem de sirtuína 1, 3 e 6, a fim de se avaliar se houve alguma mudança temporal em seus níveis após o infarto. Níveis séricos de lipídios, resultados de testes de função renal e hepática, hemograma, e glicose de jejum foram obtidos do laboratório local, e as amostras de sangue para dosagem de proteína C-reativa, pró-BNP e sirtuína foram obtidas após angiografia coronária em pacientes com artéria coronária normal. Ecocardiografia transtorácica foi realizada, e a FEVE, diâmetro diastólico final, e espessura da parede posterior e do septo foram registrados em todos os pacientes. Para a determinação dos níveis de sirtuína, todas as amostras foram centrifugadas a 4000 rpm por 10 minutos, os soros separados e congelados a -80 o C. As concentrações de sirtuína 1, 3 e 6 foram medidas simultaneamente utilizando-se kits de ELISA para sirtuína humana (YL Biotech, Shanghai, PRC). Os critérios de exclusão foram: pacientes com história de IAM, doença arterial coronariana estável, doença arterial periférica, insuficiência cardíaca ou doença de válvula cardíaca, pacientes com doença maligna, infecção ativa, doença inflamatória crônica, doença renal ou hepática. Análise estatística As análises foram realizadas pelo programa SPSS 18.0 para Windows (SPSS Inc. Chicago, IL). Para as variáveis contínuas, a normalidade da distribuição foi testada pelo teste de Kolmogorov-Smirnov. Os resultados das variáveis com distribuição normal foram apresentados em média e desvio padrão, e os resultados das variáveis com distribuição não normal em mediana e intervalo interquartil (25-75). As comparações das variáveis contínuas foram realizadas pelo teste t para amostras independentes ou pelo teste de Mann-Whitney, de acordo com o padrão de distribuição. As comparações das variáveis categóricas foram realizadas pelo teste do qui-quadrado ou pelo teste exato de Fisher. Ao avaliar a associação entre sirtuínas emarcadores prognósticos de IAM, os coeficientes de correlação e sua significância foram calculados pelo teste de Spearman. Em pacientes com IAM, níveis séricos de sirtuína 1, 3 e 6 foram determinados na admissão, e no primeiro e no segundo dia do infarto. O teste de Friedman foi conduzido para testar se houve uma mudança temporal significativa nos níveis séricos de sirtuína nos pacientes com IAM. Um valor de p < 0,05 foi considerado estatisticamente significativo. 34

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