ABC | Volume 113, Nº1, Julho 2019

Minieditorial Lima et al. Descelularização de pericárdio humano Arq Bras Cardiol. 2019; 113(1):18-19 e qualitativa). Entretanto, o tratamento apresentou redução quantitativa de GAGs, o que já está bem descrito na literatura quando a descelularização é realizada com o detergente SDS (revisado por Scarritt et al. 11 ). Apesar das alterações estruturais referentes aos GAGs, o comportamento biomecânico da matriz foi semelhante ao tecido fresco, o que viabiliza sua utilização em tratamento de tecidos que apresentam intensas cargasmecânicas, como os encontrados no sistema cardiovascular. Nota-se que um dos grandes desafios da área é desvendar o melhor método para geração de scaffolds intactos. Para isso, a concentração dos reagentes é um parâmetro que pode ser modulado para garantir a composição ideal da MEC. Quando a concentração é otimizada com base na filosofia de que “menos é mais”, os reagentes falham consideravelmente na remoção completa de debris celulares, contendo DNA celular. Reciprocamente, quando as concentrações utilizadas são mais elevadas, o contrário é verdadeiro. 12 Considerando que o sucesso das técnicas de descelularização está diretamente associado ao mínimo de alteração da composição, estrutura e mecânica dos tecidos, o trabalho de Wollmann et al., 10 vem de encontro às necessidades de aperfeiçoamento dos métodos para a obtenção de pericárdio descelularizado. No artigo, Wollmann et al., 10 investigam principalmente o efeito de uma concentração de SDS descrita como “baixa”, de 0,1% (P/V). Indiscutivelmente, esta concentração é baixa comparada à concentração de 1% usada, por exemplo, em descelularização de rins porcinos. 13 Outros autores têm adotado o descritor "concentração baixa" para 0,5%, também para rins porcinos. 14 O conceito de "baixa concentração" deve ser entendido no contexto do tecido a ser descelularizado. Por exemplo, 0,1% pode ser uma baixa concentração para um tecido sub-milimétrico como o pericárdio, enquanto 0,5% pode igualmente ser baixo para um órgão centimétrico como o rim. Além do desafio de customizar a concentração ao tecido a ser descelularizado, a variabilidade entre doadores dificulta a padronização de um processo escalonável de descelularização, e sugere que o caminho para translação clínica requer uma abordagem customizada e não necessariamente padronizada. A utilização de patches em cirurgia cardíaca já é uma prática bem estabelecida, entretanto o material biológico mais utilizado tem origem xenogênica e não é submetido ao processo de descelularização, aumentando os riscos de reintervenções cirúrgicas. 3,15 A proposta de utilização de patch pericárdico descelularizado, cujos componentes estruturais sejam satisfatoriamente preservados e as moléculas antigênicas sejam devidamente eliminadas, é consequentemente de grande interesse para aplicação clínica. Essas características têm potencial de favorecer a sinalização tecidual para recrutamento e aderência de células do próprio tecido do paciente receptor, manter as características mecânicas ideais, bem como reduzir a imunogenicidade do enxerto. 16 Essa proposta aumentaria a durabilidade do enxerto, favoreceria a regeneração tecidual adequada e reduziria a propensão a fibrose e calcificação, melhorando a qualidade de vida do paciente. Considerando que as doenças cardiovasculares correspondem às principais causas de morte nomundo (31%), 17 desenvolver estratégias que gerem produtos biocompatíveis para essa aplicação e mais próximos do tecido natural é de grande importância para a medicina regenerativa, disponibilizando novas alternativas na busca de um biomaterial cardíaco ideal. 1. Hacker MC, Krieghoff J, Mikos AG, Synthetic Polymers. In Principles of Regenerative Medicine , 3 ed. Atala A, Ed. Academic Press: 2018; p. 1428. 2. Hench LL, Polak JM. Third-Generation Biomedical Materials. 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Available from: https://www.who.int/cardiovascular_diseases/world-heart-day/en/ Referências Este é um artigo de acesso aberto distribuído sob os termos da licença de atribuição pelo Creative Commons 19

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