ABC | Volume 113, Nº1, Julho 2019

Artigo Original Wollmann et al Caracterização do pericárdio descelularizado Arq Bras Cardiol. 2019; 113(1):11-17 Tabela 1 – Concentração de colágeno, glicosaminoglicanos e DNA no pericárdio humano descelularizado Colágeno µg/mg Glicosaminoglicano µg/mg DNA ng/mg Pericárdio fresco 126,9 ± 45,8 0,64 ± 0,50 1591 ± 726,0 Pericárdio descelularizado 138,3 ± 58,6 0,02 ± 0,06 511,23 ± 120,4 Valor de p 0,716 0,014 < 0,001 Quantificação de DNA A quantidade de DNA no tecido de pericárdio fresco com todos os componentes celulares foi 1591 ± 726 ng por mg de peso seco, ao passo que no pericárdio descelularizado, a quantidade de DNA foi reduzida para 511.23 ± 120.4 ng por mg de peso seco. (p < 0,001) (Tabela 1). Efeito da descelularização sobre o teor de GAGs e colágeno A concentração de colágeno por mg de peso seco do pericárdio humano antes e a após a descelularização foi 126,9 ± 45,8 e 138,3 ± 58,6 µg/mg de tecido seco, respectivamente (p = 0,716). Após a descelularização, observou-se um pequeno aumento na concentração de colágeno no tecido de pericárdio fresco. A concentração de GAGs foi 0,64 ± 0,50 e 0,02 ± 0,06 por mg de tecido seco antes e a após a descelularização, respectivamente (p = 0,014) Análise de citotoxicidade O pericárdio humano descelularizado (n=3) foi incubado por 24 horas (Figura 2A). A descelularização não teve efeito sobre as células, apontado pela morfologia normal das células após a incubação. O controle negativo também não teve efeito sobre as células (Figura 2B), ao passo que o látex (controle positivo) causou morte celular (Figura 2 C). Estudo biomecânico Não houve diferença estatística (teste deWelch: p=0,9518) na espessura do pericárdio entre o tecido fresco e o tecido descelularizado (0,45 ± 0,06 mm e 0,44 ± 0,05 mm), respectivamente. A resistência de tração, alongamento e módulo de elasticidade elástico são apresentados em gráficos de dispersão em colunas (Figuras 3A, B e C), em média e DP. A diferença média entre os grupos não foi estatisticamente significativa para nenhuma das características. A curva da média stress -tensão dos tecidos fresco e descelularizado são apresentados na Figura 3D, o que demonstra o comportamento típico de tecidos biológicos descrito anteriormente. 20 Também é possível observar que o comportamento das curvas foi similar na fase inicial até a fase de transição, mantendo-se praticamente paralelas até a tensão máxima. Discussão O objetivo da descelularização é minimizar a resposta imune por meio da total remoção dos componentes celulares, bem como pela preservação das características físicas da MEC. 2,21 O tecido descelularizado ideal deve atingir completa descelularização e preservação da MEC quanto à estabilidade e função biomecânica. Porém, reconhece-se que qualquer protocolo de descelularização pode resultar na ruptura da MEC e potencial perda da estrutura e composição da superfície. 2 No presente estudo, a análise histológica mostrou que, apesar de a maioria dos componentes celulares ter sido removido, houve redução de alguns componentes da MEC e aumento da espessura do tecido descelularizado. Resultados semelhantes foram descritos por Courtman et al., 22 com aumento em três vezes na espessura do tecido. No entanto, no estudo de Mirsadraee et al., 23 em que se utilizou um protocolo de descelularização com SDS, não foram observadas mudanças significativas no pericárdio humano descelularizado em comparação ao pericárdio fresco na análise histológica. No presente estudo, o pericárdio humano descelularizado apresentou pequeno aumento na quantidade de colágeno e uma redução significativa na quantidade de GAGs. Esses dados estão de acordo com os relatados por Mendoza-Novelo et al., 24 que mostraram uma redução na quantidade de GAGs no pericárdio fresco após a descelularização com tridecil álcool etoxilado e dilatação reversível em meio alcalino. 24 Por outro lado, Mirsadraee et al., 23 relataram um pequeno aumento no teor de hidroxiprolina e GAG no tecido após a descelularização. Os autores concluíram que o aumento de hidroxiprolina deveu-se ao aumento relativo na proporção dessas moléculas em relação ao peso seco, dada a perda de proteínas solúveis e componentes celulares. A fim de assegurar uma remoção residual adequada, foram realizados testes de citotoxicidade para determinar o efeito de resíduos químicos presentes no tecido descelularizado sobre o crescimento de células L929. Os resultados do teste mostraram crescimento adequado das células em contato com amostras do pericárdio humano descelularizado, indicando que os tecidos descelularizados eram atóxicos. Esse resultado também se correlaciona com dados de um estudo prévio 23 com pericárdio humano descelularizado. Nós comparamos as propriedades mecânicas do pericárdio fresco e do pericárdio descelularizado, e não observamos diferenças significativas entre elas. A descelularização com SDS em si não modifica o desempenho do pericárdio humano quanto aos parâmetros de resistência de tração, alongamento e módulo de elasticidade. Esses resultados haviam sido avaliados em pericárdio humano acelular. 23 Em um estudo mais recente, em comparação ao pericárdio fresco, as propriedades biomecânicas do pericárdio descelularizado e criopreservado foram mantidas. 25 No entanto, este estudo não avaliou o desempenho do implante de pericárdio humano descelularizado. A análise in vitro não é suficiente para confirmar completa 15

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