ABC | Volume 113, Nº1, Julho 2019

Posicionamento Posicionamento sobre Indicações da Ecocardiografia em Adultos – 2019 Arq Bras Cardiol. 2019; 113(1):135-181 há espessamento das valvas atrioventriculares, das paredes miocárdicas e, eventualmente, do septo atrial, com reflexão (ecorrefringência) mais intensa e aspecto granuloso do miocárdio. 83 A análise do SLG do VE ao ecocardiograma 2D na amiloidose encontra valores bastante reduzidos, especialmente nos segmentos médios e basais, com relativa preservação apical (auxilia no diagnóstico diferencial com outras doenças). 84 Na EMF, observam-se: obliteração do ápice pela fibrose, sinais de restrição ventricular e envolvimento das valvas atrioventriculares. Diferencia-se a fibrose dos trombos apicais porque não há acinesia ou discinesia na EMF esquerda. Outro diagnóstico diferencial é a CMH apical, que não apresenta espessamento endocárdico ou padrão restritivo e tem alterações eletrocardiográficas específicas. A sarcoidose cardíaca pode apresentar anormalidades contráteis regionais e aneurismas de distribuição não isquêmica. A medida do SLG representa um marcador precoce do envolvimento miocárdico na sarcoidose e a magnitude da redução associa-se com pior prognóstico. 85 As recomendações para realização do ETT na CMR estão dispostas na tabela 3. O ecocardiograma transesofágico (ETE) está indicado quando existem dificuldades técnicas ao ETT e na monitorização transoperatória da ressecção da fibrose e correção dos defeitos valvares por via apical. 2.3.8. Cardiomiopatia Arritmogênica (Displasia Arritmogênica do Ventrículo Direito) A cardiomiopatia arritmogênica (CA) é considerada uma cardiomiopatia hereditária, com transmissão autossômica dominante, predispondo ao surgimento de arritmias ventriculares, morte súbita em jovens, disfunção ventricular e insuficiência cardíaca. Devido ao envolvimento frequente do VE, recomenda-se atualmente empregar o termo CA, que abrange ambos os ventrículos, em substituição ao termo “displasia arritmogênica do VD”. 86 A doença é caracterizada por uma substituição progressiva do miocárdio ventricular por tecido fibroso e adiposo, podendo levar a um adelgaçamento da parede e formação de aneurisma. No VD, o processo localiza-se tipicamente nas paredes inferior, apical e infundibular (triângulo da displasia), podendo Tabela 3 – Recomendações do ecocardiograma nas cardiomiopatias restritivas Recomendação Classe de recomendação Nível de evidência Investigação diagnóstica de pacientes com quadro de insuficiência cardíaca sem etiologia esclarecida I C Diagnóstico diferencial de pacientes com síndrome restritiva I C Pacientes sintomáticos portadores de doenças sistêmicas potencialmente causadoras de CMR I C Pacientes com síndrome hipereosinofílica, ascite e turgência das veias jugulares I C Pacientes com ascite e edema de membros inferiores, sem diagnóstico estabelecido I C Pacientes submetidos à radioterapia com sinais de hipertensão venosa sistêmica I C Reavaliação de pacientes com diagnóstico prévio de CMR quando há mudança do curso clínico da doença I C Portadores de EMF para planejamento terapêutico e avaliação prognóstica IIa C Pacientes com edema e ascite, com evidências de pressão venosa sistêmica normal e sem qualquer evidência de cardiopatia III C CMR: cardiomiopatias restritivas; EMF: endomiocardiofibrose. ser difuso ou segmentar. O envolvimento do VE ocorre em mais da metade dos casos, tipicamente localizado no subepicárdio ou mesocárdio, e muitas vezes confinado ao segmento inferolateral. A ecocardiografia é a modalidade de imagem de escolha na avaliação inicial da CA (Tabela 4) e o método propedêutico mais utilizado no acompanhamento dos pacientes. 87 As características morfológicas típicas em pacientes com CA incluem anormalidades contráteis regionais e/ou dilatação e disfunção ventricular direita. Entre os critérios ecocardiográficos tradicionais, derivados do ecocardiograma 2D, propostos para o diagnóstico de CA, 88 estão: presença de acinesia, discinesia ou aneurisma ventricular direito; diâmetro aumentado da via de saída do VD (medidas no eixo paraesternal longo e curto); e redução da variação fracional da área do VD. Recentemente, recomendou-se a adição rotineira e sistemática de outras medidas e técnicas ecocardiográficas para melhor avaliação: 89 • Parâmetros convencionais: diâmetro basal do VD (normal ≤ 41 mm); excursão sistólica do plano anular tricúspide (TAPSE – normal ≥ 17 mm). • Parâmetros avançados: onda s’ ao Doppler tecidual da parede livre do VD (normal ≥ 9,5 cm/s); strain longitudinal da parede livre do VD (normal ≥ -20%); SLG do VE (normal ≥ -18%); fração de ejeção do VD ao ecocardiograma 3D (normal ≥ 45%). Em resumo, o ETT, preferencialmente com análise de parâmetros convencionais e avançados, está indicado em pacientes com CA suspeita ou estabelecida (avaliação da progressão da doença), bem como na triagem familiar de parentes de primeiro grau. 2.3.9. Cardiomiopatia Nao Compactada A cardiomiopatia nao compactada (CMNC) é considerada uma cardiomiopatia distinta, marcada por heterogeneidade genética, com uma sobreposição de fenótipos diferentes e grande variabilidade de apresentação clínica. Como consequência, existe ainda controvérsia na literatura em relação à sua nomenclatura: enquanto para a American Heart Association (AHA) 90 é considerada uma cardiomiopatia 147

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