ABC | Volume 113, Nº1, Julho 2019

Editorial Mesquita et al. Dia de alerta da insuficiência cardíaca Arq Bras Cardiol. 2019; 113(1):5-8 diretos. Estudo recente estima que cerca de R$ 22,1 bilhões/ US$ 6,8 bilhões foram gastos no tratamento da IC em nosso país, somente no ano de 2015, 8 podendo representar 68% dos custos com hospitalizações, como observado nos EUA e Europa, devido a técnicas diagnósticas onerosas, alto custo de medicamentos, intervenções e dispositivos. Portanto, reduzir as admissões hospitalares é crítico para a redução dos custos, além das limitações físicas e psicológicas que podem ser agravadas nesses pacientes, em particular os sintomas depressivos e a ansiedade. A prevalência crescente das internações, estimada em alguns centros em até 25%, e a elevada morbimortalidade hospitalar principalmente no que tange a presença de comorbidades, como a insuficiência renal, vêm sendo documentada em diferentes estudos. 9,10 Os dados do setor privado começam a ser descritos e publicados como aqueles presentes no Observatório da Associação Nacional dos Hospitais Privados (ANAHP) a respeito dos pacientes admitidos por IC nesse grupo de hospitais, que possuem acreditação e protocolos para atendimento dessa população. Dados do Observatório de 2019 11 mostram, nos respectivos anos de 2017 e 2018, mediana de permanência de 7,56 e 6,72 (DP=3,72), mortalidade de paciente internado de 7,49% e 5,26% (DP = 7,45%), taxa de utilização de inibidores da enzima conversora da angiotensina (iECA) ou antagonistas do receptor da angiotensina (ARA) na alta de 89,43% e 88,41% (DP = 17,40%) e taxa de betabloqueador na alta de pacientes elegíveis de 93,29% e 94,29% (DP = 10,09%). Conhecer essa variabilidade no cuidado e nos desfechos da IC torna-se importante para colaborarmos com a melhoria da qualidade da assistência em nosso país. Através do registro BREATHE, o DEIC tem estudado pacientes de diferentes regiões do país e comprovou a elevada mortalidade intra‑hospitalar nos admitidos com IC aguda associada à baixa taxa de prescrição de medicamentos baseados em evidências no Brasil. 12 Fonseca et al., 13 nos mostram que, através das alterações demográficas observadas ao longo dos anos em Portugal continental e das práticas clínicas atualmente empregadas, em cerca de 40 anos, o país chegará a meio milhão de pacientes em tratamento para a IC, ressaltando a extrema necessidade de conscientização, melhoria da referência e assistência para que o peso da síndrome no país possa ter sua representatividade diminuída. Também denotam a importância de otimizar as estratégias de atendimento, organizar os serviços essenciais de saúde, promover a adequação respeitando as características regionais evitando um modelo único de atuação, reiterando a necessidade de debates organizados em todos os níveis de assistência dessa população. 14 Corroborando essa necessidade de adequação e regionalização, Kaufman et al., 15 demonstram que, ao observarmos os últimos 12 anos da IC no Brasil, a região Sudeste foi a que apresentou o maior número de internações hospitalares, sendo responsável pelo total de 41,4% das internações conforme dados do DATASUS. Na caracterização dessa população na América do Sul, o Brasil contribui com a maior parte dos estudos, representando 64% da produção de dados publicados, sendo o único até o momento a apresentar a sua incidência em estudo populacional. 16 O DEIC/SBC tem continuamente utilizado sua Diretriz de Insuficiência Cardíaca Aguda e Crônica publicada em 2018 para a garantir as melhores evidências científicas disponíveis nas áreas de diagnóstico e tratamento. 3 Em relação ao papel do diagnóstico e início do tratamento, muitos pacientes ainda são diagnosticados em sua primeira internação por IC aguda. Tal fato demonstra a necessidade de maior investimento na educação continuada de médicos de família, clínicos e cardiologistas responsáveis pelo atendimento em clínicas de família, unidades básicas de saúde e consultórios, e no atendimento multidisciplinar e organizado, de forma a termos uma coordenação da linha de cuidados, protocolos de cuidados paliativos, em suma, uma atenção baseada em times dedicados à IC. Na experiência da Alemanha, demonstra‑se que 63,2% dos novos casos foram identificados em consultórios e 94% dos pacientes diagnosticados receberam a sua primeira prescrição do médico de família. Os casos de IC em pacientes hospitalizados, onde se observou o diagnóstico prévio através do não especialista em 70.7%, reafirmam a estratégia de investimento nos mecanismos de reconhecimento da doença nessa parcela de profissionais. 17 Em nosso país, não dispomos de um processo assistencial embasado no cuidado integral ao paciente de uma forma padronizada, o que leva ao retardo do diagnóstico em muitos, sem haver o reconhecimento dos sinais e sintomas por indivíduos e cuidadores. Assim sendo, o processo de educação, de reconhecimento dos sintomas de alerta e de tratamento são necessidades imperiosas, e iniciativas que possam promover essa literacia ligada à IC, fundamentais para a melhoria da qualidade de cuidados. Ao lado disso, o acesso aos exames complementares que comprovem a objetiva presença de IC, como os biomarcadores peptídeo natriurético Figura 1 – A) Nota de dez mil cruzados em homenagem a Carlos Chagas – “O notável em seu laboratório” – lançada em 1988. B) Selo comemorativo do XXXV Congresso Brasileiro de Cardiologia em homenagem a Carlos Chagas, 1979. C) Selo Comemorativo do Dia Nacional da Saúde – Mal de Chagas, 1980. 6

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