ABC | Volume 112, Nº6, Junho 2019

Correlação Anatomoclínica Caso 3/2019 – Homem Jovem com Quadro de Dispneia Intensa, Infiltrado Pulmonar, Área Cardíaca Normal e Obliteração da Ponta do Ventrículo Esquerdo Case 3/2019 – Young Male with Intense Dyspnea, Pulmonary Infiltrate, Normal Cardiac Area and Obliteration of the Apical Portion of the Left Ventricle Victor Sarli Iss a e Luiz Alberto Benvenu ti Instituto do Coração (InCor) HC-FMUSP, São Paulo, SP – Brasil Correspondência: Vera Demarchi Aiello • Avenida Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 44, subsolo, bloco I, Cerqueira César. CEP 05403-000, São Paulo, SP – Brasil E-mail: demarchi@cardiol.br , anpvera@incor.usp.br Palavras-chave Adulto Jovem; Insuficiência Cardíaca/fisiopatologia; Hipotireodismo; Cardiomiopatia Hipertrófica; Tabagismo; Hi pe r co l e s t e r o l emi a ; Di agnós t i co po r Imagem; Inflamação; Pneumonia. Editor da Seção: Alfredo José Mansur (ajmansur@incor.usp.br) Editores Associados: Desidério Favarato (dclfavarato@incor.usp.br ) Vera Demarchi Aiello (anpvera@incor.usp.br) DOI: 10.5935/abc.20190105 Homem de 25 anos de idade foi internado por dispneia intensa, mesmo no repouso e com tosse produtiva. O paciente foi atendido uma semana antes com queixa de dor dorsal com irradiação para região precordial desencadeada por esforços, como subir escadas e caminhar um quarteirão que se iniciaram duas semanas antes desse atendimento. Opaciente era fumante (8 anos-maço) e informou ser portador de hipotireoidismo após tratamento com iodo radioativo. Exames prévios foram feitos para liberação de prática de exercícios. O eletrocardiograma (ECG) (24 de novembro de 2010) mostrou sobrecarga de átrio esquerdo e de ventrículo esquerdo com strain . Houve acentuação do infradesnivelamento de ST no teste ergométrico. Na internação (14 de outubro de 2011) havia frequência cardíaca 100 bpm, pressão arterial 100/70 mmHg, e exame físico normal. O ECG (14 de outubro de 2011) revelou taquicardia sinusal (101 bpm), intervalo PR 144 ms, duração de QRS 103 ms, QTc 451 ms, sobrecarga de câmaras esquerdas e alterações secundárias da repolarização ventricular (Figura 1). A radiografia de tórax (14 de outubro de 2011) foi normal. (Figura 2) Os exames laboratoriais (14 de outubro de 2011) revelaram: hemácias 4.600.000/mm³, hemoglobina 14 g/dL, hematócrito 39%, VCM 85 fL, RDW-CV 12,9%, leucócitos 11.110/mm³ (72% neutrófilos, 7% eosinófilos, 17% linfócitos e 4% monócitos), plaquetas 185000/mm³, sódio 138mEq/L, potássio 4,5 mEq/L, TP (INR) 1, TTPA (rel) 0,93, dímero D 485 ng/mL, CK-MB 0,94 ng/mL, toponina I 0,535 ng/mL, uréia 35 mg/dL, creatinina 0,94 mg/dL. No dia seguinte – CK-MB 0,71 ng/mL, troponina I 0,511 ng/mL; colesterol total 219 mg/dL, HDL-c 25 mg/dL, LDL-c 171 mg/dL, triglicérides 116 mg/dL, glicose 92 mg/dL. O ecocardiograma (17 de outubro de 2011) revelou diâmetros de aorta 27 mm, de átrio esquerdo 43 mm, espessura de septo 11 mm, parede posterior 10 mm, diâmetros de ventrículo direito normais e do esquerdo (diástole/sístole) 54/34 mm, fração de ejeção 65%; hipertrofia de grau acentuado em toda sua região médio apical, padrão enchimento pseudonormal. Não havia alteração valvar ou obstrução em via de saída de ventrículo esquerdo. A angiotomografia coronária (18 de outubro de 2011) não revelou calcificações ou lesões coronárias. Contudo, foram observadas dilatação de átrio esquerdo e obliteração da porção apical do ventrículo esquerdo. Foram feitos os diagnósticos de cardiomiopatia hipertrófica e hipercolesterolemia. Foram prescritos 50 mg de atenolol, 100 µg de levotiroxina e 20 mg de omeprazol e encaminhado para seguimento ambulatorial (18 de outubro de 2011). Quatro dias após a alta hospitalar (22 de outubro de 2011) o paciente procurou atendimento médico de emergência por dispneia intensa, mesmo no repouso e no decúbito, além de tosse produtiva. O exame físico (22 de outubro de 2011) revelou frequência cardíaca de 101 bpm, pressão arterial 112/70 mmHg, ausculta pulmonar com estertores crepitantes difusos, ausculta cardíaca sem alterações, abdome sem alterações e discreto edema de pernas e pés, sem sinais sugestivos de trombose venosa profunda. O ECG (22 de outubro de 2011) foi semelhante ao anterior com taquicardia sinusal, sobrecarga de câmaras esquerdas e com infradesnivelamento de segmento ST com concavidade superior e acentuação da negatividade de onda T nas derivações V 3 a V 6 . (Figura 3). Na radiografia de tórax (23 de outubro de 2011) observou‑se infiltrado alveolar difuso bilateral. (Figura 4) Os exames laboratoriais (22 de outubro de 2011) mostraram: hemácias 3700000/mm³, hemoglobina 11,6 g/dL, hematócrito 31%, VCM 84 fL, RDW-CV 13,2%, leucócitos 4100/mm³ (18% bastões, 67% segmentados, 2% eosinófilos, 11% linfócitos e 2% monócitos), plaquetas 207000/mm³, creatinina 1,06 mg/dL, ureia 35 mg/dL, BNP 1296 pg/mL, potássio 4 mEq/L, sódio 132 mEq/L, lactato arterial 7 mg/dL, urina I: densidade 1, 009, ph = 5,5, proteínas 0,5 g/L, leucócitos 2000/mL, hemácias 79000/mL e presença de hemoglobinúria intensa. 793

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