ABC | Volume 112, Nº6, Junho 2019

Artigo de Revisão Mesquita et al ICFEI – estado da arte Arq Bras Cardiol. 2019; 112(6):784-790 incidência de ICFEI com outros subtipos de IC. Entretanto, um maior IMC foi um preditor de ICFEP, mas não de ICFEI, e peptídeos natriuréticos foram preditores mais robustos de ICFER do que de ICFEI. O registro Swedish Heart Failure 24 concluiu que o valor mediano do NT-proBNP na ICFEI foi de 1.540 pg/ml com variação interquartil de 652 - 3.317. Esse valor foi minimamente e não significativamente maior que na ICFEP, mas foi significativamente menor que na ICFER (p < 0,001). O estudo de Moliner et al., 29 também concluiu que os níveis de NT-proBNP na ICFEI foram significativamente menores que na ICFER (p = 0,02), mas semelhantes aos níveis na ICFEP (p = 0,88). Todos os demais biomarcadores foram semelhantes entre ICFER e ICFEI. Cistatina-C e ST2 foram significativamente menores na ICFEI que na ICFEP (p = 0,01 e p = 0,02, respectivamente). Galectina-3 e receptor solúvel de transferrina foram relativamente menores na ICFEI que na ICFEP, mas a diferença não foi estatisticamente significativa. Fisiopatologia Na diretriz de 2016, a ESC sugeriu que a ICFEI pode ter tanto uma contribuição leve da disfunção sistólica, quanto uma contribuição da disfunção diastólica. 3 Um estudo recente publicado por Rastogi et al., 30 observou que a ICFEI é composta por um grupo heterogêneo de pacientes, sendo constituído por pelo menos 3 subgrupos baseados na FEVE, sendo eles: pacientes com uma FEVE anterior < 40% (ICFEI recuperada), pacientes com FEVE anterior > 50% (ICFEI deteriorada) e pacientes com FEVE anterior entre 40–50% (ICFEI inalterada). 30 A maioria dos pacientes deste estudo foram classificados como ICFEI recuperada (73%), enquanto 17% dos pacientes foram classificados como ICFEI deteriorada e apenas 10% foram categorizados como ICFEI inalterada. 30 Ainda nesse estudo, o subgrupo com ICFEI recuperada teve maior prevalência de pacientes do sexo masculino e maior prevalência de pacientes com DAC, compatível com as características de pacientes com ICFER. Em contraste, o subgrupo com ICFEI deteriorada era composto mais por mulheres com história de hipertensão e fibrilação ou flutter atrial, assim como pacientes com ICFEP. Outra observação importante foi que no subgrupo com ICFEI deteriorada, os pacientes apresentavam uma disfunção diastólica significativamente mais avançada pelo ecocardiograma quando comparado com pacientes com ICFEI recuperada. 30 Um achado comum em diferentes coortes 13,14,31 foi que a ICFEI se assemelhou a ICFER em relação a alta prevalência de DAC e a um maior risco de novos eventos de DAC. No registro Swedish Heart Failure não foi observada diferença entre as prevalências de DAC entre ICFEI (61%) e ICFER (60%), enquanto a ICFEP foi associada a uma menor prevalência (52%). 14 Chioncel et al., 31 com base no registro de longa duração para IC da ESC, constataram que a etiologia isquêmica foi presente em 48,6% dos pacientes com ICFER, 41,8% dos pacientes com ICFEI, mas apenas em 23,7% dos pacientes com ICFEP. Na análise post-hoc do estudo TIME-CHF, 24 a etiologia isquêmica foi de 58,2%, 56,5% e 31,3% para ICFER, ICFEI e ICFEP, respectivamente. Portanto, em termos de etiologia, os pacientes com ICFEI são mais semelhantes aos de ICFER que aos de ICFEP. Prognóstico Tanto o estudo CHARM, quanto a metanálise de prognóstico realizada por Altaie et al., 32 concluíram que a mortalidade por todas as causas em pacientes com ICFEI é significativamente menor que nos pacientes com ICFER (p < 0,001 e RR 0,9; 95% IC 0,85–0,94; p < 0,001, respectivamente) e estatisticamente semelhante aos pacientes com ICFEP (HR 0,98; IC 95% 0,82–1,19; p = 0,88 e RR 0,98; 95% IC 0,86–1,12; p = 0,82, respectivamente). 27,32 Quanto a mortalidade por causa cardíaca, a metanálise de Altaie et al., 32 concluiu que não houve diferença significativa entre a ICFER e ICFEI (RR 0,89; 95% IC; 0,69–1,15; p = 0,38), enquanto a ICFEP apresentou mortalidade por causa cardíaca significativamentemaior (RR1,09; 95% IC1,02–1,16; p=0,001). Na análise do prognóstico separando os subgrupos de ICFEI, no estudo de Rastogi et al., 30 a coorte de pacientes com ICFEI recuperada mostrou desfechos clínicos significativamente melhores em relação a pacientes com ICFER, ajustando para idade e gênero. Em contraste, os desfechos clínicos do subgrupo com ICFEI deteriorada não foram significativamente diferentes em relação a pacientes com ICFEP, quando ajustados para os mesmos fatores. 30 Ao observar o tempo até a morte/transplante/hospitalização cardíaca entre os subgrupos, a ICFEI recuperada teve significativamente um melhor prognóstico em comparação com a ICFEI deteriorada (p = 0,011), enquanto não houve uma diferença significativa entre os dois grupos e a ICFEI inalterada. 30 Hospitalização Quanto a hospitalização os estudos diferiram. A metanálise de Altaie et al., 32 demonstrou que não houve diferença significativa na hospitalização por todas as causas tanto entre ICFER e ICFEI, quanto entre ICFEP e ICFEI (RR 0,91; IC 95% 0,18–4,59; p = 0,9; e RR 0,95; IC 95% 0,84–1,07; p = 0,38, respectivamente). Quanto à hospitalização por IC, a metanálise também não demonstrou diferenças significativas entre ICFER e ICFEI ou entre ICFEP e ICFEI (RR 0,92; IC 95% 0,84–1,01; p = 0,08; e RR 1,05; 95% IC 0,83–1,33; p = 0,69, respectivamente). Entretanto, no estudo CHARM a hospitalização por todas as causas foi significativamente menor em pacientes com ICFEI quando comparado ao fenótipo de ICFEP (HR 0,89; IC 95% 0,81–0,98; p = 0,02). 27 Ao comparar os diferentes subgrupos de ICFEI da coorte de Rastogi et al., 30 a ICFEI recuperada apresentou um melhor prognóstico em comparação com a ICFEI deteriorada (p = 0,029) ao observar o tempo até a primeira hospitalização por evento cardíaco. Entretanto, não houve diferença significativa em relação ao subgrupo de ICFEI inalterada em relação aos outros dois. Tratamento farmacológico e manejo de comorbidades No estudo TOPCAT a espironolactona não apresentou efeito no desfecho primário (composto por morte cardiovascular, parada cardíaca ou hospitalização por IC), contudo, houve redução nas hospitalizações por IC no grupo de tratamento com maior benefício observado em pacientes com FEVE de 45% a 50%. 33 Já o estudo de Yan-guo Xin et al., 34 que avaliou o uso da espironolactona em 229 pacientes com diagnóstico ICFEI, 787

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