ABC | Volume 112, Nº6, Junho 2019

Artigo de Revisão Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejeção Intermediária - Estado da Arte Heart Failure with Mid-Range Ejection Fraction – State of the Art Evandro Tinoco Mesquita , Letícia Mara dos Santos Barbetta , Eduardo Thadeu de Oliveira Correi a Hospital Universitário Antônio Pedro, Niterói, RJ – Brasil Palavras-chave Insuficiência Cardíaca/fisiopatologia; Fração de Ejeção Ventricular; Peptídeos Natriuréticos; Diagnóstico por Imagem; Eletrocardiografia; Ecocardiografia; Imagem por Ressonância Magnética. Correspondência: Letícia Mara dos Santos Barbetta • Hospital Universitário Antônio Pedro - Av. Marquês do Paraná, 303. CEP 24033-900, Niterói, RJ – Brasil E-mail: leticiabarbetta@gmail.com Artigo recebido em 20/08/2018, revisado em 26/12/2018, aceito em 13/02/2019 DOI: 10.5935/abc.20190079 Resumo Em 2016, a Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC) reconheceu a insuficiência cardíaca (IC) com fração de ejeção do ventrículo esquerdo entre 40% e 49% como um novo fenótipo de IC, a IC com fração de ejeção intermediária (ICFEI), tendo como principal intuito, incentivar estudos sobre essa nova categoria. Em 2018, a Sociedade Brasileira de Cardiologia aderiu a essa classificação e introduziu a ICFEI no Brasil. O presente trabalho traz uma revisão narrativa sobre o que a literatura descreve até o momento sobre ICFEI. A prevalência de pacientes com ICFEI variou de 13-24% dos pacientes com IC. Quando avaliadas as características clínicas, a ICFEI apresenta um caráter intermediário ou se assemelha algumas vezes com a IC de fração de ejeção preservada (ICFEP) e outras com a IC de fração reduzida (ICFER). Quanto ao prognóstico, a ICFEI apresenta mortalidade por todas as causas semelhante a ICFEP e menor que a ICFER. Os estudos que analisaram a mortalidade por causa cardíaca concluíram que não houve diferença significativa entre ICFEI e ICFER, sendo ambas menores que a ICFEP. Apesar do considerável aumento de publicações sobre a ICFEI, ainda existe uma grande carência de estudos prospectivos e ensaios clínicos que possibilitem delinear terapias específicas para esse novo fenótipo. O conhecimento das particularidades da ICFEI por cardiologistas e internistas é fundamental para o melhor manejo desses pacientes. Introdução A classificação e caracterização dos fenótipos de insuficiência cardíaca (IC) são de grande relevância na prática clínica, visto que esses fenótipos atualmente são baseados na fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) e possuem diferentes características entre si em relação ao prognóstico e tratamento. 1 Classicamente têm sido descritos 2 principais modelos de IC, a IC de fração reduzida (ICFER) com FEVE < 40% e a IC de fração de ejeção preservada (ICFEP) com FEVE ≥ 50%. 2-4 Na atual década diferentes diretrizes têm proposto um novo fenótipo, a IC com fração de ejeção intermediária (ICFEI). Em 2013 a American College of Cardiology/American Heart Association publicou uma nova diretriz de IC, na qual pacientes com FEVE entre 41% e 50% foram classificados como ICFEP “Borderline”. 2 Em 2016, a Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC) reconheceu a IC com FEVE entre 40% e 49% como um fenótipo distinto, a ICFEI, principalmente com o intuito de estimular estudos que abordem a epidemiologia, etiologia, características, prognóstico e tratamento dessa nova categoria. 3 Por fim, em 2018, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) em sua nova diretriz sobre IC aguda e crônica, introduziu a ICFEI como um novo fenótipo clínico. 5 Com a introdução desse novomodelo, a ICFEI tem recebido grande atenção, sendo melhor estudada e caracterizada. A presente revisão narrativa tem como objetivo descrever o que é conhecido sobre a ICFEI atualmente e discutir perspectivas futuras que contribuirão para uma melhor abordagem desse grupo de pacientes. Epidemiologia Prevalência Nos Estados Unidos é estimado que mais de 6,5 milhões de pessoas possuam IC, 6 sendo a porcentagem de indivíduos com ICFEI entre 13 e 24% desses pacientes. 7,8 A prevalência de ICFEI em estudos realizados com pacientes hospitalizados variou de 13% a 26%, 7,9-12 enquanto a prevalência de ICFEI em pacientes ambulatoriais variou entre 9% a 21%. 8,13-17 No último censo do IBGE, no ano de 2010, observou-se crescimento da população idosa no Brasil e, com isso, um grande potencial de crescimento de pacientes em risco ou portadores de IC. No estudo DIGITALIS, realizado na cidade de Niterói, foi identificada uma prevalência de 9,3% de IC em pacientes do programa médico de família (59 indivíduos entre 633 voluntários), 18 sendo que 64,2% desses pacientes foram caracterizados como portadores de ICFEP e 35,8% de ICFER. 18 Recentemente, em dados ainda não publicados, baseados no banco de dados do estudoDIGITALIS, a prevalência de pacientes com ICFEI em Niterói foi de 22%, de ICFER 19% e ICFEP 59%. Diagnóstico De acordo com a última diretriz de IC aguda e crônica da SBC, 5 o diagnóstico de IC está embasado na combinação de 784

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