ABC | Volume 112, Nº6, Junho 2019

Artigo Original Andrade et al. “Bundle” de prevenção de sítio cirúrgico em cirurgia cardíaca Arq Bras Cardiol. 2019; 112(6):769-774 Tabela 2 – Análise Multivariada. Regressão de Poisson Fator de Risco Razão de Chances (OR) Intervalo de Confiança (IC) p Índice de Risco Cirúrgico 2,575 1,224-5416 0,013 SUS x Convênio 1,473 0,974-2,229 0,067 Hipertensão arterial sistêmica 1,770 0,877-3,573 0,111 Diabete mellitus 1,678 1,168-2,409 0,005 Dislipidemia 1,083 0,777-1,510 0,637 Obesidade 2,068 1,457-2,936 < 0,001 Glicemia adequada (< 200 mg/dl) 1,077 0,724-1,601 0,715 Nível de Glicemia 1,004 1,001-1,007 0,007 SUS: Sistema Único de Saúde. ao “bundle” não se associou com redução do risco de infecções cirúrgicas. Em relação ao “bundle” de medidas do CDC, onde este estabelece medidas preventivas no que acerca o período perioperatório, estas sendo: a antibióticoprofilaxia nos períodos, pré, trans e pós operatório; a realização de tricotomia quando necessário, e sem o uso de lâminas; a realização dos cuidados com nível de glicemia no período pré e pós operatório; a normoterapia no que tange o perioperatório; a otimização de oxigenação tecidual; a preparação da pele com soluções alcoólicas; e por fim a utilização da Lista de Verificação de Segurança Cirúrgica. 3 O nível de glicemia isoladamente se associou com redução do risco de infecção cirúrgica, apesar disso, níveis dicotomizados abaixo de 200 mg/dl não se associaram com redução das taxas de infecção. Diversos estudos têm associado o nível de glicemia com o risco de infecção cirúrgica em cirurgia cardíaca. Existem evidências recentes de que com o rigoroso controle glicêmico (níveis menores que 180 mg/dl) pode se reduzir as taxas de ISC em pacientes que se submetem a procedimentos cirúrgicos. 3 Além disso, confirmando achado do nosso estudo o diagnóstico de diabetes mellitus, independente no nível de glicemia, aumenta o risco de ISC em cirurgia cardíaca. OProjeto de Melhoria do Cuidado Cirúrgico (SCIP), que foi desenvolvido em 2003 como uma parceria de qualidade nacional de organizações comprometidas com a melhoria da segurança da assistência cirúrgica através da redução de complicações pós‑operatórias, desenvolveu uma medida de núcleo para manter a glicose no sangue em um nível ≤ 180mg/dL durante o período peri‑operatório e pós-operatório com base em evidências de diminuição de ISC em cirurgia cardíaca. 10,13,14 A Sociedade Americana de Epidemiologia Hospitalar (SHEA) e a Sociedade Americana de Doenças (IDSA) também recomendam uma meta de ≤ 180 mg/dL de glicemia no período pós‑operatório imediato. Demonstrando quemantendo os níveis de glicemia a partir de 150 mg/dL a ≤ 180mg/dL há uma redução do risco de infecção de sítio cirúrgico em cirurgia cardíaca. 7,15 Em um estudo controlado randomizado, com um protocolo de insulina intravenosa utilizado para manter a glicemia ≤ 150 mg/dL, em 5510 pacientes submetidos a cirurgia cardíaca e com patologia de base de Diabetes Mellitus, demonstrou que a utilização deste protocolo é seguro e levou a uma redução de 77% das infecções do sítio cirúrgico. 16 Obesidade é um fator de risco para infecção de sitio cirúrgico em cirurgia cardíaca, colo-retal, ortopédica, cesarianas e cirurgia geral, pois o procedimento torna-se mais complexo e aumenta o tempo de permanencia cirúrgico, causando hipoxia tecidual, e hiperglicemia relacionada com a resistência a insulina do paciente obeso, contribuindo para o risco em ISC. Pacientes obesos tem maior risco de adquirir infecções, principalmente quando expostos a procedimentos cirúrgicos e internação em unidades de terapia intensiva. 17-19 Em um estudo nos EUA avaliou que pacientes cirurgicos obesos tem 4,7 vezes maior chance de risco de infecção e pacientes com obesidade mórbida apresentavam 6 vezes mais risco de infecção em comparação com pacientes de peso normal. 19 Ainda, estudo recente acompanhou 33.936 mil pacientes após cirurgia de revascularização do miocardio, e mostrou que os fatores que determinaram de alto risco de infecção cirúrgica incluírammulheres, obesidade, reoperações não planejadas e pacientes que permaneceram mais tempo internados. 20 Em nosso estudo o risco de infecção relacionado à obesidade foi de 2 vezes maior. O índice de risco cirúrgico é um bom preditor de risco em cirurgias. Emumestudo, o uso do IRIC contribuiu para estratificar as taxas de incidências de ISC emcirurgia cardiaca. Neste estudo a incidência de mediastinite foi de 0% quando o paciente teve uma pontuação de zero; 1,2%, o escore era de 1; e 2,3%quando era 2. 21,22 Nosso estudo demonstrou que em cirurgias limpas, o componente relacionado às patologias de base e estado físico do paciente (ASA) e o tempo de procedimento, mensurado pelo IRIC foi associado a um risco maior de infecção. Embora a obesidade e a diabetes mellitus sejam fatores não modificáveis na maioria das vezes, estas patologias podem sinalizar riscos maiores em que o profissional de saúde possa assumir um maior cuidado com o paciente, como por exemplo, cuidado estrito com a técnica cirúrgica, redução do espaço morto, circulação tecidual, cuidados no pós-operatório. Nosso estudo tem limitações. É um estudo retrospectivo a partir de um único centro de cardiologia. Embora tenhamos usado a avaliação de estado fisico do paciente e seus fatores de risco (ASA) e os riscos do procedimento (tempo de permanencia cirurgica), não incluímos na análise final alguns fatores de risco, tais como: antisepsia da pele do 772

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