ABC | Volume 112, Nº6, Junho 2019

Artigo Original Andrade et al. “Bundle” de prevenção de sítio cirúrgico em cirurgia cardíaca Arq Bras Cardiol. 2019; 112(6):769-774 Tabela 1 – Dados sóciodemográficos associados à infecção de sítio cirúrgico ISC (N/%) Sem infecção (N/%) Total (N) Sexo masculino 92 (64,8%) 1057 (67,9%) 1149 Tipo de procedimento – Revascularização do miocárdio 85 (8,4%) 923 (91,6%) 1008 – Substituição valvar 49 (34,5%) 545 (35,0%) 594 – Dissecção de aorta 8 (5,6%) 88 (5,7%) 96 Hipertensão 133 (94,3%) 1345 (87,2%) 1478 Tabagismo 63 (44,7%) 620 (40,2%) 683 Diabetes mellitus 75 (53,2%) 484 (31,4%) 559 Dislipidemia 58 (41,1%) 504 (32,7%) 562 Obesidade 38 (27,1%) 169 (11,0%%) 207 DPOC 7 (5,0%) 70 (4,5%) 77 Insuficiência Renal 9 (6,3%) 84 (5,4%) 93 Atendimento pelo SUS 112 (78,9%) 1061 (68,2%) 1173 A.S.A III 111 (78,2%) 1282 (82,4%) 1393 “Bundle” do uso de antibiótico adequado 33 (23,2%) 332 (21,4%) 365 “Bundle” Total de adequação completo 6 (4,3%) 61 (3,9%) 67 Óbito 11 (7,7%) 165 (10,6%) 176 ISC: infecções de sítio cirúrgico; DPOC: doença pulmonar obstrutiva crônica; SUS: Sistema Único de Saúde. Os dados sóciodemográficos dos pacientes que apresentaram infecção e sem infecção de sítio cirúrgico estão descritos na Tabela 1. Na análise bivariada as variáveis que se correlacionaram com infecção de sítio cirúrgico foram: hipertensão arterial (p = 0,01), diabete mellitus (p = 0,001), dislipidemia (p = 0,05), obesidade (p = 0,001), glicemia maior ou igual a 200 mg/dl (p = 0,03), tipo de internação SUS ou convênio (p = 0,008), índice de risco cirúrgico (p = 0,001). Na análise multivariada as variáveis que se associaram com o diagnóstico de infecção de sítio cirúrgico foram: índice de risco cirúrgico, obesidade, diabete mellitus e nível de glicemia (Tabela 2). Discussão A taxa de infecção de sítio cirúrgico em nosso estudo foi de 8,3%. Nos países desenvolvidos a taxa de infecção de sitio cirúrgico variam de 1,2-5,2%. Enquanto que em países em desenvolvimento esta taxa pode chegar a 11,8%. Índice superior às taxas de infecção geral em países desenvolvidos que variam de 1,2 a 5,2%, mas abaixo das taxas de países em desenvolvimento (11,8%). 3 As ISC pós cirurgia cardíaca em países em desenvolvimento podem variar de 3,5% a 21,0%. 4,5 Diabetes mellitus, nível de glicemia, obesidade e índice de risco cirúrgico são fatores associados com ISC, conforme o último relatório mundial da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2016) que reforça estes fatores em relação aos riscos que afetam as IRAS. 3 Os fatores de risco para as ISC são complexos, e a prevenção requer a integração de uma série de medidas antes, durante e depois da cirurgia. A prevenção é o principal foco do Institute for Healthcare Improvement (IHI) e do Projeto de Melhoria do Cuidado (SCIP) realizados nos EUA, onde recomendam um pacote de medidas preventivas para serem realizadas. 10 Estas medidas chamadas de “bundle” são realizadas em conjunto para obtermos melhores resultados do que quando aplicadas individualmente. Os “bundles” de prevenção de infecção de sitio cirúrgico em cirurgia cardíaca, envolvem o uso profilático de antibióticos no pré e pós-operatório imediato (até 48 horas da incisão); controle do nível glicêmico no primeiro e segundo pós-operatório; contorle de temperatura e oxigenação; e descoloniação dos pacientes com mupirocina intra-nasal e banho com clorexidina no pré-operatório. 3 , 7,10 Em nosso estudo, a adequação ao protocolo de profilaxia cirúrgica não se associou com redução das taxas de infecção de sitio cirúrgico. Estudos em procedimentos cirúrgicos indicam que o uso de antimicrobianos em até 60 minutos do início do procedimento tem se associado com a redução das taxas de infecção. 3,11,12 Em nosso estudo, 96% dos pacientes fizeram uso de uma cefalosporina de primeira geração ou uma cefalosporina de segunda geração. Meta análise evidenciou que o uso de cefuroxima como profilaxia de cirurgia cardíaca, demonstrou uma melhor proteção contra infecções respiratórias no pré‑operatório imediato. Apesar de o nosso estudo não ter avaliado este tipo de desfecho, não houve diferença na comparação de cefazolina (protocolo institucional vigente antes de maio de 2014) e cefuroxima (recomendação da instituição após junho de 2014) para a infecção de sitio cirúrgico – dado não demonstrado. O “bundle” de prevenção utilizado em nossa instituição de pesquisa incluiu seis medidas preventivas. A adesão completa 771

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