ABC | Volume 112, Nº6, Junho 2019

Artigo Original Rajão et al Disfunção tireoidiana subclínica e arritmias Arq Bras Cardiol. 2019; 112(6):758-766 taxa de prevalência de 12,7% para FA entre os 613 pacientes (idade média de 67,9 anos) com HiperTS (OR ajustado 2,8; IC 95% 1,3-5,8), mas os testes não foram realizados em um único laboratório. 15 Em um estudo de Gammage et al., a prevalência de FA foi de 9,5% entre indivíduos com HiperTS em uma coorte de 5.860 pacientes de cuidados primários com idade mediana de 72 anos (OR ajustado, 1,89; IC 95% 1,01-3,57), entretanto, os níveis de TSH adotados para definir o eutireoidismo eram mais elevados (5,5 μU/mL). 16 A prevalência de extra-sístoles no presente estudo também foi baixa (0,66% para ESV e 0,13% para EV), comparada à prevalência de EV no estudo HCHS/SOL (0,98% em homens e 0,53% em mulheres). 29 Em geral, as taxas de prevalência das outras arritmias foram semelhantes às encontradas nos estudos supracitados. Nenhuma associação foi observada entre ESVou EV e TDS, e não foramdetectadas diferenças nas médias de FC entre os grupos do presente estudo. Vadiveloo et al. demonstraram, nos dados de linha de base, umamaior prevalência de arritmias entre os participantes comHiperTS (2,7%vs. 1,4%, p<0,001), embora houvesse uma maior frequência de doença cardiovascular preexistente em sua coorte. 17 No presente estudo, foram identificadas medianas mais elevadas de T4L em participantes com taquicardia, embora ainda dentro dos limites da normalidade, o que poderia ser explicado pelo efeito fisiológico do hormônio tireoidiano no cronotropismo cardíaco. 37 Gammage et al. encontraram resultados semelhantes, com uma correlação positiva e direta entre os níveis de T4L e uma taquiarritmia (FA) em seu estudo transversal. 16 Surpreendentemente, as maiores medianas de TSH também foram associadas à taquicardia após ajuste para potenciais fatores de confusão, embora o provável mecanismo desta associação seja desconhecido. Pode-se especular que a DTS pode resultar em maiores repercussões eletrocardiográficas apenas em populações específicas com comorbidades mais graves. Na população do ELSA, a média de idade mais baixa (51 anos) e a menor prevalência de comorbidades do que nas populações recrutadas em serviços de cardiologia ou emergência podem explicar as discrepâncias em relação aos estudos anteriores, as quais também podem ser devidas aos diferentes limiares de TSH utilizados para definir o HipoTS (4,5 a 5,5 μU/mL vs. 4,0 μU/mL). 9,12,16 Os achados dos estudos mais relevantes relatando resultados concordantes ou discordantes com os do presente estudo estão resumidos na Tabela 5. Em consonância com estudos anteriores, 1,2,13 o HipoTS mostrou-se mais frequente do que o HiperTS no presente estudo (5,23% vs. 1,45%). Conforme esperado, o HipoTS mostrou-se mais frequente com o aumento da idade, sexo feminino, IMC mais alto e cor da pele branca. Em contraste, o HipoTS foi negativamente associado à cor da pele negra e ao status de ‘fumante atual’. 1,2,6 O HiperTS apresentou uma associação positiva e independente com o aumento da idade, sexo feminino e cor da pele negra, o que também é consistente com estudos de base populacional. 3,6 Os pontos fortes do presente estudo foram as grandes amostras multicêntricas, o rigor metodológico no recrutamento e coleta de dados, e a análise centralizada dos testes laboratoriais e ECGs. A coorte era composta por voluntários, majoritariamente indivíduos demeia-idade, recrutados fora do hospital e avaliados na ausência de qualquer doença aguda, o que provavelmente excluía doenças não-tireoidianas. As limitações deste estudo incluem as seguintes: o TSH foi medido apenas uma vez; as concentrações de T4L foram medidas apenas para aqueles participantes com níveis anormais de TSH, e um único ECG foi utilizado para o diagnóstico de arritmias; e não havia outros dados laboratoriais, clínicos ou ecográficos disponíveis para avaliar se as anormalidades dos testes laboratoriais realmente correspondem a DTS. Essa limitação deve ser levada em conta, especialmente considerando-se as medianas de TSH que indicaram DTS leve. Nem todos os ECGs estavam disponíveis para análise, porém, a idademédia dos participantes cujos ECGs foram analisados era maior que a da amostra total, o que pode efetivamente superestimar a prevalência geral de arritmias, e também corrobora a falta de associação com DTS. Somente 33 dos participantes apresentaram TSH > 10 μU/mL (4,73% de HipoTS) enquanto 35 apresentaram TSH < 0,1 μU/mL (18,13% de HiperTS). Além disso, algumas anormalidades verificadas no ECG forambastante incomuns, como distúrbios de ritmo, comuma prevalência demenos de 1%. Portanto, o poder estatístico para identificar associações entre esses subgrupos e alterações de ritmo e condução pode ter sido insuficiente. Uma avaliação longitudinal é necessária para determinar a incidência de arritmias, bem como seu risco relativo para cada um dos grupos de DTS. Conclusão O presente estudo fornece evidências contrárias à associação entre alterações eletrocardiográficas e DTS em uma população não-idosa aparentemente saudável. Entretanto, dadas as limitações inerentes a uma análise transversal, a falta dessa associação não pode ser definitivamente excluída neste momento, e uma avaliação longitudinal se faz necessária. Contribuição dos autores Concepção e desenho da pesquisa: Ribeiro ALP, Rajão KMAB, Passos VMA, Benseñor IJM, Diniz MFHS; Obtenção de dados: Ribeiro ALP, Passos VMA, Benseñor IJM, Vidigal PG; Análise e interpretação dos dados e Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Ribeiro ALP, Rajão KMAB, Passos VMA, Benseñor IJM, Vidigal PG, CamachoCP, DinizMFHS; Análise estatística e Redação do manuscrito: Rajão KMAB, Passos VMA, Camacho CP, Diniz MFHS; Obtenção de financiamento: Passos VMA, Benseñor IJM. Potencial conflito de interesses Declaro não haver conflito de interesses pertinentes. Fontes de financiamento O presente estudo foi financiado pelo Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde do Brasil (Decit); Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação; CNPq e FINEP. Vinculação acadêmica Este artigo é parte de dissertação de Mestrado de Kamilla Maria Araújo Brandão Rajão pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. 764

RkJQdWJsaXNoZXIy MjM4Mjg=