ABC | Volume 112, Nº6, Junho 2019

Artigo Original Rajão et al Disfunção tireoidiana subclínica e arritmias Arq Bras Cardiol. 2019; 112(6):758-766 Tabela 2 – Associação entre Frequência Cardíaca e Disfunção Tireoidiana Subclínica, ELSA-Brasil, 2008-2010 Hipotireoidismo Subclínico Eutireoidismo Hipertireoidismo Subclínico Prevalência N (%) OR (IC 95%) “p” Prevalência N (%) Prevalência N (%) OR (IC 95%) “p” Taquicardia > 100 bpm 413 (3,10%) 23 (3,76%) 1,04 (0,67-1,59) 0,874 385 (3,63%) 5 (2,89%) 0,79 (0,32-1,93) 0,604 > 110 bpm 344 (2,58%) 17 (2,81%) 0,91 (0,56-1,50) 0,715 323 (3,07%) 4 (2,33%) 0,75 (0,28-2,04) 0,576 Bradicardia < 60 bpm 1,964 (14,72%) 86 (12,74%) 0,80 (0,64-1,01) 0,062 1,858 (15,40%) 20 (10,64%) 0,65 (0,41-1,04) 0,074 < 50 bpm 211 (1,58%) 12 (2,00%) 1,07 (0,59-1,92) 0,830 195 (1,87%) 4 (2,33%) 1,25 (0,46-3,39) 0,667 Tabela 3 – Relação entre a frequência cardíaca e os níveis de TSH e T4L, ELSA-Brasil, 2008-2010 TSH T4L Mediana (µU/ml) Valor-p* Mediana (ng/dl) Valor de p * Taquicardia (> 100 bpm) 1,63 0,004 1,20 0,021 FC normal (60-100bpm) 1,52 1,10 Bradicardia (< 60 bpm) 1,54 0,311 1,10 0,233 TSH: hormônio estimulante da tireoide; T4L: tiroxina livre; FC:frequência cardíaca; * após o ajuste. Não houve diferenças significativas nas medianas de FC dos participantes com função tireoidiana normal (35-130 bpm, mediana 70), HipoTS (42,5-111 bpm, mediana 70; p = 0,087) e HiperTS (42-104 bpm, mediana 71,5, p = 0,084). Nenhuma correlação foi encontrada entre a FC e os valores séricos de TSH ou T4L, quer para a população total do estudo ou dentro de cada grupo de DTS. A regressão linear multivariada indicou uma relação entre os níveis de TSH e a FC nos participantes com HipoTS (p = 0,001, após ajuste). Não foi encontrada relação entre os níveis de TSH e FC no grupo HiperTS, ou entre os níveis de TL4 e FC em nenhum dos grupos. Verificou-se taquicardia em 3,10% dos participantes, não estando associada a DTS, mesmo entre idosos ou nos indivíduos com valores extremos de TSH, como mostra a Tabela 2. Da mesma forma, não se verificou associação significativa entre bradicardia (14,72%) e DTS, mesmo nesses subgrupos. A relação entre os níveis de TSHe T4L e a frequência cardíaca é exibida na Tabela 3. Os níveis medianos de TSHmostraram-se significativamentemais elevados para indivíduos com taquicardia, em comparação àqueles com FC normal, mesmo após ajustes, e as medianas dos níveis de T4L mostraram-se significativamente mais elevadas em indivíduos com taquicardia. Considerando os 11.795 ECGs analisados neste estudo, não se verificou nenhuma anormalidade associada a DTS (Tabela 4), mesmo no subgrupo de idosos ou naqueles com valores extremos de TSH. A única correlação encontrada foi uma frequência menor de bloqueios de ramos em adultos mais velhos com HipoTS, em comparação com indivíduos eutireoidianos (14,29% vs. 26,13%; OR ajustado 0,44, IC 95% 0,24-0,80; p = 0,007). Realizou-se uma análise de sensibilidade, excluindo todos os participantes que faziam uso de medicações antiarrítmicas, betabloqueadores, beta 2 agonistas, agonistas adrenérgicos e não-diidropiridina, bloqueadores dos canais de cálcio, carbonato de lítio, iodeto de potássio, amiodarona, interferon alfa, glicocorticoides sistêmicos, agonistas dopaminérgicos, carbamazepina e oxcarbazepina, e a maioria dos resultados foi a mesma, sem qualquer associação entre DTS e anormalidades no ECG, e não se verificou nenhuma correlação ou relação entre a FC e os valores séricos de TSH ou T4L, seja para a população total do estudo ou dentro de cada grupo de DTS. A única associação encontrada foi uma menor frequência de bradicardia (FC <60 bpm) nos participantes com HiperTS, em comparação com indivíduos eutireoidianos (8,23% vs. 13,54%; OR ajustado 0,62; IC95% 0,41-0,93; p = 0,021). Discussão A presente análise transversal de 13.341 indivíduos desta coorte brasileira não encontrou qualquer associação entre DTS e FC, alterações de ritmo ou distúrbios de condução, o que sugere uma influência limitada das DTS no ritmo e condução cardíacos. A única associação encontrada foi uma frequência inesperadamente menor de distúrbios de condução entre os participantes idosos com HipoTS em comparação com os participantes eutireoidianos, a qual pode ser devida a algum fator de confusão desconhecido não estimado ou controlado. É importante ressaltar que nenhum estudo de base populacional avaliou a associação entre anormalidades eletrocardiográficas, como distúrbios de condução, baixa voltagem do complexo QRS, iQT longo e ritmos supraventriculares persistentes e a presença de DST, particularmente HipoTS. A maioria dos estudos sobre o assunto são relatos de casos ou relacionam tais anormalidades ao hipotireoidismo clínico, e não ao subclínico. 762

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