ABC | Volume 112, Nº6, Junho 2019

Minieditorial Músculo Cardíaco e Músculo Esquelético Conectados pelo Sistema Nervoso Autônomo Heart and Skeletal Muscles: Linked by Autonomic Nervous System Claudio Gil Araujo 1 e Jari Antero Laukkanen 2 Exercise Medicine Clinic – CLINIMEX, 1 Rio de Janeiro, RJ – Brasil University of Jyvaskyla - Faculty of Sport and Health Sciences, 2 Jyvaskyla – Finlândia Minieditorial referente ao artigo: Desequilíbrio Simpático-Vagal está Associado com Sarcopenia em Pacientes do Sexo Masculino com Insuficiência Cardíaca Correspondência: Claudio Gil Araujo • Rua Siqueira Campos, 93/101-103, CEP 22031-072 , Rio de Janeiro, RJ – Brasil E-mail: cgaraujo@iis.com.br Palavras-chave Insuficiência Cardíaca; Miocárdio; Músculo Esquelético; Sistema Nervoso Autônomo; Homeostase; Sarcopenia; Sistema Nervoso Simpático. DOI: 10.5935/abc.20190097 O sistema nervoso autônomo (SNA) exerce um papel fundamental na manutenção da homeostase celular e da vida humana. O funcionamento do coração e dos músculos esqueléticos é em parte modulado pelos ramos simpáticos e parassimpáticos do SNA tanto em repouso como no exercício. Dados substanciais da literatura atestam o fato de que indicadores objetivos da força muscular refletem o estado de saúde. Já está bem estabelecido de que a insuficiência cardíaca é tipicamente acompanhada por anormalidades do músculo esquelético que contribuem à intolerância ao exercício e baixa qualidade de vida relacionada à saúde observadas nesses pacientes. 1,2 De fato, enquanto uma redução na massa e na força musculares é naturalmente observada no processo de envelhecimento, principalmente após a quinta década de vida, isso torna-se ainda mais relevante em pacientes de meia idade e idosos com insuficiência cardíaca. Há muitas décadas, o termo “sarcopenia” foi proposto como uma expressão médica para descrever a perda universal e involuntária de massa muscular que ocorre com o aumento da idade. 3 No entanto, apesar de vários critérios terem sido propostos para caracterizá-la, do conhecimento crescente para compreender sua fisiopatologia e confirmar sua relevância clínica e epidemiológica, e de seu registro no CID-10, 4 ainda hoje, a sarcopenia é raramente avaliada na prática clínica diária. Em um estudo colaborativo entre Brasil e Alemanha, Fonseca et al., 5 analisaram dados de 116 pacientes do sexo masculino com insuficiência cardíaca e fração de ejeção reduzida, submetidos ao teste de exercício cardiopulmonar máximo em cicloergômetro, usando um protocolo de rampa. Ainda, utilizando-se a técnica de microneurografia, a atividade nervosa simpática muscular foi diretamente registrada do nervo peroneal e a atividade parassimpática estimada pela magnitude da redução da frequência cardíaca nos primeiros dois minutos após o teste de exercício. Foram utilizadas absorciometria de raios-x de dupla energia (DEXA) e força de preensão manual para as medidas de composição corporal e força muscular. Com base nessas medidas e nos critérios padrões da literatura, os autores identificaram presença ou não de sarcopenia no grupo de pacientes. Reconhecemos a originalidade do estudo feito pelos autores, o qual pode dar uma contribuição significativa ao conhecimento existente na área de pesquisa. Combinando todos esses dados, os autores buscaram uma relação entre anormalidades no músculo esquelético cardíaco e disfunção do SNA, e tentaram quantificar a associação entre as anormalidades do SNA e sarcopenia em pacientes do sexo masculino com insuficiência cardíaca clinicamente estável. Foi identificada sarcopenia em 33 (28%) dos pacientes com insuficiência cardíaca e fração de ejeção reduzida, e esses pacientes apresentaram resultados das variáveis do SNA avaliadas significativamente distintos em comparação ao grupo de pacientes sem sarcopenia. 5 Ainda, os autores encontraram uma correlação significativa, ainda que modesta (r=-0,29) entre a massa muscular apendicular e a atividade nervosa simpática muscular. Ao analisar os resultados com mais detalhes, é possível verificar que existe uma sobreposição considerável entre os resultados dos pacientes com insuficiência cardíaca e fração de ejeção reduzida com e sem sarcopenia, o que pode diminuir o valor clínico dos achados. Baseados no protocolo do estudo de Fonseca et al., 5 nós podemos especular que, caso os autores tivessem usado outros métodos de avaliação, tais como o teste de exercício de 4 segundos, 6,7 – um exame muito específico para avaliar a atividade vagal cardíaca – a força de preensãomanual em relação ao peso corporal ou à potência muscular máxima, 8 ou mesmo um simples teste funcional como o teste de sentar e levantar, 9 poderiam ter encontrado outros valores discriminatórios, uma vez que todos esses testes sãomais específicos para avaliar dinapenia, condição clinicamente mais relevante que a sarcopenia. 10,11 Por fim, é possível que a prática de exercícios físicos regulares seja a maneira mais adequada para melhorar a saúde dos pacientes com insuficiência cardíaca e fração de ejeção reduzida. Assim, esse estudo mostrou uma associação entre disfunção do SNA cardíaco e anormalidades dos músculos cardíaco e esquelético. Isso, somado ao fato de que exercícios aeróbicos e resistidos regulares melhoram a modulação do SNA cardíaco, incluindo a diminuição do risco de fibrilação ventricular na ocorrência de um infarto do miocárdio, 12 e que são fortemente recomendados como 747

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