ABC | Volume 112, Nº6, Junho 2019

Artigo Original Reuter et al Dislipidemia e fatores associados em escolares Arq Bras Cardiol. 2019; 112(6):729-736 concentrações de lipídios no sangue. Alcântara Neto et al. 19 indicam associação positiva entre o consumo alimentar inadequado e a dislipidemia. O Índice de massa corporal (IMC) também se constitui como importante variável, já que a obesidade tem sido evidenciada como um importante fator de risco para a dislipidemia e o risco cardiometabólico, sugerindo que adolescentes obesos apresentam valores elevados de TG, CT, LDL-c, maior resistência à insulina e valores reduzidos de HDL-c. 20 Ainda, um estudo transversal, desenvolvido com 173 escolares entre 10 e 18 anos de idade, demonstrou que a maior adesão a uma dieta rica em gordura/açúcar associou‑se com a presença de hipercolesterolemia (OR: 1,6; IC 95%: 1,1–2,3) e o LDL-c elevado (OR: 1,7; IC 95%: 1,0–2,9). Além disso, crianças que se exercitavam menos de 3 vezes/semana foram menos propensas a ter baixos níveis de HDL-c, em comparação às crianças que se exercitavam 7 vezes ou mais por semana (OR: 0,4; IC 95%: 0,2–0,7). 21 Um estudo realizado com 1.805 crianças e adolescentes chineses avaliou a diferença entre escolares metabolicamente saudáveis e não saudáveis. Os achados revelaram que valores de IMC e comportamento sedentário foram os aspectos que mais afetaram a saúde metabólica. Além disso, o consumo excessivo de alimentos não saudáveis esteve fortemente associado aos escolares com perfil metabólico negativo. 22 De forma similar, um estudo desenvolvido com 227 pré‑escolares, em Diamantina-MG, demonstrou que escolares que relatavam possuir uma dieta menos equilibrada, com consumo mais frequente de alimentos ricos em lipídios e carboidratos, bem como maior IMC e cujas mães possuíam menores níveis de escolaridade, apresentaram maior associação com a ocorrência de alterações no perfil lipídico, em especial níveis mais elevados de LDL-c, sendo estas variáveis identificadas como determinantes da dislipidemia nos escolares avaliados. 5 Logo, entende-se que a ocorrência desta condição vem atingido, muito devido ao comportamento alimentar, escolares em idades cada vez mais precoces. Detalhadamente, o presente estudo apontou associação entre dislipidemia e baixos níveis de APCR, entre LDL-c aumentado e deslocamento passivo para a escola, bem como entre baixos níveis de HDL-c e elevado tempo em frente à TV. Assim, propõe-se que o sedentarismo e a baixa APCR estão associados a alterações metabólicas. Do mesmo modo, resultados do estudo National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES) demonstraram que em escolares adolescentes masculinos com dislipidemia, o tempo de tela parece ser um moderador potencial da relação entre aptidão física e atividade física. 23 Ainda, dados anteriores, envolvendo uma amostra de 1.243 crianças e adolescentes do nosso município, demonstraram que alterações no perfil lipídico são mais prevalentes entre as crianças e adolescentes obesos/inaptos quando comparados com os escolares com peso normal/baixo peso, em ambos os sexos. Estes resultados reforçam os achados encontrados no presente estudo e apontam relação direta entre a prevalência de dislipidemia, obesidade e baixos níveis de APCR. 6 Assim, diante do crescente impacto da dislipidemia nas condições de saúde da população pediátrica, recomendações sugerem que crianças sejam submetidas a triagem de fatores de risco a fim de identificar precocemente os níveis elevados de LDL-c e reduzir a evidência de eventos cardiovasculares em adultos jovens. 24 Contudo, supõe-se que esses cuidados primários sejam aplicados somente a 18% desta população. 25 De acordocomo InstitutodeMedicinaAmericano, recomenda‑se que crianças tenham acesso a alimentos saudáveis e que pais e responsáveis ofertem alimentos nutritivos que promovam a saciedade da fome. Além disso, é preciso aumentar o tempo destinado à prática de atividades físicas e reduzir as atividades que estimulem o comportamento sedentário na população pediátrica. 26 Ainda no que se refere ao tratamento da dislipidemia, estima-se que mudanças com intervenção no estilo de vida são alternativas com excelentes resultados, que provocam respostas e adaptações positivas, sendo que o tratamento medicamentoso tem sido utilizado em raros casos. 27 Do mesmo modo, os resultados do nosso estudo sugerem que essas recomendações devempermanecer nos anos sequenciais, incluindo o período da adolescência e a vida adulta. Reconhecemos como limitação de nosso estudo o fato do questionário ser autorreferido pelo escolar, o que pode implicar em relatos não compatíveis com a realidade. Além disso, devido ao delineamento transversal, não é possível demonstrar causalidade. O estudo inclui a avaliação de escolares do município do Sul do Brasil, o que poderia não ser representativo da realidade de crianças e adolescentes em outros contextos. Ao mesmo tempo, este pode ser considerado um aspecto forte de nosso estudo, à medida que aponta que a alta prevalência de dislipidemia encontrada condiz e, inclusive supera, as apontadas em estudos de outros territórios brasileiros, estimando, de forma atualizada, que a ocorrência desta condição tende a um crescente aumento. Além disso, o estudo explora estruturadamente variáveis relevantes do contexto cultural do escolar, propondo estimativas e descrevendo fatores que aparentemente estão associados com a alta prevalência de dislipidemia em crianças e adolescentes. Assim, os dados permitem aos órgãos voltados à gestão da saúde na infância e adolescência delinear de forma mais precisa suas diretrizes para esta população. Conclusão Os resultados do presente estudo mostraram a elevada prevalência de dislipidemia em escolares e sua relação com baixa aptidão cardiorrespiratória e fatores culturais, especialmente ligados ao comportamento sedentário. Esses achados ressaltam para a necessidade de intervenções que promovam hábitos de vida saudáveis, desde os primeiros anos de vida da criança. Contribuição dos autores Concepção e desenho da pesquisa: Reuter CP, Brand C, Renner JDP, Franke SIR, Burgos MS; Obtenção de dados: Reuter CP, Silva PT, Reuter EM, Renner JDP, Franke SIR, Burgos LT, Schneiders LB, Burgos MS; Análise e interpretação dos dados: Reuter CP, Brand C, Silva PT, Reuter EM, Renner JDP, Franke SIR, Mello ED, Burgos LT, Schneiders LB, 735

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