ABC | Volume 112, Nº5, Maio 2019

Atualização Atualização das Diretrizes em Cardiogeriatria da Sociedade Brasileira de Cardiologia - 2019 Arq Bras Cardiol. 2019; 112(5):649-705 crônica. Aproximadamente a metade, 48,6%, declarou ter uma ou duas doenças e 29,1%, três ou mais. As mulheres apresentamuma proporçãomais elevada de contraíremalguma doença do que os homens, 81,2% e 73,1%, respectivamente. A maior proporção de mulheres entre os idosos significa maior proporção de pessoas commorbidade crônica 1 (Tabela 2). Dentre as doenças relatadas, predominaram as doenças cardiovasculares (DCV). Por exemplo, 62,0% dos homens e 67,4% das mulheres declararam ter hipertensão e 23,2% e 36,9% de homens e mulheres, respectivamente, afirmaram ter colesterol alto. Estas doenças constituem, também, a principal causa de morte da população idosa; 34,2% e 35,2% dos óbitos masculinos e femininos, respectivamente. Entre elas, destacam-se o infarto agudo do miocárdio (IAM) e os acidentes vasculares encefálicos (AVE) 2 (Tabelas 3 e 4). Isso aponta para maior necessidade de prevenção, em que mudanças no estilo de vida, controle do tabaco e do álcool, melhor dieta alimentar e exercícios físicos podem contribuir para a redução das DCV. Em síntese, pode-se dizer que a humanidade parece estar realizando o seu sonho, que é o de viver muito, mas deve-se evitar a armadilha de Tithonus. Este é um mítico troiano, a quem foi concedida vida eterna pelos deuses, mas ele esqueceu de pedir também a eterna juventude. Eventualmente, transformou-se em uma cigarra. Já Ulisses recusou o dom da imortalidade para continuar “dono do seu destino e capitão da sua alma” (Homero). Ou seja, viver muito e com autonomia deve ser o sonho da humanidade. 1.2. Interpretação da Fragilidade Fragilidade é uma síndrome biológica caracterizada por diminuição da reserva homeostática e da resistência a diversos estressores. Resulta de declínios cumulativos em múltiplos sistemas fisiológicos e leva a aumento da vulnerabilidade e dos desfechos clínicos desfavoráveis, como quedas, declínio funcional e da mobilidade, hospitalizações, institucionalização e maior risco de morte. 3 Esse estado de vulnerabilidade faz com que, diante de um insulto aparentemente pequeno (p. ex., infecção, introdução de um novo medicamento ou mesmo uma pequena cirurgia), ocorra uma evidente e desproporcional mudança no estado de saúde do paciente; essas mudanças podem ser exemplificadas como alterações de status de independente para dependente, de capaz de se locomover para imobilidade, de equilíbrio e marcha estáveis para elevado risco de quedas, de lúcido para delirante. 4,5 Existe uma superposição, mas não uma concordância na ocorrência de fragilidade, incapacidade e multimorbidade (coexistência de duas ou mais doenças crônicas). Embora seja menos frequente, existem indivíduos frágeis sem incapacidade e sem a presença de multimorbidade. 4 A sarcopenia (diminuição da massa e da função muscular) é um componente da síndrome de fragilidade, sendo esta mais multifacetada e complexa que a sarcopenia isoladamente. 5 A apresentação clínica resulta não só de uma única doença bem definida, mas do acúmulo de deficiências em múltiplos sistemas orgânicos, e ocorre quando o efeito acumulado dessas deficiências compromete a capacidade compensatória do organismo. Uma revisão sistemática demonstrou que a prevalência de fragilidade entre idosos residentes na comunidade era de 10,7% (variando de 4,0% a 59,1%). 6 Tabela 1 – Distribuição percentual da população idosa por sexo e idade 1 Homens Mulheres Total 60 a 69 56,5 56,3 56,4 70 a 79 30,7 29,4 30 80 a 89 10,8 12,2 11,6 90 ou mais 2 2,1 2 Total 100 100 100 Brasil, 2013. Tabela 2 – Proporção de idosos com doenças crônicas por número de condições patológicas 1 Homens Mulheres Total Nenhuma 26,9 18,8 22,3 1 a 2 49,4 48 48,6 3 ou mais 23,7 33,3 29,1 Brasil, 2013. Tabela 3 – Principais causas de morte dos idosos por sexo 2 Homens Mulheres Doenças do aparelho circulatório 34,2 35,2 Neoplasias 19, 15,5 Doenças do aparelho respiratório 14,3 14,7 Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas 6,5 8,9 Mal definidas 6,2 6,2 Outras 19,9 19,5 Total 100 100 Brasil, 2013. Tabela 4 – Principais causas de morte por doenças do aparelho circulatório por sexo 2 Homens Mulheres Infarto agudo do miocárdio 26 21,4 Acidente vacular encefálico não especificado como hemorrágico ou isquêmico 13,7 13,7 Insuficiência cardíaca 8,2 9,4 Outras 52 55,5 Total 100 100 Brasil, 2013. 655

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