ABC | Volume 112, Nº5, Maio 2019

Ponto de Vista Souza et al. Macrófagos residentes e o ritmo cardíaco Arq Bras Cardiol. 2019; 112(5):588-591 aumentando o estresse oxidativo nas células da redondeza e desestabilizando a atividade elétrica dos cardiomiócitos de maneira a produzir arritmias ventriculares letais. Além disso, lesões ateroscleróticas são atualmente entendidas como indutoras de processos inflamatórios importantes, que abrangem componentes dos sistemas imunes inato e adquirido. Dados clínicos demonstraram que o aumento na contagem de leucócitos, interleucina 6 (IL-6), fator de necrose tumoral α (TNF- α ) e da IL-1 β apresentavam risco de eventos cardiovasculares mais graves. De fato, a IL-6 é altamente regulada localmente durante o processo de oclusão coronariana em pacientes com infarto agudo do miocárdio com elevação do segmento ST. 12–14 Então, um possível viés é aquele em que os macrófagos contribuem para as complicações arrítmicas de doenças infecciosas, aterosclerótica e na septicemia, em que suas respostas inflamatórias podem interferir no seu papel na modulação da condução elétrica do cardiomiócito. 11,12,15 Pesquisas demonstraram que a sepse está associada ao aumento do risco de doença coronariana aguda e fatal, porém a sua causa ainda é incerta, sendo que a prevenção aguda da doença coronariana pode ser uma consideração importante nos cuidados pós-sepse. 16,17 Apesar dos avanços significativos na prevenção e tratamento, as doenças cardiovasculares (DCVs) continuam sendo a causa mais comum de morte em todo o mundo. De fato, a insuficiência cardíaca grave é mais prevalente do que o câncer. 18 Vários estudos tem demonstrado que a hipertrofia cardíaca patológica e a fibrose na insuficiência cardíaca são acompanhadas por uma resposta inflamatória sistêmica, infiltração e ativação de células do sistema imune. 19 Diante disso, as imunoterapias para DCVs estão em plena ascensão. A primeira imunoterapia cardiovascular desenvolvida foi para o tratamento da hipercolesterolemia e seus resultados positivos abriram caminho para a avaliação clínica de uma imunoterapia anti-inflamatória direcionada à IL-1 β . CANTOS (Canakinumab Anti-Inflammatory Thrombosis Outcomes Study) demonstrou que injeções subcutâneas de canakinumab (ACZ885), um anticorpo monoclonal humano que neutraliza seletivamente IL-1 β , diminuíram significativamente os níveis de biomarcadores inflamatórios sistêmicos em pacientes após infarto agudo do miocárdio, reduzindo o risco cardiovascular em pacientes com ataque cardíaco prévio e aterosclerose inflamatória. 20 Um outro estudo utilizando CANTOS reforça essa idéia e fornece fortes evidências de que a modulação da via de sinalização da IL‑6, que tem sua produção induzida pela IL-1 β , se associa a taxas reduzidas de alterações cardiovasculares e das taxas de mortalidade. 13 Certamente, mais estudos devem ser realizados para sanarmos as dúvidas quanto a real participação dos macrófagos residentes nas doenças cardíacas. Se alterações na função dos macrófagos estiverem ligadas a essas condições clínicas, a imunoterapia com reprogramação de macrófagos in situ poderia ser uma forma viável de estratégia terapêutica que poderia ser aplicada para garantir o batimento cardíaco normal em pacientes com arritmia. 20,21 Contudo, o que sabemos até o momento é que os macrófagos residentes atuam como “maestros”, orquestrando o ritmo cardíaco. Contribuição dos autores Concepção e desenho da pesquisa e Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Souza DS, Barreto TO, Cruz JS; Redação do manuscrito: Souza DS, Barreto TO, Santana MNS, Menezes-Filho JER, Cruz JS, Vasconcelos CML Potencial conflito de interesses Declaro não haver conflito de interesses pertinentes. Fontes de financiamento O presente estudo foi financiado pela CNPq e CAPES. Vinculação acadêmica Nãohávinculaçãodesteestudoaprogramasdepós‑graduação. 1. Pastore CA, Pinho JA, Pinho C, Samesima N, Pereira Filho HG, Kruse JCL, et al. III Diretrizes da SociedDE bRsileira de Cardiologia sobre análise e emissão de laudos eletrocardiográficos. Arq Bras Cardiol. 2016;106(4):1–23. 2. Olshansky B. Does First Degree AV Block Have Importance in Patients Considered for Cardiac Resynchronization Therapy?: Giving It the Third Degree ∗ . JACC Clin Electrophysiol. 2017;3(8):827–9. 3. Nguyen KD, Qiu Y, Cui X, Goh YPS, Mwangi J, David T, et al. Alternatively activated macrophages produce catecholamines to sustain adaptive thermogenesis. Nature.;480(7375):104–8. 4. Theurl I, Hilgendorf I, Nairz M, Tymoszuk P, Haschka D, Asshoff M, et al. On-demand erythrocyte disposal and iron recycling requires transient macrophages in the liver. Nat Med. 2016;22(8):945–51. 5. Paolicelli RC, Bolasco G, Pagani F, Maggi L, Scianni M, Panzanelli P, et al. Synaptic Pruning byMicroglia Is Necessary for Normal BrainDevelopment. Science. 2011;333(6048):1456–8. 6. Davis MJ, Tsang TM, Qiu Y, Dayrit JK, Freij JB, Huffnagle GB, et al. Macrophage M1/M2 Polarization Dynamically Adapts to Changes in CytokineMicroenvironments in Cryptococcus neoformans Infection. mBio [Internet]. [citado 20 de junho de 2018]. Disponível em: https://www.ncbi. nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3684832/ 7. Pinto AR, Paolicelli R, Salimova E, Gospocic J, Slonimsky E, Bilbao-Cortes D, et al. An Abundant Tissue Macrophage Population in the Adult Murine Heart with a Distinct Alternatively-Activated Macrophage Profile. PLOS ONE. 2012;7(5):e36814. Referências 590

RkJQdWJsaXNoZXIy MjM4Mjg=