ABC | Volume 112, Nº3, Março 2019

Artigo Original Sousa et al Prevalência de hipertensão arterial em idosos Arq Bras Cardiol. 2019; 112(3):271-278 Introdução Apesar de fácil diagnóstico e tratamentos disponíveis, a hipertensão arterial (HA) ainda é uma doença subdiagnosticada e combaixas taxas de controle. 1,2 Informações sobre a prevalência, conhecimento do diagnóstico, tratamento e controle entre idosos são escassas em países em desenvolvimento, mesmo que sejam reconhecidas como necessárias objetivando o monitoramento e desenvolvimento de estratégias efetivas para o controle da HA. 2 No Brasil, a partir da década de 1970 observou-se uma transformação do perfil demográfico da população, passando‑se de uma sociedade majoritariamente rural, com famílias numerosas e jovens, para uma sociedade principalmente urbana e com maior proporção de idosos. 3 A prevalência da HA aumenta à medida em que se muda a faixa etária analisada. No Brasil, a Pesquisa Nacional de Saúde apontou uma prevalência de 44,4%deHA dos 60 aos 64; 52,7% dos 65 aos 74 e de 55,5% para aqueles com 75 anos ou mais. 4 Estudo realizado no Tibet identificou progressivo aumento dessa taxa, com variação de 19% na faixa de 40 anos e 78,1% na faixa acima de 70 anos. 5 Por outro lado, as taxas de conhecimento do diagnóstico, tratamento e controle foram baixas. 6 Observa-se que na população idosa brasileira, pouco tem sido analisado além dos dados de prevalência. 7-10 Inquéritos populacionais brasileiros dos últimos 20 anos, considerando população adulta acima de 20 anos, apontaram prevalência de HA variando de 28,5% na região sudeste 11 e de até 53,2% na região norte do país. 12 Nesse último estudo foi identificada taxa de conhecimento diagnóstico de 63,1% e de tratamento de 85,4%, 12 mas não especificamente entre os idosos. Não foram identificados estudos de base populacional que analisassem todas essas taxas entre a população idosa no Brasil e esta ausência de informações tem sido um obstáculo no desenvolvimento de políticas públicas de saúde para essa população. O objetivo desse estudo foi analisar a prevalência, tratamento e controle da HA e a associação com hábitos de vida entre idosos, residentes na zona urbana de uma capital da região central do Brasil. Métodos Trata-se de estudo transversal de base populacional, por meio de inquérito domiciliar e amostragem aleatória por conglomerados, recortado do projeto matriz “Situação de saúde da população idosa do município de Goiânia-GO”, vinculado à Rede de Vigilância à Saúde do Idoso no Estado de Goiás (REVISI)”. Os detalhes metodológicos e de cálculo amostral foram descritos em publicações prévias. 13,14 Foi desenvolvido pela Universidade Federal de Goiás, Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia e Secretaria de Estado da Saúde de Goiás, por meio da REVISI, com aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Goiás (Protocolo nº 050/2009) em consoante à Declaração de Helsinki. Foi realizado inquérito epidemiológico, com a participação de pessoas com 60 anos ou mais, vivendo em seus domicílios e residentes na zona urbana do município de Goiânia. A amostra foi calculada considerando a população de idosos em 7% do total de 1.249.645 habitantes, no ano base 2007, 15 uma frequência estimada de 30% (menor frequência esperada entre as variáveis investigadas no projeto matriz) intervalo de confiança (IC) de 95%, nível de significância de 5%, precisão absoluta de 5%. À amostra calculada (n = 823) foram acrescidos 11% para reposição de perdas, e foram investigados 934 idosos. Do total de 934 questionários, foram excluídos 22 por inconsistência de dados, ficando a amostra final composta por 912 idosos. A área do estudo foi definida a partir dos setores censitários (SC). As unidades amostrais foram os domicílios e os idosos nas unidades elementares de observação. Primeiramente, foram identificados os SC utilizando Mapa Urbano Básico Digital de Goiânia como layer básico. O processo de amostragem baseou‑se nos mapas de quadras e lotes das regiões selecionadas e foi realizada emmúltiplos estágios a partir da identificação dos SC definidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 16 Foram sorteados 56 SC, com estimativa de alcançar, em média 17 idosos em cada SC. Os dados foram coletados com moradores que estivessem presentes no momento da visita do entrevistador e que aceitassem participar da pesquisa, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Se, durante a coleta de dados, duas casas consecutivas com idosos residentes, fossem identificadas, a segunda casa era excluída para minimizar o efeito de conglomerado e vizinhança. Foram considerados critérios de inclusão no estudo: idade superior a 60 anos e ser morador do domicílio. Foram excluídos idosos que, embora estivessem no domicílio no momento da entrevista, não eram residentes locais ou estavam impossibilitados de responder por qualquer motivo (demência, inconsciência). Nesses casos aquele domicílio era desconsiderado e passava‑se para o próximo. As entrevistas foram conduzidas por pesquisadores devidamente treinados para a aplicação de formulários do estudo e também padronização dos procedimentos a serem executados na coleta de dados. As entrevistas foram realizadas no período de novembro de 2009 a abril de 2010, considerada a linha de base para a Rede de Vigilância à Saúde do Idoso na capital. Maiores detalhes do método podem ser verificados em publicação prévia. 17 Nomomento da coleta de dados foramobtidas informações sobre idade, sexo, dados socioeconômicos (escolaridade, estado civil e renda familiar), fatores de risco modificáveis (atividade física, tabagismo, consumo de álcool), informações sobre tratamento da HA e realizada aferição da PA. A PA foi aferida com utilização de aparelhos automáticos da marca OMRON, modelo HEM-705CP, seguindo o protocolo das Diretrizes Brasileiras. 18 Eram realizadas três medidas, no mesmo braço, com a pessoa sentada, obedecendo um intervalo de tempo de 3 a 5 minutos e utilizadas as duas últimas medidas para o cálculo da média, desde que não houvesse diferença entre elas superior a 4 mmHg. Esse cuidado foi tomado para diminuir a dispersão dos dados. Ressalta-se que foram utilizadas braçadeiras adequadas a medida da circunferência dos braços, com aplicação de tamanhos (padrão, obeso, infantil) que cobrissem dois terços da extensão do braço. 18 272

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