ABC | Volume 112, Nº3, Março 2019

Artigo Original Ortiz et al Avaliação cardíaca na doença de chagas aguda Arq Bras Cardiol. 2019; 112(3):240-246 ventricular permaneceram em quatro pacientes mesmo após o tratamento. Essa indefinição foi já destacada em outros estudos de acompanhamento de casos agudos, uma vez que ainda se conhece um parâmetro preditor de cura para a doença. 6,13,14 Embora casos de alterações cardíacas no estado do Amazonas não sejam frequentes, o conhecimento acerca de toda dinâmica da transmissão e de possíveis influências é ainda escasso. Casos agudos registrados no estado vizinho Pará apresentaram envolvimento cardíaco grave, com três mortes por miocardite, insuficiência renal e tamponamento cardíaco. 19 Em um estudo conduzido por Ferreira et al., 29 na região do Amazonas, foram relatados cinco casos (dois do Pará e três do Amazonas), todos com alterações cardíacas revertidas e nenhuma morte. No presente estudo, um óbito foi registrado de uma criança de três meses de idade, que apresentou choque cardiogênico e meningoencefalite devido à transmissão vetorial com a presença de chagoma, um inchaço cutâneo no local da inoculação. Essa diferença marcante sugere que as manifestações clínicas e a mortalidade são menores no estado do Amazonas, por razão ainda indefinida. Limitações do estudo Este foi um estudo longitudinal unicêntrico, envolvendo pequena população, e a maioria vivendo no interior do estado. Esses fatores não permitiram um acompanhamento completo, contribuindo para uma perda de pacientes. Além disso, foi possível a identificação das linhagens do parasita somente daqueles pacientes recrutados mais recentemente no estudo, o que limitou a caracterização genética. Conclusão Em nosso estudo, demonstramos a presença de alterações cardíacas em 33% dos pacientes na fase aguda da DC. Apesar de a maioria dos casos estar presentes na mesorregião sudoeste, a maior frequência dessas alterações foi detectada na mesorregião do Amazonas Central e casos agudos isolados. Apesar de as alterações cardíacas estarem presentes em baixa frequência durante a fase pré-tratamento, essa condição clínica sugere a existência de um novo perfil epidemiológico no estado do Amazonas, que difere do perfil presente nos estados vizinhos. É possível que esse cenário de mudança esteja associado com a linhagem do T.cruzi . A maioria dos pacientes acompanhados tiveram um desfecho satisfatório, mas em alguns, as alterações cardíacas persistiram ou mesmo evoluíram posteriormente. Portanto, é evidente a necessidade de se reforçarem ações de vigilância para o diagnóstico e tratamento imediatos, e para o acompanhamento contínuo, de longo prazo, da condição cardíaca dos pacientes com DC aguda a fim de se estabeleceremmedidas preventivas e melhorar o prognóstico dessa população em nossa região. Contribuição dos autores Concepção e desenho da pesquisa e obtenção de dados: Pereira BVM; análise e interpretação dos dados: Ortiz JV, Ferreira JMBB; análise estatística: Ortiz JV, Lira EF; obtenção de financiamento: Ferreira JMBB; redação do manuscrito: Ortiz JV, Couceiro KN, Doria SS, Silva PRL; revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Ortiz JV, Couceiro KN, Silva e Silva MRH, Doria SS, Silva PRL, Guerra MGVB, Guerra JAO, Ferreira JMBB. Potencial conflito de interesses Declaro não haver conflito de interesses pertinentes. Fontes de financiamento O presente estudo foi financiado pela FAPEAM - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas. Vinculação acadêmica Nãohá vinculaçãodesteestudoaprogramas depós-graduação. Aprovação ética e consentimento informado Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade do Amazonas sob o número de protocolo 923.701. Todos os procedimentos envolvidos nesse estudo estão de acordo com a Declaração de Helsinki de 1975, atualizada em 2013. O consentimento informado foi obtido de todos os participantes incluídos no estudo. 1. Chagas C. Nova tripanozomiaze humana: estudos sobre a morfolojia e o ciclo evolutivo do Schizotrypanum cruzi n. gen., n. sp., ajente etiolojico de nova entidade morbida do homem. Mem Inst Oswaldo Cruz. 1909;1(2):159-218. 2. WorldHealthOrganization (WHO). Integrating neglected tropical diseases into global health and development: fourth WHO report on neglected tropical diseases. Geneva: World Health Organization; 2017. 3. Andrade DV, Gollob KJ, Dutra WO. Acute Chagas disease: new global challengesforanoldneglecteddisease.PLoSNeglTropDis.2014;8(7):e3010. 4. Rassi A Jr, Rassi A, Marin-Neto JA. Chagas disease. Lancet. 2010; 375(9723):1388-402. 5. Souza-LimaRC,BarbosaMD,CouraJR,ArcanjoAR,NascimentoAS,FerreiraJM, et al. 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