ABC | Volume 112, Nº3, Março 2019

Artigo Original Eickemberg et al Adiposidade abdominal e EMI-C no ELSA-Brasil Arq Bras Cardiol. 2019; 112(3):220-227 Introdução A obesidade abdominal é um tradicional fator de risco para doenças cardiovasculares. 1 No Brasil a prevalência de obesidade abdominal estimada pela Pesquisa Nacional de Saúde, segundo os pontos de corte para circunferência da cintura (CC) da Organização Mundial de Saúde, 2 foi de 52,1% entre mulheres e 21,8% entre homens em 2013. 3 Diversos mecanismos tentam explicar como a adiposidade abdominal se torna um fator de risco para doença cardiovascular. É consensual que o tecido adiposo abdominal apresenta complexas funções metabólicas e produz inúmeros mediadores que desencadeiam reações específicas, dinâmicas e inflamatórias. 4 As lesões ateroscleróticas elevam o risco para doenças cardiovasculares. A espessuramédio-intimal de carótida (EMI-C) é ummarcador de aterosclerose subclínica e preditor de infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral. 5 A associação entre adiposidade abdominal e aterosclerose subclínica foi documentada em diferentes populações. 6,7 Contudo, apesar de a EMI-C ser associada à adiposidade abdominal, ainda não está totalmente estabelecido o quanto essa adiposidade, mensurada por distintos indicadores clínicos e outros não habituais, se associa com a aterosclerose subclínica. Estudos sugerem que a CC, razão cintura quadril (RCQ) e índice de adiposidade visceral (IAV) podem predizer a aterosclerose subclínica. 6,8,9 A maioria dos estudos com essa temática foram realizados na Europa, Ásia e Estados Unidos e usam a CC e RCQ para definir adiposidade abdominal e sua relação com as doenças cardiovasculares. Indicadores que fornecem informações indiretas da sobreacumulação lipídica e função da gordura visceral associadas com eventos cardiovasculares, como o IAV 10 e o produto da acumulação lipídica - ( lipid accumulation product - LAP) 11 precisam ser mais explorados. O índice de conicidade (índice C) se destaca como discriminador de risco coronariano elevado em pesquisas brasileiras, especialmente quando há uma parcela de população negra sob investigação. 12 Por outro lado, ainda não existem estudos que investigaram o efeito da adiposidade diagnosticada por este índice sobre a EMI-C. O objetivo deste estudo foi determinar a magnitude da associação entre a adiposidade abdominal, segundo diferentes indicadores diagnósticos (CC, RCQ, Índice C) e entre índices que refletem disfunção de tecido adiposo visceral (LAP e IAV) e a EMI-C entre os participantes do ELSA-Brasil. Métodos Desenho do estudo e população OELSA-Brasil incluiu emsua linha de base 15.105 funcionários públicos, de 35 a 74 anos, vinculados a seis instituições de ensino e pesquisa em três regiões brasileiras (Sul, Sudeste e Nordeste). Mais detalhes sobre a metodologia do estudo encontram-se em publicação anterior. 13 Por meio de equipe treinada e certificada foram realizadas entrevistas e coletas de medidas antropométricas e bioquímicas. Está disponível publicação mais detalhada sobre os procedimentos de garantia da padronização e qualidade na uniformização das condutas adotadas no ELSA-Brasil. 14 Critérios de exclusão Com intuito de manter uma amostra saudável e afastar vieses relacionados à EMI-C, dentre os 10.943 participantes com imagem válida para ambas as artérias carótidas comuns, excluiu-se 569 que declararam doença cardiovascular, 36 com triglicerídeos sérico > 800 mg/dL, 1.974 em uso de medicação hipolipemiante, 144 com IMC>40 kg/m 2 e 120 que realizaram cirurgia bariátrica. Para evitar vieses relacionados à medida de gordura abdominal excluiu-se 32 participantes com distrofias corporais e hérnias abdominais. Excluiu-se os participantes que autodeclararam raça/cor amarela e indígena devido ao pequeno número (297 e 136, respectivamente), 150 participantes sem declaração de raça/cor e 15 sem informação sobre os indicadores de adiposidade abdominal. A amostra final conteve 8.449 participantes (Figura 1). Alguns participantes apresentaram mais de uma condição para exclusão. Espessura médio-intimal de carótida (EMI-C) Todo s o s cen t r o s de i nve s t i gação co l e t a r am padronizadamente a EMI-C em equipamento (Aplio XG™, Toshiba) com transdutor linear de 7,5 MHz. A técnica usada foi previamente publicada. 15,16 Para este artigo, definiu-se a EMI-C como a média dos valores médios das carótidas direita e esquerda. Usou-se o percentil 75 para dicotomizar essa variável segundo sexo (homem: 0,69mm; mulher: 0,64mm). A escolha do percentil 75 foi embasada em consensos técnicos e estudos prévios. 17 Indicadores de adiposidade abdominal As medidas antropométricas foram aferidas através de equipamentos e técnicas padronizadas. A CC foi medida no ponto médio entre a borda inferior do arco costal e a crista ilíaca, na linha axilar média e na circunferência do quadril na protrusão máxima dos músculos glúteos, sobre a calça da vestimenta do estudo. Essas circunferências foram usadas para calcular a RCQ. O índice C foi calculado através da fórmula: CC(m)/0,109 x √Peso(kg)/Altura(m). 18 O LAP 19 foi calculado através de equações específicas por sexo: Homens: CC(cm) – 65 x triglicerídeos(mmol/L); Mulheres: CC(cm) – 58 x triglicerídeos(mmol/L), bem como o IAV: 19 Homens: (CC(cm)/39,68+ (1,88x índice de massa corporal(kg/m 2 ))) x (triglicerídeos(mmol/L)/0,81) x (1,31/HDL colesterol(mmol/L)); Mulheres: (CC(cm)/ 36,58+ 1,89 x índice de massa corporal(kg/m 2 ))) x (triglicerídeos(mmol/L)/0,81) x (1,52/ HDL colesterol(mmol/L)). Os indicadores foram categorizados em presença e ausência de adiposidade abdominal, segundo pontos de corte definidos por Eickemberg et al., 20 Respectivamente, usou-se os seguintes valores para brancos, pardos e pretos: CC: homens 89,9 cm; 90,2 cm e 91,7 cm; mulheres 80,4 cm; 82,7 cm e 85,4 cm; RCQ: homens 0,92; 0,92 e 0,90; mulheres 0,82; 0,83 e 0,84; índice C: homens 1,24; 1,24 e 1,24; mulheres 1,20; 1,22 e 1,19; LAP: homens 29,81; 32,39 e 33,08; mulheres 22,64; 30,27 e 27,12; IAV: homens 1,74; 2,08 e 221

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