ABC | Volume 112, Nº3, Março 2019

Carta ao Editor Não Trate Crianças com Estatinas Do Not Treat Children with Statins David M. Diamond, 1 U ffe Ravnskov, 2 Michel de Lorgeril 3 University of South Florida, Psychology, Molecular Pharmacology & Physiology, 1 Tampa, Florida – USA Pesquisador autônomo, 2 Lund – Suécia School of Medicine, University of Grenoble-Alpes, Laboratoire Coeur et Nutrition, TIMC-IMAG, 3 Grenoble – França Correspondência: David M. Diamond, Ph.D. • Department of Psychology, PCD 4118G, University of South Florida, Tampa, 33620 FL, USA E-mail: ddiamond@usf.edu Artigo recebido em 24/11/2018, revisado em 23/01/2019, aceito em 23/01/2019 Palavras-chave Estatinas; Inibidores de Hidroximetilglutaril-CoA Redutases; Hipercolesterolemia II/genética; Crianças; Metanálise. 1. Radaelli G, SausenG, Cesa CC, Santos FS, Portal VLNeyeloff JL, Pellanda LC. Statintreatmentsanddosages inchildrenwith familialhypercholesterolemia: Meta-analysis. Arq Bras Cardiol. 2018;111(6):810-21. 2. Ravnskov U, de Lorgeril M, Kendrick M, Diamond DM. Inborn coagulation factors are more important cardiovascular risk factors than high LDL- cholesterol in familial hypercholesterolemia. Med Hypotheses. 2018;121:60-3. 3. DiamondDM,RavnskovU.Howstatisticaldeceptioncreatedtheappearance that statins are safe and effective in primary and secondary prevention of cardiovascular disease. Expert Rev Clin Pharmacol. 2015;8(2):201–10. 4. Ravnskov U, de Lorgeril M, Diamond DM, Hama R, Hamazaki T, Hammarskjöld B et al. LDL-C does not cause cardiovascular disease: a comprehensive review of current literature. Expert Rev Clin Pharmacol. 2018;11(10):959-70. Referências Carta-resposta Agradecemos Ravnskov et. al. 1 pela carta, a qual oferece a oportunidade de discussão sobre uma questão relevante na prática clínica e preocupante para pacientes portadores de dislipidemias na infância e adolescência, especialmente em longo prazo. A motivação para a realização de nossa metanálise partiu da recomendação de uso de estatinas em crianças com dislipidemias secundárias, a qual, emnossa percepção, carece de evidências sólidas. Realizamos, assim, uma revisão sistemática da literatura, com esse foco principal, ou seja, identificar evidências que corroborem essa prática, e não a revisão de estudos com crianças portadoras de hipercolesterolemia familiar. Buscamos evidências para o uso de estatinas em crianças e adolescentes nas bases de dados PubMed, EMBASE, Bireme, Web of Science, Cochrane Library, SciELO e LILACS desde o início até fevereiro de 2016. Das 16 793 citações potencialmente relevantes recuperadas das bases de dados eletrônicas, nenhum ensaio clínico randomizado atendeu aos critérios de inclusão. 1 Apesar de citarmos alguns estudos sobre hipercolesterolemia familiar na discussão do trabalho, não realizamos a revisão desses estudos, tampouco, elaboramos recomendações clínicas para essa condição. Essa é a única ressalva que teríamos em relação à carta, a de que talvez tenha havido uma interpretação da discussão como se ela embasasse uma recomendação, quando não tivemos essa intenção. Nesse sentido, agradecemos a oportunidade de esclarecimento. 2 DOI: 10.5935/abc.20190034 Em sua metanálise, Radaelli et al., conclui que o tratamento com estatinas é eficiente na redução de lipídios em crianças com hipercolesterolemia familiar (HF) e sugere que devem ser realizados estudos clínicos de longo prazo para estabelecer a segurança a longo prazo. 1 Nós alertaríamos contra esta recomendação por vários motivos. Como mostramos em um artigo recente, 2 há várias evidências de que os níveis elevados de LDL-colesterol (LDL-C) não sejam a causa da doença arterial coronariana prematura na HF. É mais provável que sejam fatores anormais de coagulação congênitos, e apenas uma pequena minoria entre aqueles com HF herdam esses fatores. Em média, pessoas com HF vivem tanto quanto qualquer outra pessoa, porque os níveis elevados de LDL-C protegem contra câncer e doenças infecciosas. 2 Além disso, tratar crianças com estatinas pode causar danos, porque o colesterol é necessário para o cérebro em desenvolvimento e é um precursor essencial de co-fatores e hormônios metabólicos, incluindo a vitamina D e todos os esteroides sexuais. Finalmente, está se tornando bemconhecido, que o número de efeitos adversos do tratamento com estatina é muito maior e muito mais grave do que o relatado nos relatórios de estudo clínico. 3,4 Portanto, existe uma preocupação justificável, de que o tratamento a longo prazo de crianças com HF cause mais danos do que benefício. 324

RkJQdWJsaXNoZXIy MjM4Mjg=