ABC | Volume 112, Nº3, Março 2019

Relato de Caso Taglialegna e Lucena Dissecção aórtica crônica e gestação Arq Bras Cardiol. 2019; 112(3):321-323 detalhamento da extensão da dissecção e do envolvimento dos ramos vasculares aórticos, dados fundamentais para classificação da dissecção e planejamento terapêutico. 3 A decisão sobre o manejo apenas clínico ou a necessidade de intervenção cirúrgica, antes ou após a interrupção da gestação, deve considerar o risco de rotura, o tipo de dissecção e a viabilidade fetal. 3,8 A delaminação na aorta descendente caracterizou a dissecção como do tipo B e foi decidido por tratamento clínico durante gestação seguido de implante de endoprótese torácica no puerpério imediato. 3,8,9 A estabilidade hemodinâmica materna e o acompanhamento rigoroso da patologia aórtica e da vitalidade fetal permitiram essa conduta no nosso serviço. Os betabloqueadores são a terapia de primeira linha no tratamento medicamentoso por reduzirem tanto a FC como a PA e consequentemente as forças de cisalhamento na aorta, assim limitam a extensão da dissecção e diminuem o risco de rotura ou dano em órgãos-alvo. 9 Podem ser utilizados com relativa segurança durante a gravidez (propranolol Classe C pelo Food and Drug Administration- FDA). 3,8,9 A interrupção da gravidez previamente à correção da dissecção oportunizou maiores chances de sobrevivência a esse concepto uma vez que as taxas de morbidade e mortalidade fetais relatadas podem alcançar 30% e 9%, respectivamente, durante os procedimentos de correção. 3,8 A via de parto em pacientes cardiopatas é controversa. O parto normal resulta em menor sangramento, recuperação mais rápida e diminui o risco de complicações pós‑operatórias. Na ausência de dissecção aguda, o parto normal pode ser realizado com diâmetro aórtico menor que 40 milímetros nos casos da Síndrome de Marfan, sendo indicada cesariana acima desse valor de referência. 3,8 A condução do parto deve incluir intervenções para reduzir o estresse da parede da aorta, controle rigoroso da pressão arterial, analgesia adequada e parto instrumental quando indicado. 3,8 A paciente do caso apresentava a aorta com diâmetro máximo de cerca de cinco centímetros, o que embasou a escolha da via de parto pela equipe. A realização da laqueadura tubária bilateral foi oportunamente indicada como método contraceptivo definitivo, sendo fundamentada pelo alto risco de morte materna com uma nova gravidez. 8 A grande diversidade dos casos e a pequena quantidade de experiências relatadas na literatura não permitem determinar diretrizes para a conduta ante à dissecção aórtica durante a gravidez. O manejo multidisciplinar e o tratamento individualizado visam proporcionar chances de sobrevida à mãe e ao feto, levando em consideração a estabilidade hemodinâmica materna, a viabilidade fetal e a melhor oportunidade da intervenção cirúrgica, quando indicada. Contribuição dos autores Concepção e desenho da pesquisa: Taglialegna GM, Katz L, Albuquerque LMA, Freitas MM, Lucena AJG; Obtenção de dados: Taglialegna GM, Albuquerque LMA, Freitas MM, Lucena AJG; Análise e interpretação dos dados: Taglialegna GM, Albuquerque LMA, Freitas MM; Redação do manuscrito: Taglialegna GM, Albuquerque LMA, Freitas MM; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Katz L, Lucena AJG, Amorim MMR. Potencial conflito de interesses Declaro não haver conflito de interesses pertinentes. Fontes de financiamento Opresente estudo não teve fontes de financiamento externas. Vinculação acadêmica Este artigo é parte de conclusão de curso de Giulia de Miranda Taglialegna, Milena Máximo de Freitas e Larissa Mayara Aristóteles de Albuquerque pelo Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira. 1. Kamel H, Roman MJ, Pitcher A, Devereux RB. et al. Pregnancy and the risk of aortic dissection or rupture: a Cohort-Crossover Analysis. Circulation. 2016; 134(7):527-33. 2. Sawlani N, Shroff A, Vidovich MI. Aortic dissection and mortality associated withpregnancy intheUnitedStates. JAmCollCardiol.2015;65(15):1600-1. 3. Zhu JM,MaWG,PetersS,WangLF,ChiaoZY,ZiganashinBA,etal.Dissection in pregnancy: management strategy and outcomes. Ann Thorac Surg. 2017;103(4):1199-206. 4. Kamalakannan D, Rosman HS, Eagle KA. Acute aortic dissection. Crit Care Clin. 2007;23(4):779-800. 5. Braverman AC, Harris K, Pyeritz R. Aortic dissection during pregnancy: results from the International Registry of Acute Aortic Dissection (IRAD). J Am Coll Cardiol. 2012; 59:E1903. 6. 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