ABC | Volume 112, Nº2, Fevereiro 2019

Correlação Anatomoclínica Favaratto & Aiello Insuficiência cardíaca no pós-operatório de correção cirúrgica de dissecção aórtica Arq Bras Cardiol. 2019; 112(2):204-210 O exame laboratorial do dia 12 de agosto revelou queda da hemoglobina para 7,7 g/dL e sem sangramento evidente, e foi solicitada endoscopia digestiva alta, a qual não revelou alterações. A ultrassonografia comDoppler de membros inferiores por suspeita de tromboembolismo pulmonar (disfunção recente de VD), não revelou sinais de trombose. Realizou tomografia de tórax que identificou consolidação pequena em base direita, com derrame pleural à direita. Evoluiu com choque refratário, apesar do uso de antibióticos. O derrame pleural à direita foi puncionado sendo caracterizado transudato. Todas as hemoculturas e uroculaturas foram negativas. Necessitou de intubação orotraqueal para suporte ventilatório no dia 29 agosto de 2012, evoluindo com necessidade crescente de noradrenalina, e os antibióticos foram substituídos por daptomicina, micafungina, rifampicina. A reavaliação laboratorial (04 setembro de 2012) revelou: hemoglobina 10g/dL, hematócrito 33%, leucócitos 5.450/mm³ (neutrófilos 85%, linfócitos 10% e monócitos 5%), plaquetas 313.000/mm³, Proteína C reativa 221,38 mg/L, ureia 44 mg/dL, creatinina 2,21 mg/dL, fósforo 2,2 mg/dL, magnésio 1,6 mEq/L, O paciente continuou em choque e faleceu (04 setembro de 2012). Aspectos clínicos Trata-se de paciente masculino, que apresentou quadro de dissecção de aorta ascendente, e que mesmo após cirurgia de correção da dissecção evoluiu com quadro de insuficiência cardíaca grave e faleceu. O Registro Internacional da Dissecção Aguda de Aorta encontrou em pacientes de disseção de aorta ascendente idade superior ao do paciente, 61 anos; a maioria do sexo masculino (63%). Quanto às doenças relacionadas à dissecção foram: síndrome de Marfan (6,7%), hipertensão (69,3%), aterosclerose (24,4%), aneurisma de aorta previamente conhecido (12,4%), dissecção aórtica prévia (3,9%) e diabetes mellitus (4,3%). Ainda, 15,9% tinham história de cirurgia cardíaca prévia e causa iatrogênica em 4,8% (1,7% cinecoronariografias e 3,1% após cirurgia cardíaca). 1 A atualização de 2015 do mesmo registro com número dez vezes maior de pacientes, mostrou aumento da hipertensão arterial (75,5%) e queda da presença de Marfan (4,5%), aterosclerose (19,6%) e cirurgia cardíaca prévia (10,6%). 2 Testes genéticos podem ser feitos na presença de aneurisma de aorta em pacientes mais jovens. As síndromes relacionadas ao aneurisma de aorta são as síndromes de Marfan, de Loeys‑Dietz, Ehler-Danlos, da cútis laxa e aquela relacionada a defeito do fator de crescimento transformador beta (TGF β ). Classicamente as alterações genéticas encontradas na síndrome de Marfan estão relacionadas ao gene da fibrilina-1. 3 As alterações ao exame físico envolvem alterações oculares (miopia, ectopia lentis, e risco de descolamento de retina), esqueléticas (crescimento exagerado e frouxidão de articulações, crescimento exagerado das extremidades) e alterações cardiovasculares (dilatação de aorta ao nível dos seios de Valsalva, predispondo à dissecção). No caso atual não temos descrição dessas alterações fenotípicas que possam sugerir tal diagnóstico. A síndrome de Loeys-Dietz inclui várias manifestações semelhantes àquelas da Síndrome de Marfan, contudo incluem-se hipertelorismo, úvula larga ou bífida, fenda palatina e tortuosidade arterial generalizada, aneurismas e dissecção arterial. Geralmente não tem aumento de extremidades e alterações oculares. 4 Como para a síndrome de Marfan, não temos no presente caso evidências que sugiram tal diagnóstico. A síndrome de Ehler-Danlos caracteriza-se por fragilidade do tecido conetivo e as manifestações ocorrem na pele Figura 3 – Aortografia. Aneurisma de aorta ascendente com dissecção e cateter na luz verdadeira. 206

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