ABC | Volume 112, Nº2, Fevereiro 2019

Artigo de Revisão Fontes-Carvalho et al O ano de 2018 em cardiologia: ABC cardiol e RPC em resumo Arq Bras Cardiol. 2019; 112(2):193-200 devido à regurgitação neo-aórtica associada à dilatação da aorta fosse de apenas 1,5%, todos em pacientes do grupo de TGA de maior complexidade. Assim, este estudo mostrou que, apesar da baixa incidência de reoperação após a cirurgia de Jatene, esses pacientes necessitam de vigilância rigorosa devido ao fenômeno tempo-dependente, e um dos principais fatores de risco para regurgitação valvar neo-aórtica foi o diâmetro da artéria pulmonar pré-operatória. Função cardíaca, capacidade de exercício e insuficiência cardíaca Vários estudos demonstraram que o tamanho e a função do átrio esquerdo (AE) são importantes preditores de eventos cardiovasculares em diversos contextos clínicos e podem estar envolvidos na progressão para insuficiência cardíaca. 53-55 Em outro artigo interessante publicado na Rev Port Cardiol, Fontes‑Carvalho et al. 56 avaliaram, em 94 pacientes após IAM, o papel de diferentes índices de função do AE, avaliados pelo speckle tracking, como determinantes da capacidade de exercício pelo teste de exercício cardiopulmonar. Eles encontraram uma correlação significativa entre a capacidade de exercício e a função de condução do AE, mas não com a função contrátil deste. O strain longitudinal do AE tambémesteve associado compiores parâmetros de capacidade de exercício, sugerindo que este parâmetro ecocardiográfico pode ser usado para prever uma capacidade de exercício diminuída. Por fim, foi demonstrado que os parâmetros funcionais do AE eram interdependentes com a função diastólica do VE, mostrando a importância fisiopatológica do correto acoplamento atrioventricular. Portanto, este estudo destaca que, embora o AE tenha sido frequentemente visto como um “espectador” na regulação da função cardíaca, a disponibilidade de novos parâmetros ecocardiográficos para a avaliação do AE (como a avaliação de speckle tracking) mostrou sua utilidade clínica como importante marcador funcional e prognóstico em vários contextos clínicos, especialmente na insuficiência cardíaca (IC). 57 Pacientes com insuficiência cardíaca têm um risco significativo de eventos cardiovasculares. Portanto, vários estudos tentaram melhorar as ferramentas de estratificação de risco para prever hospitalizações por IC ou a necessidade de transplante cardíaco. O escore mais comumente utilizado é o Seattle Heart Failure Model (SHFM), baseado em 24 variáveis clínicas. 58 Outras pontuações também estão disponíveis, 59 mas há uma necessidade contínua de melhorar a estratificação de risco na IC. Na edição de fevereiro da Rev Port Cardiol, Pereira‑da-Silva demonstrou que a inclinação VE/VCO2, obtida do teste de exercício cardiopulmonar (TECP), pode ser um bom preditor de eventos em pacientes com IC com FE reduzida (<40%). Embora a maioria dos estudos anteriores tenha avaliado o papel do pico de VO2 como marcador prognóstico, sabe-se que a inclinação VE/VCO2 é um parâmetro particularmente interessante, pois reflete a eficiência ventilatória e é independente do nível de esforço do paciente. 60 Os autores identificaram um limiar de inclinação de VE/VCO2 > 39 como um excelente marcador de pior desfecho, com um valor na estatística-c de 0,79. No entanto, é comum dizer que “na Medicina não há números mágicos”. Isto é especialmente verdadeiro na seleção de pacientes com IC para transplante cardíaco, onde a decisão clínica individual requer uma abordagem baseada em equipe, com extensa experiência clínica e uma abordagem multiparamétrica. No entanto, este interessante estudo destaca a importância de integrar as informações fornecidas pelo TECP, especialmente do VE/VCO2, como outro importante parâmetro clínico para estratificar melhor esses pacientes. O treinamento físico induz adaptações cardiovasculares secundárias a alterações na pressão arterial, bem como outras alterações hemodinâmicas emetabólicas em resposta ao esforço físico, que são na maioria das vezes desejadas pelo cardiologista. Rodrigues et al. 61 verificaram os efeitos do treinamento físico aeróbico na contratilidade e nos transientes intracelulares de cálcio (Ca2+) de cardiomiócitos e na expressão do microRNA 214 (miR-214) no ventrículo esquerdo de ratos espontaneamente hipertensos (REH). Eles demonstraram que o treinamento físico reduziu a pressão arterial sistólica em ratos hipertensos e aumentou a disponibilidade de Ca2+ intracelular ao acelerar o sequestro desses íons nos miócitos do ventrículo esquerdo de ratos hipertensos, apesar do aumento da expressão de miR-214 e manutenção da contratilidade celular. Este estudo confirmou os efeitos anti-hipertensivos do exercício aeróbico, como já relatado anteriormente. Mas qualquer nível de exercício será benéfico para todos? Silva et al. 62 hipotetizaramque atletas praticantes de treinamento de força de alta intensidade por longos períodos apresentam alterações na estrutura cardíaca associadas à função cardíaca reduzida quando comparados com corredores de longa distância, e a exposição prolongada ao treinamento de força de alta intensidade poderia levar a uma redução da função endotelial causada pela sobrecarga de pressão. Eles avaliaram40 atletas de alto rendimento (levantadores de peso [LP], n = 16; corredores [GP], n = 24) e analisaram a estrutura e função do coração realizando ecocardiograma e verificando a pressão arterial sistólica e diastólica (PAS/PAD), dilatação mediada pelo fluxo (DMF), resistência vascular periférica (RVP), força máxima (agachamento, supino e terra) e consumo máximo de oxigênio (espirometria). Os autores concluíram que as adaptações cardiovasculares são dependentes damodalidade de treinamento e que as alterações cardíacas estruturais limítrofes não são acompanhadas de prejuízo da função ventricular em levantadores de peso. No entanto, um leve aumento na pressão arterial parece estar relacionado à RVP, e não à função endotelial. Conclusões Esperamos que esta revisão do melhor em Cardiologia e Ciência Cardiovascular publicado emPortuguês por 2 periódicos importantes possa ajudar nossos leitores a atualizarem seus conhecimentos em um formato fácil e agradável e, ainda mais, entusiasmarem-se e interessarem-se em aprofundar a leitura dos artigos publicados no ano passado em sua área de especialização. As áreas específicas cobertas por esta revisão incluíram doença arterial coronariana, arritmias, prevenção e epidemiologia de doenças cardiovasculares, cardiomiopatia e cardiopatia valvar e, finalmente, função cardíaca, exercício e insuficiência cardíaca. Artigos publicados em todos esses campos demonstraram importante inovação, informação nova e original, com efeito direto no manejo clínico do paciente, e também novos insights para melhor compreensão do processo 198

RkJQdWJsaXNoZXIy MjM4Mjg=